Tuesday, October 21, 2008
Virar de página
Este blogue chega aqui ao fim. Continuo a escrever regularmente no Pensamento do Meio-Dia e no País Relativo. Até lá.
Friday, July 18, 2008
Mitos
É um pouco cansativo ler na opinião publicada que hoje a violência (e a indisciplina - conceitos que surgem associados mas que se referem a comportamentos diferentes), em particular nos adolescentes e jovens adultos é maior do que no passado e que, claro, a culpa deste estado de coisas é o fim das 'tradições', da família, e do Estado social.
A coisa interessante é que nunca estas afirmações são acompanhadas de qualquer estudo ou elemento empírico - é como se o argumento fosse óbvio e auto-suficiente. Como afirma João Carlos Espada, «só não vê quem não quer ver». Ora, este argumento tem, feliz ou infelizmente (depende que lado da discussão ocupamos), a consistência da espuma. É que estas não coisas que se vejam à vista desarmada - ou como se o SIC ou a TVI fossem o espelho do mundo. E é preciso um bocadinho de mais atenção e rigor que não nos é dada pela leitura de autores financiados pelos think tanks da direita americana (que parecem achar que tudo o que se seguiu à Revolução Francesa foi péssimo).
A propósito da escola democrática e da educação para todos, também se diz que ela é responsável pelo "fim dos costumes", etc. Mas este argumento é falso. Para além do retorno salarial que o prolongamento da escolarização e a obtenção de qualificação permite, estão ganhos sociais que não se reduzem à esfera económica. Assim, há vários estudos* que permitem defender com solidez bastante que o prolongamento da escolarização reduz a probabilidade dos jovens cairem em trajectórias de delinquência. Funcionando melhor ou pior, a escola é um espaço de socialização e de civilização que abre ou fecha oportunidades de vida a quem a frequenta. E tende a fechá-las a quem a frequenta por pouco, ou menos tempo que os outros. Para olhar para a anomia moral que tanto preocupa certos intelectuais, talvez fosse instrutivo olhar para os elementares variáveis sócio-económicas, mais estruturas ou contextuais.
O problema nestas discussões é, como sempre, o da visibilidade (e o seu inverso, o da miopia dos opinadores). Dantes, a violência e as incivilidades ficavam fora da escola, e como não havia televisão - e sobretudo não havia a tabloidização da televisão, dado que hoje qualquer telejornal das 8 parece querer concorrer com o "24 Horas" em alarmismo e demagogia -, os tinham os seus filhos na escola e não na fábrica, na rua, ou na prisão, achavam, naturalmente, que a escola era um espaço de formaçao de gentlemen (depois vamos ler os testemunhos biográficos das pessoas que frequentaram escolas de elite - e até há bem poucas décadas, isto era um pleonasmo - e vemos como isto é outro grande mito, mas isso é outra questão).
As instituições, quando bem desenhadas e apoiadas politicamente - isto é, quando não activa ou passivamente sabotadas por quem não está interessado no seu bom funcionamento - funcionam.
Invocar a 'natureza humana' é uma má desculpa para a ausência de boas políticas que constróem instituições funcionais, e continuar a achar que resolvemos algum debate recorrendo, pela enésima, a Darwin, Comte ou Rousseau é facilitismo intelectual. Mas, lá está, o conservadorismo, nunca se deu bem com as ciências sociais.
* Ver, por exemplo, Lance Lochner e Enrico Moretti, «The effect of education on criminal activity: evidence from prison inmantes, arrests and self-reports», in American Economic Review, 94 (1), 2004.
A coisa interessante é que nunca estas afirmações são acompanhadas de qualquer estudo ou elemento empírico - é como se o argumento fosse óbvio e auto-suficiente. Como afirma João Carlos Espada, «só não vê quem não quer ver». Ora, este argumento tem, feliz ou infelizmente (depende que lado da discussão ocupamos), a consistência da espuma. É que estas não coisas que se vejam à vista desarmada - ou como se o SIC ou a TVI fossem o espelho do mundo. E é preciso um bocadinho de mais atenção e rigor que não nos é dada pela leitura de autores financiados pelos think tanks da direita americana (que parecem achar que tudo o que se seguiu à Revolução Francesa foi péssimo).
A propósito da escola democrática e da educação para todos, também se diz que ela é responsável pelo "fim dos costumes", etc. Mas este argumento é falso. Para além do retorno salarial que o prolongamento da escolarização e a obtenção de qualificação permite, estão ganhos sociais que não se reduzem à esfera económica. Assim, há vários estudos* que permitem defender com solidez bastante que o prolongamento da escolarização reduz a probabilidade dos jovens cairem em trajectórias de delinquência. Funcionando melhor ou pior, a escola é um espaço de socialização e de civilização que abre ou fecha oportunidades de vida a quem a frequenta. E tende a fechá-las a quem a frequenta por pouco, ou menos tempo que os outros. Para olhar para a anomia moral que tanto preocupa certos intelectuais, talvez fosse instrutivo olhar para os elementares variáveis sócio-económicas, mais estruturas ou contextuais.
O problema nestas discussões é, como sempre, o da visibilidade (e o seu inverso, o da miopia dos opinadores). Dantes, a violência e as incivilidades ficavam fora da escola, e como não havia televisão - e sobretudo não havia a tabloidização da televisão, dado que hoje qualquer telejornal das 8 parece querer concorrer com o "24 Horas" em alarmismo e demagogia -, os tinham os seus filhos na escola e não na fábrica, na rua, ou na prisão, achavam, naturalmente, que a escola era um espaço de formaçao de gentlemen (depois vamos ler os testemunhos biográficos das pessoas que frequentaram escolas de elite - e até há bem poucas décadas, isto era um pleonasmo - e vemos como isto é outro grande mito, mas isso é outra questão).
As instituições, quando bem desenhadas e apoiadas politicamente - isto é, quando não activa ou passivamente sabotadas por quem não está interessado no seu bom funcionamento - funcionam.
Invocar a 'natureza humana' é uma má desculpa para a ausência de boas políticas que constróem instituições funcionais, e continuar a achar que resolvemos algum debate recorrendo, pela enésima, a Darwin, Comte ou Rousseau é facilitismo intelectual. Mas, lá está, o conservadorismo, nunca se deu bem com as ciências sociais.
* Ver, por exemplo, Lance Lochner e Enrico Moretti, «The effect of education on criminal activity: evidence from prison inmantes, arrests and self-reports», in American Economic Review, 94 (1), 2004.
Thursday, July 17, 2008
"Toca a chumbá-los!"
Um dos títulos de primeira página do "Público" de hoje é um verdadeiro programa de política educativa:
«Exames estão mais difíceis mas ainda acessíveis».
Conclusão: só exames inacessíveis é que são bons!
Obrigado, mais uma vez, pela transparência ideológica.
«Exames estão mais difíceis mas ainda acessíveis».
Conclusão: só exames inacessíveis é que são bons!
Obrigado, mais uma vez, pela transparência ideológica.
Tuesday, July 15, 2008
Sobre o endividamento das gerações futuras e outras questões
Uma das máximas do nosso tempo parece ser esta: «não endividirás as gerações futuras».
(curiosamente, muitos dos que estão preocupados com a dívida pública e com as obras 'faraónicas' preferem ignorar o nosso legado ecológico.)
Este raciocínio é perigosa e injustamente míope. Esquece que a solidariedade intergeracional é uma estrada com dois sentidos. Por ela não viajam apenas aquilo que os nossos filhos vão ter que pagar, mas aquilo que lhes deixamos – e que eles não produziram, mas vão usufruir. Estamos habituados a pensar desta forma em relação às famílias, mas a mesma lógica também se aplica às sociedades/economias nacionais.
Para sermos mesmo rigorosos e quisermos que uma geração não pague as dívidas contraídas pela geração anterior, então temos de ser coerentes e impedir que ela usufrua da riqueza criada no passado. Assim, cada geração tinha que destruir tudo o que construiu/produziu para evitar que a geração seguinte usufruísse das auto-estradas, escolas, hospitais, bibliotecas, museus, descobertas e aplicações científicas, etc. que construiu.
Naturalmente, não devemos ignorar que as gerações futuras pagam sempre um custo de oportunidade: se as políticas que uma dada geração desenhou e implementou forem más e ruinosas, será a geração futura a pagar as suas consequências; se elas tivessem sido mais inteligentes e eficientes, a geração futura obterá os seus frutos. O problema é que aqui entramos numa lógica contrafactual mais complicada: e se tivéssemos feito X ou não Y?
