Friday, November 30, 2007
Life chance politics
...ou porque é que a luta contra a pobreza infantil deve ser a primeira prioridade política de luta contra as desigualdades. Quanto mais tarde agirmos sobre elas, mais ineficiente e mais caro será. A pobreza infantil determina em larguíssima medida as oportunidades de vida dos futuros adultos, e isto é resultado de algo profundamente arbitrário: o resultado de se nascer numa família pobre e não numa rica.
Até a direita não-libertária (i.e., aquela que acha que existe mundo para além dos livros de filosofia política que reconfortam a sua predisposição para elevar o egoísmo e a indiferença a nobres ideais morais) concordaria que as crianças não devem ser injustamente prejudicadas por algo - a condição económica da sua família - que não é da sua responsabilidade.
A Fabian Society propõe a ideia/conceito/slogan de life chances como o leitmotiv polític central do terceiro mandato do New Labour, que se propõe acabar com a pobreza infantil no Reino Unido até 2020. Para quem está na cauda da tabela europeia, só suplantada pelos países mediterrânicos, este é uma meta complicada. Mas é provavelmente o melhor investimento que o país pode fazer. E a mesma mensagem serve, ceteris paribus, para Portugal.
P.S. - Uma boa parte deste investimento faz-se através da educação. Por isso é que em vez de, na sua luta contra os NEET (jovens "not in education, employment or training"), em vez de os ameaçar com a ida ao tribunal e respectiva multa (ver post anterior), os jovens deviam ser convencidos e incentivos e não compelidos, sob ameaça, a ficar na escola. Nem que o governo lhes tenha, para isso, que pagar (juntamente com as empresas, por exemplo, se se tratar de estágios). Ninguém disse que o investimento saia barato.
Um caminho perigoso
Queremos mesmo começar a multar os alunos que faltem às aulas durante a escolaridade obrigatória? É nestas coisas que provavelmente a pior face do New Labour, a punitiva, vem ao de cima. Por cá, estas medidas seriam - se o fossem, a este nível - propostas pelo CDS-PP.
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Uma questão importante...
...neste post do Zèd. Depois talvez escreva mais longamente sobre isto aqui, a partir do comentário que lá fiz.
Thursday, November 29, 2007
Muito exigente deve ser o nosso ensino, de facto
Lido num take da 'Lusa':
Portugal único país desenvolvido com taxa de repetentes a atingir 10 por cento nos primeiros ciclos - UNESCO
Portugal é o único país desenvolvido onde a taxa de alunos repetentes no primeiro e segundo ciclos atinge os 10 por cento, de acordo com dados da UNESCO divulgados hoje.
Segundo o relatório anual "Educação para todos" da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), um em cada dez alunos portugueses (10,2 por cento) a frequentar a antiga primária e o 2º ciclo chumbaram e estão a repetir o ano de escolaridade.
Em Espanha e na Alemanha estes valores situam-se nos 2,3 e 1,4 por cento, respectivamente, enquanto em países como Finlândia, Grécia, Irlanda e Itália a taxa não atinge sequer um por cento.
Isto é o resultado do que se chama cultura da retenção.
Portugal único país desenvolvido com taxa de repetentes a atingir 10 por cento nos primeiros ciclos - UNESCO
Portugal é o único país desenvolvido onde a taxa de alunos repetentes no primeiro e segundo ciclos atinge os 10 por cento, de acordo com dados da UNESCO divulgados hoje.
Segundo o relatório anual "Educação para todos" da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), um em cada dez alunos portugueses (10,2 por cento) a frequentar a antiga primária e o 2º ciclo chumbaram e estão a repetir o ano de escolaridade.
Em Espanha e na Alemanha estes valores situam-se nos 2,3 e 1,4 por cento, respectivamente, enquanto em países como Finlândia, Grécia, Irlanda e Itália a taxa não atinge sequer um por cento.
Isto é o resultado do que se chama cultura da retenção.
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Calexico / Iron & Wine
O tema chama-se 'He Lays In The Reins', faixa que dá ao título ao EP de 2005. Para saber mais, basta consultar a página dos 'Iron and Wine' aqui.
Tolerância dos cidadãos às desigualdades
Os dados já são antigos, na maioria com cerca de 20 anos, oriundos do International Social Survey Program* (mas as atitudes e opiniões das pessoas não mudam rapidamente nestas questões, e o grau de consistência ao longo de tempo é assinálavel), mas mostram a diferente tolerância das populações de 8 países em relação às desigualdades salariais (a partir da resposta à pergunta «quanto acha é que o ---- devia ganhar?»). A base 100 corresponde ao salário de um operário fabril pouco qualificado. Vemos como em países como a Noruega ou a Suécia a diferença máxima aceitável entre o operário e um gestor de uma grande empresa é inferior a 2 vezes e meia, no EUA as pessoas aceitam que este último ganhe mais de 11 vezes o salário do operário! Dos países europeus, é a Alemanha que mais se aproxima - apesar da enorme distância - da tolerância dos norte-americanos às desigualdades.
* Quadro retirado de Stefan Svallfors, "Worlds of Welfare and Attitudes to Redistribution: A Comparison of Eight Western Nations", in "European Sociological Review", 13 (3), 1997, pp.283-304.
As baixas desigualdades salariais como um bem público
Alemanha
Altos salários de gestores podem pôr em causa paz social - Presidente
2007-11-28, 23h44
Berlim, 28 Nov (Lusa) - O presidente alemão, Horst Koehler, acusou hoje os gestores das grandes empresas do país de estarem a pôr em causa a paz social, ao fazerem com que os seus salários aumentem acima da média dos restantes trabalhadores.
"Existe um sentimento compreensível no seio da sociedade de que qualquer coisa não vai bem quando o rendimento de uns conhece fortes aumentos, enquanto que o dos outros estagna", afirma o chefe de Estado alemão em entrevista a ser publicada quinta-feira no influente diário económico Handelsbatt.
O resultado desta prática, afirma o ex-director do Fundo Monetário Internacional, é "uma alienação crescente entre empresários e sociedade".
Koehler apela a que os accionistas e conselhos de administração assegurem que os gestores "não percam a noção da proporção" nas suas "pretensões salariais".
A Alemanha, afirma, precisa de que os dirigentes empresariais "adoptem uma cultura de moderação e dêem o exemplo" aos restantes quadrantes sociais.