Depois, há coisas que não se pagam. Por exemplo, a geração que nasceu imediatamente a seguir ao 25 de Abril (escreve-vos alguém que nasceu em 1976) beneficia de um bem público para o qual não fez nada para obter: um regime democrático.
(curiosamente, muitos dos que estão preocupados com a dívida pública e com as obras 'faraónicas' preferem ignorar o nosso legado ecológico.)
Este raciocínio é perigosa e injustamente míope. Esquece que a solidariedade intergeracional é uma estrada com dois sentidos. Por ela não viajam apenas aquilo que os nossos filhos vão ter que pagar, mas aquilo que lhes deixamos – e que eles não produziram, mas vão usufruir. Estamos habituados a pensar desta forma em relação às famílias, mas a mesma lógica também se aplica às sociedades/economias nacionais.
Para sermos mesmo rigorosos e quisermos que uma geração não pague as dívidas contraídas pela geração anterior, então temos de ser coerentes e impedir que ela usufrua da riqueza criada no passado. Assim, cada geração tinha que destruir tudo o que construiu/produziu para evitar que a geração seguinte usufruísse das auto-estradas, escolas, hospitais, bibliotecas, museus, descobertas e aplicações científicas, etc. que construiu.
Naturalmente, não devemos ignorar que as gerações futuras pagam sempre um custo de oportunidade: se as políticas que uma dada geração desenhou e implementou forem más e ruinosas, será a geração futura a pagar as suas consequências; se elas tivessem sido mais inteligentes e eficientes, a geração futura obterá os seus frutos. O problema é que aqui entramos numa lógica contrafactual mais complicada: e se tivéssemos feito X ou não Y?
Depois, há coisas que não se pagam. Por exemplo, a geração que nasceu imediatamente a seguir ao 25 de Abril (escreve-vos alguém que nasceu em 1976) beneficia de um bem público para o qual não fez nada para obter: um regime democrático.
Thursday, July 3, 2008
1929-1973
«Um dia adormecemos em 1929, no outro acordámos em 1973. Com os preços dos combustíveis e dos alimentos a subir», escreveu Rui Ramos no "Público" de ontem, quarta-feira.
Interessante visão da história. Interessante e muito selectiva. A minha preferida visão do que se passou entre 1929 e 1973 é mais ou menos esta.
Os quadros mostram a parcela de rendimento do decil mais rico num grupo de 6 países anglo-saxónicos e num grupo de 4 países europeus. Comparem os valores de 1929 com os de 1973.
Foi isto que se passou enquanto alguns andaram a dormir entre estas duas datas. Quando acordaram, procuraram imediatamente voltar para trás na história.
Os quadros estão disponíveis aqui, neste artigo de Anthony B.Atkinson e Thomas Piketty, "Towards a unified data set on top incomes", in Top Incomes Over the Twentieth Century : a Contrast Between Continental European and English-Speaking Countries, Oxford: Oxford university press, 2007, p. 531-565. [chap. 13].
Saturday, June 28, 2008
Eles que se matem uns outros que ninguém tem nada a ver com isso
Os partidos com assento parlamentar aprovaram ontem um voto de condenação à actual situação política no Zimbabwe, apresentado pelo CDS. Com uma excepção - o PCP optou pela abstenção. No período de intervenções, Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP, justificou o sentido de voto da bancada comunista com o facto de o texto proposto não fazer qualquer referência à "ingerência externa" no Zimbabwe. "Não podemos ignorar as grandes movimentações de ingerências externas", afirmou o deputado, apontando também a ausência de uma alusão à escalada militar que se vive no País.
É muito bom quando as posições e os argumentos ficam absolutamente claros.
Foi isto que ficou do internacionalismo comunista?
É muito bom quando as posições e os argumentos ficam absolutamente claros.
Foi isto que ficou do internacionalismo comunista?
Anunciado o fim da retenção em França
Le ministre de l'Education Xavier Darcos a commencé à dessiner la réforme du lycée qui devrait être présentée début juillet. Des dispositifs de soutien scolaire seraient mis en place dès la rentrée 2008 dans 200 établissements en grande difficulté. Le redoublement serait remplacé par des modules complémentaires d'aide. Les services d'orientation seraient renforcés et un statut du lycéen mis en place.
O "facilitismo" é mesmo uma conspiração internacional.
O "facilitismo" é mesmo uma conspiração internacional.
Tuesday, June 24, 2008
Parabéns
Portugueses são os mais pessimistas da União Europeia.
Então muitos parabéns ao "Público" (e ao resto da imprensa portuguesa, aliás)!
Então muitos parabéns ao "Público" (e ao resto da imprensa portuguesa, aliás)!
Deixem ver se percebi bem...
A Manuela Ferreira Leite que considera que este é um país de "gente desesperada" e num estado de "emergência social" é a mesma Manuela Ferreira Leite que quer acabar com o modelo de um sistema nacional de saúde tendencialmente universal?
O PSD precisa de um estratega político. É que, nestas coisas, convém que a parte direita do cérebro saiba o que a parte esquerda anda a fazer.
O PSD precisa de um estratega político. É que, nestas coisas, convém que a parte direita do cérebro saiba o que a parte esquerda anda a fazer.
Vendettas
Alguém devia explicar a Belmiro de Azevedo que o "Público" corre o risco de transformar-se no pasquim da Sociedade Portuguesa de Matemática.
E devia ficar claro para o público que a Associação Professores de Matemática - que é a associação dos professores de matemática que preparam os alunos para os exames, e não das elites matemáticas deste país (que, como todas as elites, vivem aterrorizadas com o espectro do declínio, neste caso do seu saber) - veio a público com as seguintes declarações, que reproduzo de um take da Lusa:
Exames Nacionais
Provas de Matemática acessíveis à maioria dos alunos - Ass. Professores
2008-06-23, 20h08
Lisboa, 23 Jun (Lusa) - A Associação de Professores de Matemática (APM) considerou hoje que os exames nacionais do secundário da disciplina foram acessíveis à maioria dos alunos, não suscitando dúvidas de interpretação.
"É nossa convicção que qualquer uma das provas poderá ser resolvida pela generalidade dos alunos, apesar dos diversos níveis de resolução ou de qualidade nas respostas, mais ou menos completas e mais ou menos fundamentadas", afirma a APM, num parecer divulgado hoje.
De acordo com a associação, "em condições normais", os alunos com desempenhos médios terão resultados médios, enquanto os que tenham realizado um bom trabalho ao longo do ciclo terão um bom resultado na prova, "o que é desejável no contexto de uma avaliação sumativa externa".
Para a APM, o tempo disponível para a realização das provas foi "adequado" e a generalidade das questões "não é susceptível de levantar dúvidas de interpretação aos alunos".
"Na prova de Matemática A, as questões de escolha múltipla são na sua generalidade bastante acessíveis, sem que isso, necessariamente se reflicta nos resultados finais uma vez que a sua cotação diminiu relativamente a anos anteriores", sublinha a associação.
E devia ficar claro para o público que a Associação Professores de Matemática - que é a associação dos professores de matemática que preparam os alunos para os exames, e não das elites matemáticas deste país (que, como todas as elites, vivem aterrorizadas com o espectro do declínio, neste caso do seu saber) - veio a público com as seguintes declarações, que reproduzo de um take da Lusa:
Exames Nacionais
Provas de Matemática acessíveis à maioria dos alunos - Ass. Professores
2008-06-23, 20h08
Lisboa, 23 Jun (Lusa) - A Associação de Professores de Matemática (APM) considerou hoje que os exames nacionais do secundário da disciplina foram acessíveis à maioria dos alunos, não suscitando dúvidas de interpretação.
"É nossa convicção que qualquer uma das provas poderá ser resolvida pela generalidade dos alunos, apesar dos diversos níveis de resolução ou de qualidade nas respostas, mais ou menos completas e mais ou menos fundamentadas", afirma a APM, num parecer divulgado hoje.
De acordo com a associação, "em condições normais", os alunos com desempenhos médios terão resultados médios, enquanto os que tenham realizado um bom trabalho ao longo do ciclo terão um bom resultado na prova, "o que é desejável no contexto de uma avaliação sumativa externa".
Para a APM, o tempo disponível para a realização das provas foi "adequado" e a generalidade das questões "não é susceptível de levantar dúvidas de interpretação aos alunos".
"Na prova de Matemática A, as questões de escolha múltipla são na sua generalidade bastante acessíveis, sem que isso, necessariamente se reflicta nos resultados finais uma vez que a sua cotação diminiu relativamente a anos anteriores", sublinha a associação.
Saturday, June 21, 2008
Onde o habitual "facilitismo" tem deixado Portugal
Num dia em que uma parte do país protesta pelo facto de os exames de matemática do 9.º ano terem sido alegadamente uma prova ter sido «mais fácil do que nos anos anteriores» - aparentemente alimentando a velha ideia de que exame que não sirva para chumbar muitos, não é exame decente, e que a validade dos exames se mede no nível de alunos que pretende deixar para trás - convinha recordar o que separa Portugal do resto da Europa. Se o nosso sistema é "facilista", imaginem se fosse mais selectivo do que já é (porque o é: o problema é que preferimos manter ao longo de um tempo um sistema selectivo sem introduzir métodos pedagógicos que permitissem fazer subir o nível dos alunos mais fracos, agindo precocemente sobre eles). Com algum azar, estaríamos fora do mapa (o gráfico é retirado daqui).
Sunday, June 15, 2008
A ler
A crónica de Will Hutton hoje no 'The Guardian' sobre o 'não' irlandês no referendo ao Tratado de Lisboa e sobre o futuro da União Europeia.
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Saturday, June 14, 2008
De regresso às eleições norte-americanas
Muita coisa se passou nas primárias norte-americanas enquanto este blogue esteve em hibernação. Em particular, Barack Obama bateu Hilary Clinton na competição do lado dos Democratas, o que me deixa um bocadinho satisfeito.
Mas só um bocadinho, porque agora o combate com John McCain será de natureza completamente diferente - para começar, será bastante mais sujo.
Vale a pena ler a entrevista que o sociólogo Norman Birnbaum deu ao 'Le Monde' sobre o que pode e deve fazer Obama ao longo da corrida presidencial.
Mas só um bocadinho, porque agora o combate com John McCain será de natureza completamente diferente - para começar, será bastante mais sujo.
Vale a pena ler a entrevista que o sociólogo Norman Birnbaum deu ao 'Le Monde' sobre o que pode e deve fazer Obama ao longo da corrida presidencial.
"Europe is our playground"
Ontem, no restaurante vegetariano onde jantei, a música ambiente era, no mínimo, provocatória: música celta e Enya. Em dia de vitória do 'não' no referendo na Irlanda, tomei aquilo como uma afronta.
Fica aqui a resposta. Os saudosos Suede, com "Europe is our playground":
Fica aqui a resposta. Os saudosos Suede, com "Europe is our playground":
Estão contentes, não é?
Muitos à esquerda regozijam o "não" irlandês ao Tratado de Lisboa. Ora, algumas perguntas impõem-se: ficou a "Europa Social" mais perto? avançou-se alguma coisa numa mudança de política do Banco Central Europeu? crescerá, com isto, o orçamento europeu mais depressa no investimento em áreas-chave da competitividade e da coesão europeia? resolvemos alguma coisa do problema do dumping fiscal realizado pelos países de Leste?
A resposta é, lógica e talvez tragicamente, "não". Pior: a Europa, fragilizada como fica, perdeu capacidade de acção colectiva. A resolução das questões acima mencionadas exige "mais Europa", com liderança e com instituições funcionais, capaz de agir em conjunto para o cumprimento de objectivos colectivos, e com a mobilização dos parceiros sociais reconstruídos à escala transnacional.
Por outras palavras, ficámos mais longe de resolver estes e outros problemas. Destruir é, lá está, sempre mais fácil de construir. E que a extrema-esquerda e a direita religiosa e a direita neo-liberal na Irlanda tenham dado as mãos neste processo de "destruição criativa" - todos os argumentos valiam, afinal - e contribuído para um 'não' que faz regredir o esforço político europeu (sim, porque a expansão do mercado interno vai continuar, e por isso a assimetria entre a unificação económica e política vai reforçar-se) é só uma pequena ironia da história.
Mas, afinal, se os problemas continuam por resolver, continua a necessidade de continuar a protestar, não é? Por isso mais vale não resolver nada - nem que seja gradualmente, aos poucos, com pequenos passos -, não fossem alguns ficar sem métier. Se eu fosse neo-liberal, chamar-lhe-ia rent seeking.
A resposta é, lógica e talvez tragicamente, "não". Pior: a Europa, fragilizada como fica, perdeu capacidade de acção colectiva. A resolução das questões acima mencionadas exige "mais Europa", com liderança e com instituições funcionais, capaz de agir em conjunto para o cumprimento de objectivos colectivos, e com a mobilização dos parceiros sociais reconstruídos à escala transnacional.
Por outras palavras, ficámos mais longe de resolver estes e outros problemas. Destruir é, lá está, sempre mais fácil de construir. E que a extrema-esquerda e a direita religiosa e a direita neo-liberal na Irlanda tenham dado as mãos neste processo de "destruição criativa" - todos os argumentos valiam, afinal - e contribuído para um 'não' que faz regredir o esforço político europeu (sim, porque a expansão do mercado interno vai continuar, e por isso a assimetria entre a unificação económica e política vai reforçar-se) é só uma pequena ironia da história.
Mas, afinal, se os problemas continuam por resolver, continua a necessidade de continuar a protestar, não é? Por isso mais vale não resolver nada - nem que seja gradualmente, aos poucos, com pequenos passos -, não fossem alguns ficar sem métier. Se eu fosse neo-liberal, chamar-lhe-ia rent seeking.
Friday, June 13, 2008
Irlanda e a União Europeia
Talvez poucos países tenham beneficiado tanto, do ponto de vista do crescimento económico, da integração na União Europeia - a Irlanda aderiu à então Comunidade Económica Europeia em 1973 (juntamente com o Reino Unido e a Dinamarca). Hoje a maioria votou contra o Tratado de Lisboa.
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Thursday, June 12, 2008
O Estado social nas estratégias das esquerdas
Os últimos dias tem sido pródigos em escritos sobre as estratégias políticas da esquerda (Paulo Pedroso, Vital Moreira, João Rodrigues). Não vou entrar "de cabeça" no debate mas talvez valha a pena contribuir para ele de um outro ponto de vista menos óbvio e mais analítico.
Parto de uma constatação trivial: o Estado social só sobreviverá - ou, no nosso caso, só poderá expandir-se - com o apoio da grande maioria da população, o que se traduz numa configuração em que aquele traz benefícios à maioria (mesmo que diferencialmente distribuídos); e em que o seu recuo deixaria essa maioria a perder. É esta capacidade de responder a diferentes preocupações de diferentes grupos que pode sustentar o Estado social, mesmo que a sua legitimidade esteja assente mais no interesse individual do beneficiário do que num sentimento altruísta de solidariedade para com a sociedade.
É certo que, talvez mais mítica do que historicamente, o Estado social nasceu "à esquerda", mesmo que, com o tempo, se tenha alargado a todos (ou quase). Digo mais mítica que historicamente porque a diversidade de trajectórias que tiveram o seu início no fim do século XIX recomenda cautela a grandes generalizações - embora seja verdade que o modelo mais redistributivo, generoso e universalista tenha sido sem dúvida obra da esquerda social-democrata, na aliança entre o seu braço político (partidos com maioria parlamentar, absoluta ou não) e o seu braço sindical. Mas convém não esquecer que, cronologicamente, a primeira pedra do edifício foi lançada há cerca de 13 décadas na Alemanha pelo tudo menos progressista Bismarck.
Enquanto projecto construído - histórica ou miticamente - pela esquerda, o Estado social pôde, com a industrialização e a democratização das sociedades, ser aprofundado em boa medida pelo apoio do proletariado industrial, durante décadas a classe com maior peso eleitoral nas democracias ocidentais. Na maioria dos países europeus, hoje muito poucos destes pressupostos se verificam: nem o Estado social pode continuar a crescer sem controlo do ponto de vista orçamental, nem o proletariado industrial é um grupo demográfica e eleitoralmente maioritário, nem é o Estado social muitas vezes sustentado apenas pela esquerda, eleitoral ou governativa (embora também seja verdade que a direita tenha , probabilisticamente falando, mais tendências para se desfazer do legado histórico do que a esquerda)
Por outras palavras, o Estado social não tem, do ponto de vista eleitoral, um dono único que possa reclamar o seu indubitável monopólio - sendo que, como disse, em alguns países, é mesmo provável que isto nunca tenha sido assim de forma clara. Assim, a maior parte das despesas em protecção social vão para as pensões e para os sistemas de saúde - dispositivos que beneficiam a larguíssima maioria independentemente da sua lealdade ideológica, e que tendem a ser dificilmente reformáveis precisamente porque os que são os seus beneficiários actuais (bem como os seus futuros, aqueles que são mais jovens hoje) formam poderosos grupos de interesse em defesa do que são vistas como, e bem, conquistas históricas.