Dados recentemente publicados pelo Ministério do Trabalho alemão indicam que, entre 2000 e 2006, os resultados das empresas aumentaram 42 por cento, enquanto que os salários cresceram apenas 4,5 por cento.
Altos salários de gestores podem pôr em causa paz social - Presidente
2007-11-28, 23h44
Berlim, 28 Nov (Lusa) - O presidente alemão, Horst Koehler, acusou hoje os gestores das grandes empresas do país de estarem a pôr em causa a paz social, ao fazerem com que os seus salários aumentem acima da média dos restantes trabalhadores.
"Existe um sentimento compreensível no seio da sociedade de que qualquer coisa não vai bem quando o rendimento de uns conhece fortes aumentos, enquanto que o dos outros estagna", afirma o chefe de Estado alemão em entrevista a ser publicada quinta-feira no influente diário económico Handelsbatt.
O resultado desta prática, afirma o ex-director do Fundo Monetário Internacional, é "uma alienação crescente entre empresários e sociedade".
Koehler apela a que os accionistas e conselhos de administração assegurem que os gestores "não percam a noção da proporção" nas suas "pretensões salariais".
A Alemanha, afirma, precisa de que os dirigentes empresariais "adoptem uma cultura de moderação e dêem o exemplo" aos restantes quadrantes sociais.
Dados recentemente publicados pelo Ministério do Trabalho alemão indicam que, entre 2000 e 2006, os resultados das empresas aumentaram 42 por cento, enquanto que os salários cresceram apenas 4,5 por cento.
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Wednesday, November 28, 2007
E esta?
Argentina
Empresa inaugura fábrica em prisão
2007-11-28, 00h54
Buenos Aires, 28 Nov (Lusa) - Uma empresa argentina inaugurou uma fábrica de processamento de pescado dentro de uma prisão na Argentina e que terá 25 presos como operários, que vão receber salário e todos os benefícios da segurança social.
O projecto é pioneiro no mundo e foi desenvolvido na unidade penal de Batán, próxima da cidade de Mar del Plata, a 420 quilómetros da capital argentina.
A fábrica, que ocupa cerca de 200 metros quadrados dentro da prisão e dá trabalho remunerado, com direito à segurança social, a 25 presos, está, no entanto, projectada para um total de 300, explicou o director do Serviço Penitenciário da região de Buenos Aires, Fernando Díaz.
A empresa Infood S.A., que dinamiza o projecto, é local e indicou que a sua iniciativa tem como objectivo a reinserção dos presos na sociedade e assinalou que a fábrica não funcionará como uma cooperativa mas sim como uma pequena e média empresa.
A construção do espaço também esteve a cargo dos reclusos que receberam pelo trabalho e levou ao investimento por parte da empresa de cerca de cem mil euros.
A selecção dos presos teve como critérios, numa primeira fase, a conduta e, numa segunda, os conhecimentos dos reclusos em relação aos trabalhos que iam desempenhar na fábrica.
Empresa inaugura fábrica em prisão
2007-11-28, 00h54
Buenos Aires, 28 Nov (Lusa) - Uma empresa argentina inaugurou uma fábrica de processamento de pescado dentro de uma prisão na Argentina e que terá 25 presos como operários, que vão receber salário e todos os benefícios da segurança social.
O projecto é pioneiro no mundo e foi desenvolvido na unidade penal de Batán, próxima da cidade de Mar del Plata, a 420 quilómetros da capital argentina.
A fábrica, que ocupa cerca de 200 metros quadrados dentro da prisão e dá trabalho remunerado, com direito à segurança social, a 25 presos, está, no entanto, projectada para um total de 300, explicou o director do Serviço Penitenciário da região de Buenos Aires, Fernando Díaz.
A empresa Infood S.A., que dinamiza o projecto, é local e indicou que a sua iniciativa tem como objectivo a reinserção dos presos na sociedade e assinalou que a fábrica não funcionará como uma cooperativa mas sim como uma pequena e média empresa.
A construção do espaço também esteve a cargo dos reclusos que receberam pelo trabalho e levou ao investimento por parte da empresa de cerca de cem mil euros.
A selecção dos presos teve como critérios, numa primeira fase, a conduta e, numa segunda, os conhecimentos dos reclusos em relação aos trabalhos que iam desempenhar na fábrica.
Tuesday, November 27, 2007
O regresso dos The Devastations
É o regresso da banda australiana, com o 3º trabalho, 'Yes, U', editado em Setembro passado (que já passou por Lisboa, em Fevereiro passado, no Santiago Alquimista). Aqui fica uma versão ao vivo de um dos temas, 'Rosa'.
Entretanto, ficam na lista de músicas aqui em baixo as faixas do primeiro álbum da banda, intitulado "The Devastations" (2004).
Entretanto, ficam na lista de músicas aqui em baixo as faixas do primeiro álbum da banda, intitulado "The Devastations" (2004).
Monday, November 26, 2007
Quadro Europeu de Qualificações: uma revolução silenciosa?
Hoje foi apresentado em Lisboa o Quadro Europeu de Qualificações [QEQ] (texto aprovado pelo Parlamento Europeu aqui). Parece mais um documento chato para entreter os burocratas de Bruxelas, mas não é: é algo que pode, a prazo, causar grandes mudanças na forma como as pessoas organizam a sua vida na Europa. Depois, com mais tempo, escrevo mais sobre isto, mas o QEQ trata-se basicamente de uma grelha de tradução das qualificações obtidas por um cidadão num qualquer país da UE, que sabe que a sua qualificação será reconhecida como válida e como tendo o mesmo valor que tem no país de origem. Claro, Bolonha já fazia isso para o ensino superior, mas o QEQ alarga isto a todas as qualificações de todos os níveis de ensino - e mesmo as obtidas pelo reconhecimento de competências obtidas por via não-formal ou informal.
Foram criados oito níveis de qualificações que pressupõem uma correspondência a um conjunto de 'conhecimentos', 'aptidões' e 'competências' (ver nos 3 quadros).
A prazo, isto pode revolucionar o mercado de trabalho. Ao contrário do que acontece nos EUA (e esta é uma vantagem comparativa pouco lembrada, mas que joga de facto a favor do caso americano ao nível da mobilidade e competitividade interna), onde as barreiras linguisticas e culturais são muito reduzidas e onde a mobilidade profissional das pessoas é ampla, na Europa a situação é muito diferente, e a maioria das pessoas não tem qualquer oportunidade de procurar emprego longe do sítio onde vivei ou obteve alguma qualificação/experiência profissional. Quando muito, a maioria das mudanças dão-se no interior do mesmo país. A criação do QEQ procura mudar um pouco isto.