Por muitas dificuldades que estas configuração de apoio coloque à realização de reformas - tantas vezes necessárias - nos sistemas de protecção social, a existência destes grupos que têm uma lealdade a-ideológica ao Estado social - ou, se quiserem, um interesse pessoal na defesa dos seus benefícios - é provavelmente a melhor defesa contra o seu desmantelamento.
Uma das consequências disto é que uma esquerda que queira, ao mesmo tempo, defender, aprofundar e reformar o Estado social não ganha nada em se deixar embrulhar numa lógica discursiva que vê o Estado social como plataforma de resistência contra o "capitalismo", a "globalização" ou os "mercados". A maior parte das pessoas que defende os benefícios que o Estado social lhes trouxe não o faz contra o "neoliberalismo", contra os "patrões" ou contra a "tirania dos mercados". Defende-o porque este montou dispositivos que garantem alguma protecção e oportunidades de investimento individual e social, e porque aumentam o seu bem-estar - o que me parece perfeitamente natural, para além de legítimo (e, nalguns casos, defende-o mesmo porque vê neste um conjunto de alavancas institucionais para um crescimento económico potencialmente robusto e equitativo.)
O reforço da legitimidade do Estado social num mundo onde o proletariado industrial e a senso comum obreirista está ultrapassado passa por (de)mo(n)strar/explicar, política e pedagogicamente, às classes médias como e porque é que elas beneficiam (ou podem beneficiar), directa ou indirectamente, da protecção social. Nesse sentido, o Estado social - e os que os defendem e pensam - precisa de ter particular atenção ao que se passa ao centro. Uma fuga en masse das classes médias para o sector privado seria um sério golpe na sustentabilidade de um Estado social com serviços de qualidade.
Significa que um Estado social preocupado com as classes médias seria um Estado social mais residual? Mas então e o 'precariado', que ocupa uma espécie de no man's land, entre os pobres e a classe média estável - não trairia este maior residualismo as inquietudes legítimas de uma geração inteira? E não é este Estado social um edifício mais 'frio', despido de política e ideologia, e por isso incapaz de atrair mais apoios?
A resposta às 3 questões é: pelo contrário.
Primeiro, porque convencer o centro a entrar no Estado social só é possível aumentando a qualidade de serviços públicos universais; em caso contrário, as classes médias procurarão protecção no mercado privado. Segundo, porque essas mesmas instituições permitiriam responder às preocupações do tal precariado, dado que o acesso aos serviços públicos é, precisamente, independente daquilo que marca a sua condição precária: a dificuldade em estabilizar ligações contratuais sólidas e uma inserção durável no mercado de trabalho. Terceiro, que a linguagem de justificação do Estado social seja menos ideológica e politicamente quente está longe, nos nossos tempos, de ser um handicap. A maioria das pessoas não está interessada num Estado social que represente a "transição para o socialismo" (como representou para muitos durante várias décadas, na versão radical) que está em causa, nem sequer na "resistência ao capitalismo" (como representa para muitos hoje, na versão radicalmente conservadora). Se as políticas se decidissem em eleições onde o sufrágio estivesse limitado às elites intelectuais (e aos seus aprendizes e seguidores), para quem a política, as ideias e as convicções valem mais na sua vida mais do que a água para o corpo humano, este tipo de objectivos, estratégias e linguagem estaria sem dúvida apropriado. Mas o sufrágio é universal, e a maioria dos cidadãos pretende que a classe política encontre esquemas eficazes de protecção inteligente - não que se envolva em guerras teológico-políticas. As pessoas estão mais interessadas em saber como compatibilizar uma vida pessoal/familiar cada vez mais turbulenta com uma vida profissional cada vez mais competitiva; como ter condições para estabilizar uma relação pessoal, comprar uma casa, ser mãe e pai; onde deixar a criança quando se regressa ao trabalho; como evitar que a penalização por se decidir ser (sobretudo) mãe; como garantir os melhores cuidados aos pais idosos, etc., etc.. No fundo, como transitar entre pontos críticos da trajectória de vida sem cair em armadilhas de desqualificação, de pobreza, de desemprego, de inactividade, ou de descriminação face a colegas, mantendo baixos níveis de desigualdade que são os mesmos, afinal, que mantêm elevados índices de competição (e quem disse que a igualdade é sempre má para a competição?) e de qualidade.
Coisas pequenas quando comparadas com o universo intelectual dos grandes ideólogos, portanto. Aquelas pequenas coisas que enchem a vida das pessoas.
Resumindo, e independentemente da questão de que-esquerda-tem-que-se-virar-para-que-lado, um Estado social que não seja capaz de convencer, conquistar e incluir o centro será sempre um dispositivo institutional frágil. Agora atenção: convencer o centro não implica seguir políticas centristas. Implica antes perceber como é que o centro pode ser convencido que políticas de esquerda podem servir-lhe (o que é mais difícil do que parece). Mas também implica outras coisas: que se proponham/conduzam estratégias discursivas e políticas que não se dirijam, mesmo que implicitamente, apenas a pequenos nichos eleitorais; que se perceba que esse centro, ele próprio um conjunto de diferentes "centros", vive e pensa de forma diferente dos tais nichos, e que tanto o discurso como as políticas que procuram responder às preocupações desta maioria heterogénea devem ser inteligentes e não populistas, financeiramente sustentáveis/responsáveis e não segundo a lógica do toujours plus!, e guiadas pelo melhor que as políticas públicas nos podem dizer sobre o mundo e não pelo "ideologicamente correcto" misturado com a ignorância das tendencias empíricas mais elementares.
Falta o mais importante, talvez, à esquerda.
Implica que aceitemos que 'socialismo' e 'social-democracia' são, enquanto estratégias económico-políticas, coisas diferentes. Implica que o Estado (pós-)industrial deve consumir menos recursos que o Estado social. Implica que o objectivo da conquista dos meios de produção deve ser substituída pela optimização dos meios de redistribuição. Implica que aceitemos a destruição criativa Schumpeteriana, sempre complementada e compensada por formas de redistribuição criativa. Implica que se aceite a legitimidade da economia de mercado enquanto mecanismo (não-absoluto!) de coordenação societal, que pode e deve alimentar um capitalismo de bem-estar.
E implica - por fim, mas que condensa o essencial - que a luta pelo Estado social e contra as desigualdades não seja uma estratégia entrista para relançar, pela calada da noite, o mítico "socialismo".
Enquanto estas desconfianças da parte da esquerda-que-não-pode-alienar-o-centro em relação à esquerda-mais-interessada-em-não-alienar-a sua-própria-identidade-e-património-simbólico (e, já agora, o seu nicho eleitoral...), se mantiverem, qualquer acordo será sempre difícil.
Parto de uma constatação trivial: o Estado social só sobreviverá - ou, no nosso caso, só poderá expandir-se - com o apoio da grande maioria da população, o que se traduz numa configuração em que aquele traz benefícios à maioria (mesmo que diferencialmente distribuídos); e em que o seu recuo deixaria essa maioria a perder. É esta capacidade de responder a diferentes preocupações de diferentes grupos que pode sustentar o Estado social, mesmo que a sua legitimidade esteja assente mais no interesse individual do beneficiário do que num sentimento altruísta de solidariedade para com a sociedade.
É certo que, talvez mais mítica do que historicamente, o Estado social nasceu "à esquerda", mesmo que, com o tempo, se tenha alargado a todos (ou quase). Digo mais mítica que historicamente porque a diversidade de trajectórias que tiveram o seu início no fim do século XIX recomenda cautela a grandes generalizações - embora seja verdade que o modelo mais redistributivo, generoso e universalista tenha sido sem dúvida obra da esquerda social-democrata, na aliança entre o seu braço político (partidos com maioria parlamentar, absoluta ou não) e o seu braço sindical. Mas convém não esquecer que, cronologicamente, a primeira pedra do edifício foi lançada há cerca de 13 décadas na Alemanha pelo tudo menos progressista Bismarck.