Do ponto de vista colectivo (e económico), a existência de barreiras à mobilidade do género que existe na Europa não é conducente a uma maior eficácia no uso dos recursos humanos; esta unificação do mercado de qualificações aumenta em teoria, por isso, a competitividade e a qualidade dos produtos e serviços.
Do ponto de vista individual, abre oportunidades a quem queira aventurar-se num outro país sem ter que sofrer uma imediata discriminação ao nível das qualificações de que é portador. Assim, por exemplo, uma pessoa com uma qualificaçao do nível 5 em Portugal é uma pessoa com qualificação do nível 5 na Áustria - se Portugal e Áustria alinharem o seu quadro de qualificações nacional pelo europeu (o que não completamente garantido, dado que o QEQ é de adopção voluntária; mas Bolonha também era e generalizou-se mais ou menos rapidamente; e Portugal é dos países que mais tem feito nos últimos tempos por avançar neste processo, e o Quadro Nacional de Qualificações, já aprovado em Conselho de Ministros, está em discussão pública). Isto, logicamente, reduz as discriminações e, simetricamente, as situações de protecção/privilégio (altamente injustos, porque determinados pelo acaso de uma pessoa nascer no país Y ou Z).
Há outras dimensões muito importantes de todo este processo, que tem que ser compreendido numa lógica de aprendizagem ao longo da vida - devidamente consagrada no 'Programa para a Aprendizagem ao Longo da Vida' (2007-2013) lançado pela presidência alemã no primeiro semestre de 2007, e que corresponde a um real descentrar da escola como único dispositivo institucional onde é possível alguém 'aprender' e 'qualificar-se'. A este fim de um certo 'escolocentrismo' corresponde, em compensação, um ênfase muito maior no que as pessoas sabem fazer ou conhecem (nos resultados), independentemente de onde aprenderam/fizeram o curso (a 'fama' das instituições).
Depois volto a esta temática.
Mas isto são boas notícias. Estão lançadas as bases para que, no futuro, se avaliem progressivamente as pessoas, os seus percursos e as suas capacidades menos em função de características particularistas - que tantas vezes alimentam perversos privilégios de status -, e mais pelo que são capazes e pelo que é universamente reconhecido: um passo em frente naquilo a que os sociólogos chamam 'modernidade'.
Foram criados oito níveis de qualificações que pressupõem uma correspondência a um conjunto de 'conhecimentos', 'aptidões' e 'competências' (ver nos 3 quadros).
A prazo, isto pode revolucionar o mercado de trabalho. Ao contrário do que acontece nos EUA (e esta é uma vantagem comparativa pouco lembrada, mas que joga de facto a favor do caso americano ao nível da mobilidade e competitividade interna), onde as barreiras linguisticas e culturais são muito reduzidas e onde a mobilidade profissional das pessoas é ampla, na Europa a situação é muito diferente, e a maioria das pessoas não tem qualquer oportunidade de procurar emprego longe do sítio onde vivei ou obteve alguma qualificação/experiência profissional. Quando muito, a maioria das mudanças dão-se no interior do mesmo país. A criação do QEQ procura mudar um pouco isto.
Do ponto de vista colectivo (e económico), a existência de barreiras à mobilidade do género que existe na Europa não é conducente a uma maior eficácia no uso dos recursos humanos; esta unificação do mercado de qualificações aumenta em teoria, por isso, a competitividade e a qualidade dos produtos e serviços.
Do ponto de vista individual, abre oportunidades a quem queira aventurar-se num outro país sem ter que sofrer uma imediata discriminação ao nível das qualificações de que é portador. Assim, por exemplo, uma pessoa com uma qualificaçao do nível 5 em Portugal é uma pessoa com qualificação do nível 5 na Áustria - se Portugal e Áustria alinharem o seu quadro de qualificações nacional pelo europeu (o que não completamente garantido, dado que o QEQ é de adopção voluntária; mas Bolonha também era e generalizou-se mais ou menos rapidamente; e Portugal é dos países que mais tem feito nos últimos tempos por avançar neste processo, e o Quadro Nacional de Qualificações, já aprovado em Conselho de Ministros, está em discussão pública). Isto, logicamente, reduz as discriminações e, simetricamente, as situações de protecção/privilégio (altamente injustos, porque determinados pelo acaso de uma pessoa nascer no país Y ou Z).
Há outras dimensões muito importantes de todo este processo, que tem que ser compreendido numa lógica de aprendizagem ao longo da vida - devidamente consagrada no 'Programa para a Aprendizagem ao Longo da Vida' (2007-2013) lançado pela presidência alemã no primeiro semestre de 2007, e que corresponde a um real descentrar da escola como único dispositivo institucional onde é possível alguém 'aprender' e 'qualificar-se'. A este fim de um certo 'escolocentrismo' corresponde, em compensação, um ênfase muito maior no que as pessoas sabem fazer ou conhecem (nos resultados), independentemente de onde aprenderam/fizeram o curso (a 'fama' das instituições).
Depois volto a esta temática.
Mas isto são boas notícias. Estão lançadas as bases para que, no futuro, se avaliem progressivamente as pessoas, os seus percursos e as suas capacidades menos em função de características particularistas - que tantas vezes alimentam perversos privilégios de status -, e mais pelo que são capazes e pelo que é universamente reconhecido: um passo em frente naquilo a que os sociólogos chamam 'modernidade'.
Top 5
Ora então para dar seguimento à cadeia (a ordem dos filmes é arbitrária):
Eyes Wide Shut (1999), de Stanley Kubrick
Dogville (2003), de Lars von Trier
A Vida dos Outros (2006), de Florian Henckel von Donnersmarck
Pallombela Rossa (1989), de Nanni Moretti
Good Bye Lenin (2003), Wolfgang Becker
Tirando o filme de Kubrick, chego à conclusão agora que são filmes bastante políticos. Eyes Wide Shut é uma história fantástica sobre a traição a sobre duplicidade dos desejos e das vidas.
Com pena minha, In the Mood for Love (2000), de Wong Kar Way, fica de fora, mas não há lugar para todos. E Woody Allen e Clint Eastwood e Pedro Almodovar que me desculpem. And so on.
Passo a cadeia aos seguintes blogues:
A Vez do Peão
Timshell
Avesso do Avesso
País do Burro
2 + 2 = 5
Eyes Wide Shut (1999), de Stanley Kubrick
Dogville (2003), de Lars von Trier
A Vida dos Outros (2006), de Florian Henckel von Donnersmarck
Pallombela Rossa (1989), de Nanni Moretti
Good Bye Lenin (2003), Wolfgang Becker
Tirando o filme de Kubrick, chego à conclusão agora que são filmes bastante políticos. Eyes Wide Shut é uma história fantástica sobre a traição a sobre duplicidade dos desejos e das vidas.
Com pena minha, In the Mood for Love (2000), de Wong Kar Way, fica de fora, mas não há lugar para todos. E Woody Allen e Clint Eastwood e Pedro Almodovar que me desculpem. And so on.
Passo a cadeia aos seguintes blogues:
A Vez do Peão
Timshell
Avesso do Avesso
País do Burro
2 + 2 = 5
Yaach!!
Bem sei que tenho um simpático repto do Mapa do Cais para nomear 5 filmes, imagino que daqueles que levaríamos para uma ilha deserta enquanto o dilúvio final não chega. Mas isso fica para amanhã. Agora é só mesmo para dizer que, depois de ver o bem Lynchiano "Eraserhead" - que estreou faz agora 30 anos e está em exibição no Nimas -, o comentário que assim de repente apetece fazer é que aquela narrativa delirante atinge seriamente qualquer desejo que possa subsistir no espectador de vir a ser pai/mãe.
Depois queixam-se das baixas taxas de fertilidade desta geração.
Depois queixam-se das baixas taxas de fertilidade desta geração.
Perplexidade sociológica de domingo à noite
Será que o movimento europeu de reconhecimento e validação de aprendizagens não-formais e informais, institucionalizado pelo Quadro Europeu das Qualificações - apresentado hoje em Lisboa -, vai acabar com a amplitude empírica do conceito de "conhecimento tácito"?
Wednesday, November 21, 2007
Um par de CDs
Da superioridade moral do socialismo
Ainda não completamente refeito do impacto desse exquisite documentário que é "Sicko", de Michael Moore - e que merece uma resenha mais alongada mais tarde -, para já só me apetece dizer isto: perante a propaganda produzida nos EUA contra a ideia de um sistema público e universal de saúde (sobre o que isso implicaria em termos da "estatização da medicina", etc.), entre as muitas inverdades e exageros que se dizem/escrevem, há uma coisa que é verdade, sim: um sistema público e universal de saúde é uma construção segundo princípios socialistas, onde vigora o princípio da igualdade independentemente dos rendimentos, qualificações, estatuto social, etc., e onde cada um paga em função das suas possibilidades e recebe cuidados em função das suas necessidades. Perante as situações hediondas que Moore mostra no filme (atenção: em todos os sistemas há situações hediondas - mas há uma enormíssima diferença entre a situação hedionda que viola profundamente os princípios do sistema (e que por isso deve ser corrigida), e a situação hedionda que decorre natural e inevitavelmente desses mesmos princípios), apetece mesmo dizer: não apenas um sistema público e universal concretiza princípios socialistas, como serve de clara demonstração do que noutros tempos se chamava, pomposamente, a "superioridade moral do socialismo". Já não há assim tantas instituições que consigam mostrar isto, mas esta é uma delas.
Tuesday, November 20, 2007
Sobre a política da retenção
Talvez muita gente fique escandalizada por causa disto. Mas convém lembrar que em Portugal é, se os dados comparativos servem para aprender alguma coisa, o país onde mais se usa o instrumento da retenção - que sabemos ser um primeiro passo para o abandono escolar (ver figura, primeira coluna "Taux de retard aux 14 ans", que mede precisamente a percentagem de alunos que nessa idade já repetiram pelo menos um ano - Portugal tem o valor mais elevado dos países europeus em comparação; dados provenientes rede Eurydice, 2003, reproduzidos em Marcel Crahay, Peut-on lutter contre l'échec scolarie?, Bruxelas, De Boeck & Larcier, 3ªedição, 2007, p.45).
Talvez muitos protestem contra a ideia "escandalosa" de promoção automática, mas a verdade é que a promoção automática está institutucionalizada em vários países europeus, em particular nos nórdicos, onde praticamente ninguém fica pelo caminho até ao fim da escolaridade obrigatória (9, 10 ou 11 anos, consoante os países). Estes sistemas não são facilitistas; os seus alunos estão geralmente muito bem classificados nos testes internacionais do PISA. A diferença é que estes sistemas estão organizados de forma a fazer tudo para manter os alunos na escola e recorrer à retenção só em casos excepcionais.
Talvez muitos protestem contra a ideia "escandalosa" de promoção automática, mas a verdade é que a promoção automática está institutucionalizada em vários países europeus, em particular nos nórdicos, onde praticamente ninguém fica pelo caminho até ao fim da escolaridade obrigatória (9, 10 ou 11 anos, consoante os países). Estes sistemas não são facilitistas; os seus alunos estão geralmente muito bem classificados nos testes internacionais do PISA. A diferença é que estes sistemas estão organizados de forma a fazer tudo para manter os alunos na escola e recorrer à retenção só em casos excepcionais.
Missão impossível
Carlos Oliveira: Mas e tu? Vês-te do lado da teoria feliz ou do lado moderno, com os desconcertados?
Peter Sloterdijk: Talvez queira o impossível, a modernidade e a felicidade ao mesmo tempo.
in Peter Sloterdijk, Ensaio sobre a Intoxicação Voluntária. Diálogos com Carlos Oliveira, Lisboa, Fenda (2001[original alemão de 1999, tradução de Cristina Peres]), p.39
Peter Sloterdijk: Talvez queira o impossível, a modernidade e a felicidade ao mesmo tempo.
in Peter Sloterdijk, Ensaio sobre a Intoxicação Voluntária. Diálogos com Carlos Oliveira, Lisboa, Fenda (2001[original alemão de 1999, tradução de Cristina Peres]), p.39
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Monday, November 19, 2007
Blue Monday
Os números de INE hoje publicitados pelo Diário Económico não são nada encorajadores, onde se lê que, de 2005 para cá, «houve uma destruição de 167 mil postos de trabalho com maiores qualificações – dirigentes e quadros superiores, profissionais intelectuais e científicos e técnicos de nível intermédio. Segundo o INE, eram 1,372 milhões de trabalhadores no primeiro trimestre de 2005, mas recuaram para 1,205 milhões no terceiro trimestre deste ano. Uma quebra de 12%, que fez diminuir este tipo de empregos de 27% para 23% do total».