Enquanto projecto construído - histórica ou miticamente - pela esquerda, o Estado social pôde, com a industrialização e a democratização das sociedades, ser aprofundado em boa medida pelo apoio do proletariado industrial, durante décadas a classe com maior peso eleitoral nas democracias ocidentais. Na maioria dos países europeus, hoje muito poucos destes pressupostos se verificam: nem o Estado social pode continuar a crescer sem controlo do ponto de vista orçamental, nem o proletariado industrial é um grupo demográfica e eleitoralmente maioritário, nem é o Estado social muitas vezes sustentado apenas pela esquerda, eleitoral ou governativa (embora também seja verdade que a direita tenha , probabilisticamente falando, mais tendências para se desfazer do legado histórico do que a esquerda)
Por outras palavras, o Estado social não tem, do ponto de vista eleitoral, um dono único que possa reclamar o seu indubitável monopólio - sendo que, como disse, em alguns países, é mesmo provável que isto nunca tenha sido assim de forma clara. Assim, a maior parte das despesas em protecção social vão para as pensões e para os sistemas de saúde - dispositivos que beneficiam a larguíssima maioria independentemente da sua lealdade ideológica, e que tendem a ser dificilmente reformáveis precisamente porque os que são os seus beneficiários actuais (bem como os seus futuros, aqueles que são mais jovens hoje) formam poderosos grupos de interesse em defesa do que são vistas como, e bem, conquistas históricas.
Por muitas dificuldades que estas configuração de apoio coloque à realização de reformas - tantas vezes necessárias - nos sistemas de protecção social, a existência destes grupos que têm uma lealdade a-ideológica ao Estado social - ou, se quiserem, um interesse pessoal na defesa dos seus benefícios - é provavelmente a melhor defesa contra o seu desmantelamento.
Uma das consequências disto é que uma esquerda que queira, ao mesmo tempo, defender, aprofundar e reformar o Estado social não ganha nada em se deixar embrulhar numa lógica discursiva que vê o Estado social como plataforma de resistência contra o "capitalismo", a "globalização" ou os "mercados". A maior parte das pessoas que defende os benefícios que o Estado social lhes trouxe não o faz contra o "neoliberalismo", contra os "patrões" ou contra a "tirania dos mercados". Defende-o porque este montou dispositivos que garantem alguma protecção e oportunidades de investimento individual e social, e porque aumentam o seu bem-estar - o que me parece perfeitamente natural, para além de legítimo (e, nalguns casos, defende-o mesmo porque vê neste um conjunto de alavancas institucionais para um crescimento económico potencialmente robusto e equitativo.)
O reforço da legitimidade do Estado social num mundo onde o proletariado industrial e a senso comum obreirista está ultrapassado passa por (de)mo(n)strar/explicar, política e pedagogicamente, às classes médias como e porque é que elas beneficiam (ou podem beneficiar), directa ou indirectamente, da protecção social. Nesse sentido, o Estado social - e os que os defendem e pensam - precisa de ter particular atenção ao que se passa ao centro. Uma fuga en masse das classes médias para o sector privado seria um sério golpe na sustentabilidade de um Estado social com serviços de qualidade.
Significa que um Estado social preocupado com as classes médias seria um Estado social mais residual? Mas então e o 'precariado', que ocupa uma espécie de no man's land, entre os pobres e a classe média estável - não trairia este maior residualismo as inquietudes legítimas de uma geração inteira? E não é este Estado social um edifício mais 'frio', despido de política e ideologia, e por isso incapaz de atrair mais apoios?
A resposta às 3 questões é: pelo contrário.
Primeiro, porque convencer o centro a entrar no Estado social só é possível aumentando a qualidade de serviços públicos universais; em caso contrário, as classes médias procurarão protecção no mercado privado. Segundo, porque essas mesmas instituições permitiriam responder às preocupações do tal precariado, dado que o acesso aos serviços públicos é, precisamente, independente daquilo que marca a sua condição precária: a dificuldade em estabilizar ligações contratuais sólidas e uma inserção durável no mercado de trabalho. Terceiro, que a linguagem de justificação do Estado social seja menos ideológica e politicamente quente está longe, nos nossos tempos, de ser um handicap. A maioria das pessoas não está interessada num Estado social que represente a "transição para o socialismo" (como representou para muitos durante várias décadas, na versão radical) que está em causa, nem sequer na "resistência ao capitalismo" (como representa para muitos hoje, na versão radicalmente conservadora). Se as políticas se decidissem em eleições onde o sufrágio estivesse limitado às elites intelectuais (e aos seus aprendizes e seguidores), para quem a política, as ideias e as convicções valem mais na sua vida mais do que a água para o corpo humano, este tipo de objectivos, estratégias e linguagem estaria sem dúvida apropriado. Mas o sufrágio é universal, e a maioria dos cidadãos pretende que a classe política encontre esquemas eficazes de protecção inteligente - não que se envolva em guerras teológico-políticas. As pessoas estão mais interessadas em saber como compatibilizar uma vida pessoal/familiar cada vez mais turbulenta com uma vida profissional cada vez mais competitiva; como ter condições para estabilizar uma relação pessoal, comprar uma casa, ser mãe e pai; onde deixar a criança quando se regressa ao trabalho; como evitar que a penalização por se decidir ser (sobretudo) mãe; como garantir os melhores cuidados aos pais idosos, etc., etc.. No fundo, como transitar entre pontos críticos da trajectória de vida sem cair em armadilhas de desqualificação, de pobreza, de desemprego, de inactividade, ou de descriminação face a colegas, mantendo baixos níveis de desigualdade que são os mesmos, afinal, que mantêm elevados índices de competição (e quem disse que a igualdade é sempre má para a competição?) e de qualidade.
Coisas pequenas quando comparadas com o universo intelectual dos grandes ideólogos, portanto. Aquelas pequenas coisas que enchem a vida das pessoas.
Resumindo, e independentemente da questão de que-esquerda-tem-que-se-virar-para-que-lado, um Estado social que não seja capaz de convencer, conquistar e incluir o centro será sempre um dispositivo institutional frágil. Agora atenção: convencer o centro não implica seguir políticas centristas. Implica antes perceber como é que o centro pode ser convencido que políticas de esquerda podem servir-lhe (o que é mais difícil do que parece). Mas também implica outras coisas: que se proponham/conduzam estratégias discursivas e políticas que não se dirijam, mesmo que implicitamente, apenas a pequenos nichos eleitorais; que se perceba que esse centro, ele próprio um conjunto de diferentes "centros", vive e pensa de forma diferente dos tais nichos, e que tanto o discurso como as políticas que procuram responder às preocupações desta maioria heterogénea devem ser inteligentes e não populistas, financeiramente sustentáveis/responsáveis e não segundo a lógica do toujours plus!, e guiadas pelo melhor que as políticas públicas nos podem dizer sobre o mundo e não pelo "ideologicamente correcto" misturado com a ignorância das tendencias empíricas mais elementares.
Falta o mais importante, talvez, à esquerda.
Implica que aceitemos que 'socialismo' e 'social-democracia' são, enquanto estratégias económico-políticas, coisas diferentes. Implica que o Estado (pós-)industrial deve consumir menos recursos que o Estado social. Implica que o objectivo da conquista dos meios de produção deve ser substituída pela optimização dos meios de redistribuição. Implica que aceitemos a destruição criativa Schumpeteriana, sempre complementada e compensada por formas de redistribuição criativa. Implica que se aceite a legitimidade da economia de mercado enquanto mecanismo (não-absoluto!) de coordenação societal, que pode e deve alimentar um capitalismo de bem-estar.
E implica - por fim, mas que condensa o essencial - que a luta pelo Estado social e contra as desigualdades não seja uma estratégia entrista para relançar, pela calada da noite, o mítico "socialismo".
Enquanto estas desconfianças da parte da esquerda-que-não-pode-alienar-o-centro em relação à esquerda-mais-interessada-em-não-alienar-a sua-própria-identidade-e-património-simbólico (e, já agora, o seu nicho eleitoral...), se mantiverem, qualquer acordo será sempre difícil.