Para quem pretende entrar de vez numa economia pós-industrial assente na inovação tecnológica e organizacional, e no uso intensivo de recursos humanos qualificados, este não é melhor caminho. Vivemos provavelmente os resquícios de uma época em que emprego qualificado estava excessivamente dependente da mão protectora do Estado, que, por questões orçamentais, não pode continuar a agir como no passado. A mudança deste padrão leva tempo, e depende de um ajuste particularmente complicado entre oferta e procura de emprego qualificado – sabendo-se que o investimento do sector privado em áreas onde a inovação tecnológica e/ou organizacional responde a níveis de exigência e requer níveis de enlightenment por parte dos investidores e/ou empregadores que são tudo menos naturais. É que é muito mais difícil montar uma empresa de biomateriais do que um café. A formação em gestão e o apoio do Estado através de programas especiais como objectivo de limitar os poderosos efeitos da incerteza de investimento nestas áreas são essenciais, mas os resultados são aqui tudo menos imediatos.
É importante também saber separar os fenómenos de conjuntura dos mais estruturais. Por exemplo, nos primeiros, se o desemprego entre licenciados subiu, é importante saber há quanto tempo estas pessoas estão desempregadas. Estar no desemprego ao fim de uns meses quando se procura o primeiro emprego é relativamente comum; e convém não menosprezar o efeito Bolonha, que fez com que mais pessoas completassem num curto espaço de tempo os seus cursos mais depressa do que seria previsível no início. No que toca aos segundos, é importante saber em que áreas é que o desemprego (ou a dificuldade de encontrar um primeiro emprego) é mais forte. É bem possível que o país não precise, nem vá precisar no futuro, de tantas pessoas formada em humanidades ou nas áreas eminentemente ligadas ao ensino; o upgrade tecno-económico requer indivíduos com qualificações na área das engenharias e das ciências. Falar de licenciados em abstracto só obscurece o fulcro do problema.
Para quem pretende entrar de vez numa economia pós-industrial assente na inovação tecnológica e organizacional, e no uso intensivo de recursos humanos qualificados, este não é melhor caminho. Vivemos provavelmente os resquícios de uma época em que emprego qualificado estava excessivamente dependente da mão protectora do Estado, que, por questões orçamentais, não pode continuar a agir como no passado. A mudança deste padrão leva tempo, e depende de um ajuste particularmente complicado entre oferta e procura de emprego qualificado – sabendo-se que o investimento do sector privado em áreas onde a inovação tecnológica e/ou organizacional responde a níveis de exigência e requer níveis de enlightenment por parte dos investidores e/ou empregadores que são tudo menos naturais. É que é muito mais difícil montar uma empresa de biomateriais do que um café. A formação em gestão e o apoio do Estado através de programas especiais como objectivo de limitar os poderosos efeitos da incerteza de investimento nestas áreas são essenciais, mas os resultados são aqui tudo menos imediatos.
É importante também saber separar os fenómenos de conjuntura dos mais estruturais. Por exemplo, nos primeiros, se o desemprego entre licenciados subiu, é importante saber há quanto tempo estas pessoas estão desempregadas. Estar no desemprego ao fim de uns meses quando se procura o primeiro emprego é relativamente comum; e convém não menosprezar o efeito Bolonha, que fez com que mais pessoas completassem num curto espaço de tempo os seus cursos mais depressa do que seria previsível no início. No que toca aos segundos, é importante saber em que áreas é que o desemprego (ou a dificuldade de encontrar um primeiro emprego) é mais forte. É bem possível que o país não precise, nem vá precisar no futuro, de tantas pessoas formada em humanidades ou nas áreas eminentemente ligadas ao ensino; o upgrade tecno-económico requer indivíduos com qualificações na área das engenharias e das ciências. Falar de licenciados em abstracto só obscurece o fulcro do problema.
He Lost Control
Control, filme sobre a curta e conturbada existência de Ian Curtis, vocalista dos Joy Division, está longe de ser uma obra-prima. Há qualquer coisa de trivialmente anti-aurático neste tipo de filmes que contam a história banal daquele que, por detrás da pop star amada por milhões, não deixa de ser um homem banal (ainda por cima, baseados na narrativa de alguém que é tudo menos um personagem neutral - o argumento é construído a partir do livro da sua viúva, Deborah Curtis (representada por Samantha Norton)).
Ian Curtis era um rapaz nascido e educado num pequena cidade perto da Manchester, Macclesfield, terra «grey and miserable», nas suas palavras, que escrevia poemas enquanto adolescente, expressava a sua rebeldia fumando no quarto a ouvir David Bowie e, filho de classe média-baxia - provavelmente filho de um honroso mas pouco qualificado civil servant, a avaliar pela casa, roupas e ethos corporal do pai -, tinha que roubar comprimidos contra a esquizofrenia da casa de banho da casa das velhas do bairro para explorar o mundo das drogas, em vez do LSD e da erva a que os seus mais privilegiados colegas da grammar school teriam acesso. Saiu da escola, casou-se por volta dos 20 anos, e foi trabalhar para um centro de emprego - não deixa de ser cómico o vocalista do Joy Division, qual dedicado street bureaucrat , ajudar os clientes do Estado social a encontrar emprego (o filme é generoso nesse aspecto, porque entre 1976 e 19780 o desemprego explodiu no Reino Unido, e Ian age sempre como se tivesse milhões de empregos para ajudar quem lhe aparecesse pela frente). Um dia, em troca das 400 libras que pede à mulher para alugar um estúdio para gravar o primeiro disco da banda, pergunta se não ela queria ter um filho.
A troca, mesmo que Maussiana, saiu cara a Ian. A sua vida doméstica nunca deixou se ser cinzenta e miserável como Macclesfield, e o nascimento da sua filha tornou tudo pior. E a sua epilepsia, que nunca fez por controlar (sempre ignorou os conselhos médicos), ia-lhe progressivamente retirando o controlo sobre a sua vida - que perdeu por completo quando se envolveu com uma funcionária da embaixada belga em Londres, Annik Honorek (representada pela actriz Maria Alexandra Lara). A partir daqui, é o evoluir trivial de um triângulo amoroso e da correspondente espiral de culpa, isolamento, e self-commiseration.