Wednesday, June 11, 2008
O rigor e as prioridades do 'Público'
Esta é a coluna 'Sobe e Desce' na última página do "Público" de hoje. Repare-se na ordem de prioridades. A gaffe - bem mais séria que um pequeno lapso linguístico, parece-me - de Cavaco Silva sobre o "dia da raça" é considerado menos 'negativo' que a avaliação feita ao seleccionador holandês da Rússia, equipa que ontem levou 4-1 da Espanha, e ao ciclista Tom Boonen, que consumiu cocaína fora de competição.
Se isto fosse a gozar eu teria dificuldade em fazer melhor. E nem imagino o que diriam se fosse Sócrates a dizer o que disse Cavaco.
Mas não era Lula há uns tempos um fantoche do "Consenso de Washington"?
Lido num take da Lusa:
Brasil
Secretário-geral do PCP elogia esforços do governo Lula e soberania brasileira
2008-06-11, 10h53
Brasília, 11 Jun (Lusa) - O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou que há "um esforço sincero" no caminho do governo Lula da Silva, com componentes democráticas e progressistas e afirmação da soberania e do desenvolvimento económico do Brasil.
Brasil
Secretário-geral do PCP elogia esforços do governo Lula e soberania brasileira
2008-06-11, 10h53
Brasília, 11 Jun (Lusa) - O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou que há "um esforço sincero" no caminho do governo Lula da Silva, com componentes democráticas e progressistas e afirmação da soberania e do desenvolvimento económico do Brasil.
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E nosotros, nos quedamos callados?
Lido no "Le Monde":
La Confédération européenne des syndicats (CES) et le Parti socialiste espagnol (PSOE) au pouvoir ont vivement critiqué, mardi 10 juin, l'accord conclu par l'Union européenne sur la durée maximale du temps de travail. Cet accord maintient la durée maximale de 48 heures par semaine, mais confirme la dérogation défendue par les pays les plus libéraux, qui permet à un salarié de travailler davantage que ce plafond.
Zapatero não é primeiro-ministro para ficar calado. Neste caso resolveu também protestar.
Era bom que não ficasse a falar sozinho nas questões que importam à Europa. À Europa social.
La Confédération européenne des syndicats (CES) et le Parti socialiste espagnol (PSOE) au pouvoir ont vivement critiqué, mardi 10 juin, l'accord conclu par l'Union européenne sur la durée maximale du temps de travail. Cet accord maintient la durée maximale de 48 heures par semaine, mais confirme la dérogation défendue par les pays les plus libéraux, qui permet à un salarié de travailler davantage que ce plafond.
Zapatero não é primeiro-ministro para ficar calado. Neste caso resolveu também protestar.
Era bom que não ficasse a falar sozinho nas questões que importam à Europa. À Europa social.
Desintoxicação
Eu sei, eu sei, esta notícia tem mais de 2 anos. Mas é mais actual do que nunca. Aliás, ao contrário da forma como estamos habituados a pensar o tempo e a sua passagem, vai ficar cada vez mais actual - à medida que a nossa dependência ficar mais aguda, e os efeitos secundários mais penosos.
Mais elementos aqui.
Mais elementos aqui.
Como fazer o leitor virar a página ao fim de um parágrafo
Confesso que não sou leitor assíduo das crónicas de Vasco Graça Moura no DN, sobretudo quando versam sobre um tema que me passa bastante ao lado (o acordo ortográfico). Tentei ler o de hoje. Começa assim:
«Sendo a língua portuguesa um bem constitucionalmente protegido, quer no seu papel identitário quer no que toca ao património cultural do nosso país (art.º 9.º, e) e f) e 78.º, c) e d) da Constituição), o Acordo Ortográfico (AO) virá a causar-lhe lesões profundas, afectando-a de maneira decisiva, irreversível e inaceitável em Portugal, com a consequente violação da lei fundamental, do interesse geral e dos direitos dos cidadãos.»
Como não percebi se estava a ler um artigo de opinião ou o Diário da República, parei.
«Sendo a língua portuguesa um bem constitucionalmente protegido, quer no seu papel identitário quer no que toca ao património cultural do nosso país (art.º 9.º, e) e f) e 78.º, c) e d) da Constituição), o Acordo Ortográfico (AO) virá a causar-lhe lesões profundas, afectando-a de maneira decisiva, irreversível e inaceitável em Portugal, com a consequente violação da lei fundamental, do interesse geral e dos direitos dos cidadãos.»
Como não percebi se estava a ler um artigo de opinião ou o Diário da República, parei.
O meu favorito para o Euro
Dado que:
1) Não sou muito patriota (bem dizem que o Benfica é maior que Portugal);
2) Futebol também é política...
Estou pela Suécia, o mais digno histórico representante da social-democracia generosa e redistributiva (ainda por cima tendo hoje ganho à mais entediante equipa da história recente do futebol, a Grécia).
Thursday, June 5, 2008
Actualização
Depois de um interregno longo, o "Véu" voltará ao activo, embora lentamente.
Num registo diferente um pouco diferente, a partir de agora estarei também aqui com o Renato Carmo:
http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/
Num registo diferente um pouco diferente, a partir de agora estarei também aqui com o Renato Carmo:
http://pensamentodomeiodia.blogspot.com/
Saturday, March 29, 2008
Friday, March 28, 2008
As boas e as más perguntas
O editorial de José Manuel Fernandes [JMF] hoje no "Público" contém questões importantes a que a lei do PS sobre o divórcio deve saber responder na sua versão final. Não só não podemos deixar de falar de "deveres" no casamento - pelo que só ficariam os "direitos"; mas se há "direitos", então tem que haver deveres da outra parte, logicamente, senão andamos só a brincar às palavras - como o princípio orientador que o editorialista invoca - o «legislador [deve] tratar de proteger o elo mais fraco num contrato» - é de bom senso. Sabendo que muitas vezes o elo mais fraco (financeira/laboralmente falando, claro) nesta relação costuma ser a mulher - como Vasco Pulido Valente também lembra com oportunidade -, é preciso acautelar situações que ameacem deixar desprotegido aquele que é o elemento com menos autonomia social e económica.
É pena que JMF não veja o mesmo princípio - o da protecção dos mais fracos - como válido para julgar outras leis ou outros contratos, como, por exemplo, na esfera laboral, onde as pessoas, por norma, não se podem dar ao luxo de deixar de entrar - ao contrário do casamento, que, afinal de contas, «ninguém é obrigado a celebrar».
Por outro lado, há coisas que é difícil ler sem perder a calma, como as palavras do bispo D.Jorge Ortiga ao DN, que afirma que «[n]ão há amor sem sofrimento e sem dor», ou do padre Duarte da Cunha, que critica nesta lei uma «sentimentalização excessiva do amor». A única pergunta que me apetece fazer é: quem são estes senhores para vir ditar leis sobre o que o amor é ou devia ser? Sabem eles realmente do que falam? O que interessa para a vida real a sua interpretação escolástica do "conceito"?
É pena que JMF não veja o mesmo princípio - o da protecção dos mais fracos - como válido para julgar outras leis ou outros contratos, como, por exemplo, na esfera laboral, onde as pessoas, por norma, não se podem dar ao luxo de deixar de entrar - ao contrário do casamento, que, afinal de contas, «ninguém é obrigado a celebrar».
Por outro lado, há coisas que é difícil ler sem perder a calma, como as palavras do bispo D.Jorge Ortiga ao DN, que afirma que «[n]ão há amor sem sofrimento e sem dor», ou do padre Duarte da Cunha, que critica nesta lei uma «sentimentalização excessiva do amor». A única pergunta que me apetece fazer é: quem são estes senhores para vir ditar leis sobre o que o amor é ou devia ser? Sabem eles realmente do que falam? O que interessa para a vida real a sua interpretação escolástica do "conceito"?
Wednesday, March 26, 2008
Tuesday, March 25, 2008
Prémio Ignóbil
Depois do vídeo do Youtube da semana passada sobre o que se passou na Escola Secundária Carolina Michaelis - onde no final dos anos 80, aliás, fiz o 8.º e o 9.º ano de escolaridade -, muito se escreveu sobre a "violência na escola".
Nestas coisas, as opiniões bárbaras superam sempre as análises equilibradas de um tema difícil - difícil de analisar e difícil de resolver.
Mas acho difícil alguém bater este extraordinário - em termos do ridículo a que chega e da demagogia que usa - artigo de Mário Crespo.
Nestas coisas, as opiniões bárbaras superam sempre as análises equilibradas de um tema difícil - difícil de analisar e difícil de resolver.
Mas acho difícil alguém bater este extraordinário - em termos do ridículo a que chega e da demagogia que usa - artigo de Mário Crespo.