Uma vez que não conseguiu acabar com o dito triângulo, este acabou por levá-lo a por fim à vida. A 18 de Maio de 1980, na véspera de partir com a banda para a primeira grande digressão pelos EUA, Ian enforca-se, em plena cozinha, com a corda do estendal, onde secava a sua roupa interior. Sem honra nem glamour, Ian Curtis matou-se aos 23 anos.
Ficam as músicas, cujo significado começamos a perceber quando vemos as imagens cinzenta e miserável Macclesfield amarrado a uma cinzenta e miserável vida conjugal. Esta combinação, pelo menos, ajuda bastante a compreender a letra de "Love Will Tear Us Apart".
When routine bites hard, and ambitions are low
And resentment rides high, but emotions won't grow
And we're changing our ways, taking different roads
Then love, love will tear us apart again
Why is the bedroom so cold? You've turned away on your side
Is my timing that flawed - our respect run so dry?
Yet there's still this appeal that we've kept through our lives
Love, love will tear us apart again
You cry out in your sleep - all my failings expose
There's a taste in my mouth, as desperation takes hold
Just that something so good just can't function no more
When love, love will tear us apart again.
Ian Curtis era um rapaz nascido e educado num pequena cidade perto da Manchester, Macclesfield, terra «grey and miserable», nas suas palavras, que escrevia poemas enquanto adolescente, expressava a sua rebeldia fumando no quarto a ouvir David Bowie e, filho de classe média-baxia - provavelmente filho de um honroso mas pouco qualificado civil servant, a avaliar pela casa, roupas e ethos corporal do pai -, tinha que roubar comprimidos contra a esquizofrenia da casa de banho da casa das velhas do bairro para explorar o mundo das drogas, em vez do LSD e da erva a que os seus mais privilegiados colegas da grammar school teriam acesso. Saiu da escola, casou-se por volta dos 20 anos, e foi trabalhar para um centro de emprego - não deixa de ser cómico o vocalista do Joy Division, qual dedicado street bureaucrat , ajudar os clientes do Estado social a encontrar emprego (o filme é generoso nesse aspecto, porque entre 1976 e 19780 o desemprego explodiu no Reino Unido, e Ian age sempre como se tivesse milhões de empregos para ajudar quem lhe aparecesse pela frente). Um dia, em troca das 400 libras que pede à mulher para alugar um estúdio para gravar o primeiro disco da banda, pergunta se não ela queria ter um filho.
A troca, mesmo que Maussiana, saiu cara a Ian. A sua vida doméstica nunca deixou se ser cinzenta e miserável como Macclesfield, e o nascimento da sua filha tornou tudo pior. E a sua epilepsia, que nunca fez por controlar (sempre ignorou os conselhos médicos), ia-lhe progressivamente retirando o controlo sobre a sua vida - que perdeu por completo quando se envolveu com uma funcionária da embaixada belga em Londres, Annik Honorek (representada pela actriz Maria Alexandra Lara). A partir daqui, é o evoluir trivial de um triângulo amoroso e da correspondente espiral de culpa, isolamento, e self-commiseration.
Uma vez que não conseguiu acabar com o dito triângulo, este acabou por levá-lo a por fim à vida. A 18 de Maio de 1980, na véspera de partir com a banda para a primeira grande digressão pelos EUA, Ian enforca-se, em plena cozinha, com a corda do estendal, onde secava a sua roupa interior. Sem honra nem glamour, Ian Curtis matou-se aos 23 anos.
Ficam as músicas, cujo significado começamos a perceber quando vemos as imagens cinzenta e miserável Macclesfield amarrado a uma cinzenta e miserável vida conjugal. Esta combinação, pelo menos, ajuda bastante a compreender a letra de "Love Will Tear Us Apart".
When routine bites hard, and ambitions are low
And resentment rides high, but emotions won't grow
And we're changing our ways, taking different roads
Then love, love will tear us apart again
Why is the bedroom so cold? You've turned away on your side
Is my timing that flawed - our respect run so dry?
Yet there's still this appeal that we've kept through our lives
Love, love will tear us apart again
You cry out in your sleep - all my failings expose
There's a taste in my mouth, as desperation takes hold
Just that something so good just can't function no more
When love, love will tear us apart again.
Saturday, November 17, 2007
A improbabilidade da comunicação
"Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no facto de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente?"
Michel Foucault
A resposta é óbvia: a comunicação gera entropia. Quanto mais "comunicamos", maior a probabilidade de não nos entendermos, de sermos mal intepretados, de entrarmos no infinito círculo "não era bem isso que eu queria dizer".
Mas é esse o prazer da comunicação: jogar no espaço cinzento da indefinição ontológica do sentido, não apenas para o receptor, mas, e quiçá principalmente - algo tantas vezes esquecido ou subvalorizado -, para o emissor. «Às vezes compreendemos algo / entre a sombra e a sombra», escreve António Ramos Rosa. E muitas vezes a sombra é tanta que não compreendemos coisa nenhuma.
Os prazeres, claro, comportam riscos. Para quem escreve e para quem lê. Mas esse double bind faz parte das regras do jogo. Ou antes: é esse double bind que faz o jogo.
Por isso é que a blogosfera não devia ser tanto visto como um espaço de "comunicação" ou de "expressão". If anything, é um fantástico dispositivo de produção de entropia, uma máquina de fabricação de mal-entendidos. Mas só é enganado quem se deixa sê-lo.
Michel Foucault
A resposta é óbvia: a comunicação gera entropia. Quanto mais "comunicamos", maior a probabilidade de não nos entendermos, de sermos mal intepretados, de entrarmos no infinito círculo "não era bem isso que eu queria dizer".
Mas é esse o prazer da comunicação: jogar no espaço cinzento da indefinição ontológica do sentido, não apenas para o receptor, mas, e quiçá principalmente - algo tantas vezes esquecido ou subvalorizado -, para o emissor. «Às vezes compreendemos algo / entre a sombra e a sombra», escreve António Ramos Rosa. E muitas vezes a sombra é tanta que não compreendemos coisa nenhuma.
Os prazeres, claro, comportam riscos. Para quem escreve e para quem lê. Mas esse double bind faz parte das regras do jogo. Ou antes: é esse double bind que faz o jogo.