Thursday, March 20, 2008
«É o estalinismo, estúpido!»
Quem lê os editoriais do 'Público' com alguma regularidade deve achar que Portugal caminha perigosamente para algo próximo da URSS. José Manuel Fernandes (JMF) tem mesmo um problema com o "estalinismo", o "bolchevismo", o "socialismo científico" e, claro, obviamente, naturalmente, a "Revolução Francesa".
JMF podia era lidar um pouco melhor com esse problema, em vez de distribuir semelhantes epítetos dia-sim-dia-não a quem não segue as políticas que o director do 'Público' - ou os seus superiores (estalinistas?) - prefere(m). Quando discorda de alguma coisa, a sua explicação é simples: é o estalinismo, estúpido.
O que é esforço de coordenação de energias e acções no exercício da responsabilidade política para uns, pode ser sempre 'estalinismo' para outros. Basta viver obcecado em encontrar indícios de que o crime foi cometido.
Eu aposto que a redacção do 'Público' funciona em auto-gestão. E se calhar é isso mesmo que explica erros (ou mentiras?) como este.
JMF podia era lidar um pouco melhor com esse problema, em vez de distribuir semelhantes epítetos dia-sim-dia-não a quem não segue as políticas que o director do 'Público' - ou os seus superiores (estalinistas?) - prefere(m). Quando discorda de alguma coisa, a sua explicação é simples: é o estalinismo, estúpido.
O que é esforço de coordenação de energias e acções no exercício da responsabilidade política para uns, pode ser sempre 'estalinismo' para outros. Basta viver obcecado em encontrar indícios de que o crime foi cometido.
Eu aposto que a redacção do 'Público' funciona em auto-gestão. E se calhar é isso mesmo que explica erros (ou mentiras?) como este.
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Tuesday, March 11, 2008
Friday, February 29, 2008
O pior e o melhor dos mundos num só
Este é um país onde a classe política pode ser insultada, imputada de todos os defeitos e continuamente espezinhada. Mas dizer ou fazer algo que possa, em última análise, conduzir à interrogação que questione a qualidade das práticas de elementos de uma classe profissional, não, isso é que não pode ser. Achar que, enfim, muito provavelmente nem todos serão absolutamente excepcionais, extraordinários e acima de qualquer crítica, não, não dá. Isso já é, naturalmente, um "ataque" insuportável, uma campanha "arrogante" e mais não sei o quê.
Thursday, February 28, 2008
Thursday, February 21, 2008
O futuro para além de Novembro
Depois de Obama ter ganho todos os Estados depois da Super Tuesday, vale a pena olhar para o futuro, e talvez para o desafio mais importante que o candidato Democrata terá que enfrentar a nível doméstico. Não vou dissertar sobre o estado das primárias; Obama leva uma vantagem não apenas nos delegados, mas naquilo que os pundits adoram referir como o m-o-m-e-n-t-u-m. As coisas estão difíceis para Clinton, que desde há uns dias parece ter apostado numa campanha sobretudo negativa – algo que, parece-me, não a levará a lado nenhum.
Mas a avaliação da situação fica para outra altura. Barack Obama e Hilary Clinton são, por razões diferentes, bons candidatos às primárias do partido Democrata, e qualquer um deles daria um muito bom candidato nas eleições de Novembro. O meu palpite, como já tentei explicar várias vezes, é que Obama é o candidato que mais possibilidades oferece ao partido de colocar na Casa Branca um Presidente de centro-esquerda. Mas isto é apenas um palpite, mesmo que mais ou menos sofisticado.
Olhemos, por uns momentos, para o futuro próximo. Num debate-tertúlia que decorreu na quarta-feira da semana passada no Instituto Franco-Português organizado pelo Le Monde Diplomatique e subordinado ao tema “Eleições Americanas”, os oradores perguntavam-se se a alternativa que os Democratas parecem oferecer a uma liderança Republicana não é, afinal de contas, "mais do mesmo". Ora, a alternativa, parece-me, não é difícil de entrever, ou só é difícil se não percebermos o que o projecto ideológico do GOP pretende a médio-longo prazo. Para um candidato do partido Democrata, o objectivo central só pode ser este: evitar que o extremismo conservador do GOP acabe com a viabilidade dos seus programas sociais centrais, da Social Security ao Medicare/Medicaid, e garantir espaço de manobra para introduzir outras medidas no futuro. Os sucessivos cortes de impostos que os ricos compraram a Bush e o delírio militarista da sua administração comprometem seriamente a médio prazo a sustentabilidade do Estado social norte-americano - que já está longe de ser o mais generoso quando o comparamos com outros países prósperos (o inverso é, aliás, a realidade).
As opções políticas em aberto são, portanto, estas: continuar o projecto Republicano cujo objectivo é "starve the beast" (isto é, o Estado), limitando radicalmente a sua dimensão para que qualquer aprendiz de libertário possa "drown it in the bathup", na expressão de Grover Norquist, um dos mais influentes ideólogos da extrema-direita económica norte-americana (sim, é "extrema-direita económica" com todas as letras); ou refundar a alternativa progressiva, assegurando a viabilidade dos programas do passado, e alargando o seu raio de acção no futuro.
É verdade que Obama e Clinton prometem uma série de medidas no plano social; as propostas concretas que apresentam agora não devem ser consideradas como definitiva, e que muita cross-fertilization pode acontecer no plano da policy se algum deles chegar à Casa Branca. A pergunta mais complicada é outra: como poderão eles pagar as suas promessas? Esta questão será absolutamente crucial num futuro debate com John Mccain e com extrema-direita económica americana. Como reduzir um défice que vai continuar a crescer não apenas durante a administração Bush, mas, tudo indica, num futuro próximo, dado que os reais efeitos dos tax cuts para os ricos só agora se vão começar a sentir? Esta foi, afinal, a grande estratégia/golpe de Bush & co.: a classe média recebia imediatamente o pouco dinheiro que os cortes nos impostos (em 2001 e 2003) lhe atribuiu – um truque que garantia o apoio imediato à polémica medida -, mas os ricos só agora é que começam a usufruir das verdadeiras e impressionantes vantagens do plano Republicano; o que significa que é agora, nos últimos anos desta década, que o efeito sobre as finanças públicas se tornará efectivamente explosivo.
Bill Clinton não teve medo, em 1992, de dizer durante a campanha que subiria os impostos nos escalões mais elevados de rendimento. Hoje isso parece incrivelmente mais difícil, e quem tentar algo semelhante terá que se confrontar com o mais elementar populismo da extrema-direita, que já anunciou que é contra qualquer futuro aumento, como um simples regresso aos níveis da era Clinton – que seria, dizem, o maior aumento de impostos da história do país: e necessarily so, dado que os cortes de Bush foram, simetricamente, os mais radicais alguma vez realizados por uma administração em Washington.
Alguns saltarão imediatamente para argumentar que este desafio é algo para o qual Hilary Clinton está mais preparada para enfrentar – ela, reza o mito, a combativa, corajosa e incansável defensora dos ideais Democratas. Estou menos certo da sustentabilidade deste argumento, menos pelas qualidades pessoais e políticas – hoje extraordinariamente inflacionadas, parece-me - da candidata do que parece ser a sua dificuldade em unir o país em torno de objectivos comuns, se eleita. Para tomar medidas impopulares, é preciso gozar de uma mobilização, de um crédito, de um carisma que, neste momento, só parece ao alcance de Barack Obama. É que, como lembra o editorial do insuspeito “The Economist” de há uns dias: «Anyone can get experts to produce policy papers. The trick is to forge consensus to get those policies enacted».