Por isso é que a blogosfera não devia ser tanto visto como um espaço de "comunicação" ou de "expressão". If anything, é um fantástico dispositivo de produção de entropia, uma máquina de fabricação de mal-entendidos. Mas só é enganado quem se deixa sê-lo.
Friday, November 16, 2007
Song
Don’t lie to me please
about anything big, about anything
else. I’d rather know what was destroyed
than have you lie
because that’s more destructive.
Don’t lie about love,
something you feel or something you’d
like to feel. I’d rather
be sad than have you lie
because that’s sadder.
Don’t lie about danger
because I know your fears
and if I don’t trust what I know
you’ll be a stranger
and that’s more dangerous.
Don’t lie to me about sickness,
I’d rather look into that pit
than lose myself in one
of your sweet placations
because I’d lose myself more.
Don’t lie to me about dying
because as long as we’re here
I find that blocked
unsharing of thoughts
worse and much more dead.
Judith Herzberg (1934-)
tradução de Shirley Kaufman e Judith Herzberg,
in But What: Selected Poems (Oberlin College Press, 1998)
about anything big, about anything
else. I’d rather know what was destroyed
than have you lie
because that’s more destructive.
Don’t lie about love,
something you feel or something you’d
like to feel. I’d rather
be sad than have you lie
because that’s sadder.
Don’t lie about danger
because I know your fears
and if I don’t trust what I know
you’ll be a stranger
and that’s more dangerous.
Don’t lie to me about sickness,
I’d rather look into that pit
than lose myself in one
of your sweet placations
because I’d lose myself more.
Don’t lie to me about dying
because as long as we’re here
I find that blocked
unsharing of thoughts
worse and much more dead.
Judith Herzberg (1934-)
tradução de Shirley Kaufman e Judith Herzberg,
in But What: Selected Poems (Oberlin College Press, 1998)
Wednesday, November 14, 2007
Tuesday, November 13, 2007
Diagnósticos para além das polémicas
«Southern European welfare states suffer from many of the same problems as the Continental family - especially in the labour market - but they also have their own specific traits. In Spain, Portugal and Greece and (to a lesser extent) Italy, the welfare state developed later than in northern Europe and has ad to cope with more difficult socio-economic enviroments. Social protection entered the age of permanent austerity on a state of institutional and financial underdevelopment and was beset by internal unbalances. The social transfer systems of these countries have peaks of generosity for certain occupational groups alongside large gaps of protection for certain others. Insiders and outsiders - both in the labour market and more general acess to benefits - are separated by a sharp divide in terms of guarantees and opportunities. The black economy is excessive, posing serious efficieny and equity problems. Public services are still unevenly distributed and, in some cases, insufficient and/or inefficient. These countries have thus been forced into shifting coverage, providing less generous benefits for insiders and - to the extent that budgetary constraints allow it - new benefits and services for the outsiders. The inherent difficulty of doing so is aggravated by a particularly adverse demography: southern European populations (especially those of Italy and Spain) are ageing at one of the fastest rates in the world». (e Portugal não fica muito atrás). (p.157)
Maurizio Ferrera, Anton Hemerijck e Martin Rhodes, "Recasting European welfare states", in Welfare Futures, editado por Stephen Liebfried (2001)
Uma proposta humilde
Já que se lembram de inventar mercados para tudo, até para a poluição, não há ninguém que pense em criar um mercado do sono? As pessoas que têm menos actividade (em sentido lato) e que não precisam de estar tanto tempo acordadas (e provavelmente até gostam bastante de dormir) podiam ceder - em troca de uma compensação monetária, claro está - alguma da energia aos que precisam dela e gostariam de dormir menos. Assim, eu vendia as horas que preciso de dormir - bom, pelo menos algumas - e comprava energia suficiente to carry on.
Podem rir-se. Quando daqui a muitas décadas a inovação tecnológica permitir semelhantes transferencias, vão ver que eu tinha razão. E o capitalismo terá transposto outra fronteira.
Podem rir-se. Quando daqui a muitas décadas a inovação tecnológica permitir semelhantes transferencias, vão ver que eu tinha razão. E o capitalismo terá transposto outra fronteira.
Monday, November 12, 2007
Blonde Redhead
Excelentes como cover band dos Interpol na quarta-feira passada, os nova-iorquinos Blonde Redhead, aqui com o single do último álbum com o mesmo nome: "23".
Jobless growth
Lido no "Público":
De acordo com as estimativas divulgadas pela Comissão Europeia na passada sexta-feira, a produtividade nacional - medida como o PIB por pessoa empregada - deverá crescer em 2007 a uma taxa de 1,5 por cento. Este resultado ultrapassa os 1,1 por cento esperados para a zona euro. É necessário recuar até 1999 para encontrar outro período em que a produtividade portuguesa tenha crescido mais rápido do que a dos seus parceiros da moeda única.A explicação para este brilharete não está, na sua maioria, na aceleração do produto em Portugal. O PIB português até volta este ano a crescer bastante menos que a média europeia. O que acontece é que Portugal está a conseguir produzir mais sem que os empregos cresçam ao mesmo ritmo. Isto significa, para além da manutenção de uma taxa de desemprego elevada, um ganho de produtividade de que beneficiam as empresas.
Isto quer dizer que algo de sério vai mal no mercado de trabalho, em particular no que diz respeito à protecção do emprego. Se determinados empregos são hiper-protegidos, quando vem a retoma, os empregadores preferem não contratar ninguém - e fazer os que ainda estão contratados trabalhar ainda mais, ou entao a "contratar" uma máquina. É por isso que o nosso mercado de trabalho nao pode continuar como está, porque assim não vai conseguir absorver desemprego em nenhuma escala decente - partindo do princípio que a retoma do crescimento está para ficar.
De acordo com as estimativas divulgadas pela Comissão Europeia na passada sexta-feira, a produtividade nacional - medida como o PIB por pessoa empregada - deverá crescer em 2007 a uma taxa de 1,5 por cento. Este resultado ultrapassa os 1,1 por cento esperados para a zona euro. É necessário recuar até 1999 para encontrar outro período em que a produtividade portuguesa tenha crescido mais rápido do que a dos seus parceiros da moeda única.A explicação para este brilharete não está, na sua maioria, na aceleração do produto em Portugal. O PIB português até volta este ano a crescer bastante menos que a média europeia. O que acontece é que Portugal está a conseguir produzir mais sem que os empregos cresçam ao mesmo ritmo. Isto significa, para além da manutenção de uma taxa de desemprego elevada, um ganho de produtividade de que beneficiam as empresas.
Isto quer dizer que algo de sério vai mal no mercado de trabalho, em particular no que diz respeito à protecção do emprego. Se determinados empregos são hiper-protegidos, quando vem a retoma, os empregadores preferem não contratar ninguém - e fazer os que ainda estão contratados trabalhar ainda mais, ou entao a "contratar" uma máquina. É por isso que o nosso mercado de trabalho nao pode continuar como está, porque assim não vai conseguir absorver desemprego em nenhuma escala decente - partindo do princípio que a retoma do crescimento está para ficar.
Thursday, November 8, 2007
Completely relaxed about people getting filthy rich
Tony Blair factura 341 000 € com algumas horas na China
O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair recebeu 500 mil dólares (341 mil euros) por uma curta deslocação de três horas a um condomínio de luxo na China, noticiou hoje a imprensa estatal chinesa.
Peter Mandelson disse uma vez, numa daquelas frases que traduzem bem o zeitgeist, que o New Labour estava «relaxed about people getting filthy rich». Ora pois.
O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair recebeu 500 mil dólares (341 mil euros) por uma curta deslocação de três horas a um condomínio de luxo na China, noticiou hoje a imprensa estatal chinesa.
Peter Mandelson disse uma vez, numa daquelas frases que traduzem bem o zeitgeist, que o New Labour estava «relaxed about people getting filthy rich». Ora pois.
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Depois da tragédia, a farsa
Venezuela
Chávez garante que "nada nem ninguém" travará o seu projecto de socialismo do século XXI
2007-11-08, 16h19
Caracas, 08 Nov (Lusa) - O presidente venezuelano, Hugo Chávez, garantiu hoje que "nada nem ninguém" o fará desviar do seu projecto de instaurar um regime de "socialismo do século XXI" no país, apesar da oposição à reforma constitucional
...que me faz lembrar uma história...
«Hegel remarks somewhere that all great world-historic facts and personages appear, so to speak, twice. He forgot to add: the first time as tragedy, the second time as farce.»
Karl Marx, The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte (1852)
Chávez garante que "nada nem ninguém" travará o seu projecto de socialismo do século XXI
2007-11-08, 16h19
Caracas, 08 Nov (Lusa) - O presidente venezuelano, Hugo Chávez, garantiu hoje que "nada nem ninguém" o fará desviar do seu projecto de instaurar um regime de "socialismo do século XXI" no país, apesar da oposição à reforma constitucional
...que me faz lembrar uma história...
«Hegel remarks somewhere that all great world-historic facts and personages appear, so to speak, twice. He forgot to add: the first time as tragedy, the second time as farce.»
Karl Marx, The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte (1852)
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Wednesday, November 7, 2007
Monday, November 5, 2007
Sunday, November 4, 2007
Friday, November 2, 2007
O aumento de Sarkozy
Parece que Sarkozy resolveu aumentar o seu salário em 140%: de 8400 euros/mês para 19330 euros/mês. O aumento é brutal, é verdade. De qualquer forma, 8400 era um valor ridículo, e 19330 coloca pelo menos a França na linha da norma europeia/internacional, pelo menos no que aos países mais ricos diz respeito (o primeiro-ministro irlandês Bertie Ahern ganha 25830 euros/mês e é o mais bem pago; G.W.Bush ganha 23000, sensivelmente o mesmo que Angela Merkel; Gordon Brown recebe 22470; Romano Prodi aufere 16370, e Fredrik Reinfeldt , o primeiro-ministro sueco, 13700). Talvez o aumento de Sarkozy caia mal publicamente, ainda por cima em clima de elevada conflitualidade sindical, mas os cargos políticos devem ter salários condignos. Caso contrário, só se atraem os medíocres - e uma política feita por medíocres dificilmente deixa de ser uma política medíocre.
A mesmíssima mensagem vale para Portugal. Um ministro ganha pouco mais de 4000 euros. Um professor auxiliar numa universidade nao ganhará muito menos; e um quadro de topo numa empresa pode ganhar mais, muito mais. Quando assim é, para quê vir para a política e entregar-se a uma missão de serviço público, quando se ganha mal e isso traz imensas chatices, do jornalismo incompetente à oposição demagógica, entre outras irracionalidades inerentes à vida das organizções e instituições?
A mesmíssima mensagem vale para Portugal. Um ministro ganha pouco mais de 4000 euros. Um professor auxiliar numa universidade nao ganhará muito menos; e um quadro de topo numa empresa pode ganhar mais, muito mais. Quando assim é, para quê vir para a política e entregar-se a uma missão de serviço público, quando se ganha mal e isso traz imensas chatices, do jornalismo incompetente à oposição demagógica, entre outras irracionalidades inerentes à vida das organizções e instituições?
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A descoberta da pólvora
"Dias difíceis para escolas públicas que são factor de desigualdade", diz o editorial do José Manuel Fernandes.
Obrigado, "Público", porque o resto das pessoas - aquele que nunca entra nas escolas, como o dito director gosta de moralizar sempre que pode - ainda não sabia que as escolas são factor de desigualdade. Estamos gratos por semelhante notícia, porque ainda nunca ninguém da tinha chegado a essa conclusão.
Resta dizer que as regras do sector privado, que o "Público" secretamente elogia, aumentariam ainda mais essa desigualdade e levariam a selecção a níveis estratosféricos. Porque é que José Manuel Fernandes não escreve isso?
Já sei. Se calhar ainda o acusavam de também ter descoberto a pólvora. E só se descobrem coisas como a pólvora uma vez.
Obrigado, "Público", porque o resto das pessoas - aquele que nunca entra nas escolas, como o dito director gosta de moralizar sempre que pode - ainda não sabia que as escolas são factor de desigualdade. Estamos gratos por semelhante notícia, porque ainda nunca ninguém da tinha chegado a essa conclusão.
Resta dizer que as regras do sector privado, que o "Público" secretamente elogia, aumentariam ainda mais essa desigualdade e levariam a selecção a níveis estratosféricos. Porque é que José Manuel Fernandes não escreve isso?
Já sei. Se calhar ainda o acusavam de também ter descoberto a pólvora. E só se descobrem coisas como a pólvora uma vez.
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