Ora, é claro que a linguagem de Obama é messiânica; é claro que ela é, num certo sentido, trans- ou mesmo anti-política; e é claro que ela é, a partir de um certo ponto, repetitiva e irritante. Mas achar que Obama só vale pelos discursos que profere é tão redutor e injusto como achar que Hilary só chegou onde chegou porque é a mulher do mais popular presidente norte-americano dos últimos tempos. Há outras coisas para além da imagem - como o voting record no Senado, onde Obama não só não fica nada atrás de Clinton na sua colocação à esquerda (aliás, demasiado à esquerda para "Bushistas" ortodoxos como Karl Rove), como não faz as cedências típicas de Hilary nos assuntos centrais, como os cortes de impostos – já para não falar na guerra (mas aqui, admito, havia condicionantes várias). Para mais, the proof is in the pudding: a mobilização política das massas – aquilo no qual Obama parece ser, para já, imbatível - nunca se fez em lado nenhum elencando aborrecidas medidas de policy; sempre dependeu de elementos trans- ou anti-políticos e, nos EUA, de preferência com uma retórica com raízes mais ou menos vagamente religiosas. A onda que Obama tem provocado no último mês e meio não escapa a ninguém na política americana. E a retórica política é, por definição, feita de sound bytes: Jimmy Carter ganhou apelando à “honestidade” do povo americano (oco, não é? Mas não sem sentido se pensarmos no que simbolizava Watergate na altura), e Bill Clinton, para além de curiosamente abusar da palavra “change” na campanha contra G.H.Bush, lançou o inesquecível ”É a economia, estúpido!” - básico, opaco e populista, claro, mas o suficiente para ressoar com as inquietações do americano médio (mais preocupado com a perda do poder de compra do que com a queda do Muro de Berlim e com a invasão do Koweit por Saddam Hussein e a consequente vitoriosa intervenção americana no Médio Oriente, eventos que faziam de Bush I um herói no mundo ocidental).
Desvalorizar a importância da retórica do Obama significa desvalorizar o facto de que uma campanha presidencial num país com o sistema eleitoral e com a cultura política dos EUA dificilmente podem ser ganhas com apelos ao self-interest – económico ou outro - de um grupo mais ou menos amplo de indivíduos (se fosse assim tão simples, é improvável que a working e a middle-class tivessem permitido aos Republicanos revolucionar a economia americana como o fizeram no último quarto de século).
O desafio com que se defrontam os Democratas não é a escolha entre a suposta “experiência” de Clinton e a “mudança” supostamente simbolizada por Obama; está entre a acomodação a uma situação insustentável a médio prazo do ponto de vista do financiamento das políticas sociais do Estado norte-americano e a coragem necessária para dizer que os super-ricos vão ter pagar o regresso da prosperidade partilhada. Mas esta não é só uma questão de coragem, como os mais zangados comentadores do lado Democrata – como Paul Krugman - parecem acreditar: é também uma questão de capacidade de mobilização da opinião pública e de criação de consensos amplos, trans-ideológicos e para além das coligações tradicionais, em torno de objectivos comuns. No fim da corrida das primárias Democratas vamos ver quem carrega este fardo.
Mas a avaliação da situação fica para outra altura. Barack Obama e Hilary Clinton são, por razões diferentes, bons candidatos às primárias do partido Democrata, e qualquer um deles daria um muito bom candidato nas eleições de Novembro. O meu palpite, como já tentei explicar várias vezes, é que Obama é o candidato que mais possibilidades oferece ao partido de colocar na Casa Branca um Presidente de centro-esquerda. Mas isto é apenas um palpite, mesmo que mais ou menos sofisticado.
Olhemos, por uns momentos, para o futuro próximo. Num debate-tertúlia que decorreu na quarta-feira da semana passada no Instituto Franco-Português organizado pelo Le Monde Diplomatique e subordinado ao tema “Eleições Americanas”, os oradores perguntavam-se se a alternativa que os Democratas parecem oferecer a uma liderança Republicana não é, afinal de contas, "mais do mesmo". Ora, a alternativa, parece-me, não é difícil de entrever, ou só é difícil se não percebermos o que o projecto ideológico do GOP pretende a médio-longo prazo. Para um candidato do partido Democrata, o objectivo central só pode ser este: evitar que o extremismo conservador do GOP acabe com a viabilidade dos seus programas sociais centrais, da Social Security ao Medicare/Medicaid, e garantir espaço de manobra para introduzir outras medidas no futuro. Os sucessivos cortes de impostos que os ricos compraram a Bush e o delírio militarista da sua administração comprometem seriamente a médio prazo a sustentabilidade do Estado social norte-americano - que já está longe de ser o mais generoso quando o comparamos com outros países prósperos (o inverso é, aliás, a realidade).
As opções políticas em aberto são, portanto, estas: continuar o projecto Republicano cujo objectivo é "starve the beast" (isto é, o Estado), limitando radicalmente a sua dimensão para que qualquer aprendiz de libertário possa "drown it in the bathup", na expressão de Grover Norquist, um dos mais influentes ideólogos da extrema-direita económica norte-americana (sim, é "extrema-direita económica" com todas as letras); ou refundar a alternativa progressiva, assegurando a viabilidade dos programas do passado, e alargando o seu raio de acção no futuro.
É verdade que Obama e Clinton prometem uma série de medidas no plano social; as propostas concretas que apresentam agora não devem ser consideradas como definitiva, e que muita cross-fertilization pode acontecer no plano da policy se algum deles chegar à Casa Branca. A pergunta mais complicada é outra: como poderão eles pagar as suas promessas? Esta questão será absolutamente crucial num futuro debate com John Mccain e com extrema-direita económica americana. Como reduzir um défice que vai continuar a crescer não apenas durante a administração Bush, mas, tudo indica, num futuro próximo, dado que os reais efeitos dos tax cuts para os ricos só agora se vão começar a sentir? Esta foi, afinal, a grande estratégia/golpe de Bush & co.: a classe média recebia imediatamente o pouco dinheiro que os cortes nos impostos (em 2001 e 2003) lhe atribuiu – um truque que garantia o apoio imediato à polémica medida -, mas os ricos só agora é que começam a usufruir das verdadeiras e impressionantes vantagens do plano Republicano; o que significa que é agora, nos últimos anos desta década, que o efeito sobre as finanças públicas se tornará efectivamente explosivo.
Bill Clinton não teve medo, em 1992, de dizer durante a campanha que subiria os impostos nos escalões mais elevados de rendimento. Hoje isso parece incrivelmente mais difícil, e quem tentar algo semelhante terá que se confrontar com o mais elementar populismo da extrema-direita, que já anunciou que é contra qualquer futuro aumento, como um simples regresso aos níveis da era Clinton – que seria, dizem, o maior aumento de impostos da história do país: e necessarily so, dado que os cortes de Bush foram, simetricamente, os mais radicais alguma vez realizados por uma administração em Washington.
Alguns saltarão imediatamente para argumentar que este desafio é algo para o qual Hilary Clinton está mais preparada para enfrentar – ela, reza o mito, a combativa, corajosa e incansável defensora dos ideais Democratas. Estou menos certo da sustentabilidade deste argumento, menos pelas qualidades pessoais e políticas – hoje extraordinariamente inflacionadas, parece-me - da candidata do que parece ser a sua dificuldade em unir o país em torno de objectivos comuns, se eleita. Para tomar medidas impopulares, é preciso gozar de uma mobilização, de um crédito, de um carisma que, neste momento, só parece ao alcance de Barack Obama. É que, como lembra o editorial do insuspeito “The Economist” de há uns dias: «Anyone can get experts to produce policy papers. The trick is to forge consensus to get those policies enacted».
Ora, é claro que a linguagem de Obama é messiânica; é claro que ela é, num certo sentido, trans- ou mesmo anti-política; e é claro que ela é, a partir de um certo ponto, repetitiva e irritante. Mas achar que Obama só vale pelos discursos que profere é tão redutor e injusto como achar que Hilary só chegou onde chegou porque é a mulher do mais popular presidente norte-americano dos últimos tempos. Há outras coisas para além da imagem - como o voting record no Senado, onde Obama não só não fica nada atrás de Clinton na sua colocação à esquerda (aliás, demasiado à esquerda para "Bushistas" ortodoxos como Karl Rove), como não faz as cedências típicas de Hilary nos assuntos centrais, como os cortes de impostos – já para não falar na guerra (mas aqui, admito, havia condicionantes várias). Para mais, the proof is in the pudding: a mobilização política das massas – aquilo no qual Obama parece ser, para já, imbatível - nunca se fez em lado nenhum elencando aborrecidas medidas de policy; sempre dependeu de elementos trans- ou anti-políticos e, nos EUA, de preferência com uma retórica com raízes mais ou menos vagamente religiosas. A onda que Obama tem provocado no último mês e meio não escapa a ninguém na política americana. E a retórica política é, por definição, feita de sound bytes: Jimmy Carter ganhou apelando à “honestidade” do povo americano (oco, não é? Mas não sem sentido se pensarmos no que simbolizava Watergate na altura), e Bill Clinton, para além de curiosamente abusar da palavra “change” na campanha contra G.H.Bush, lançou o inesquecível ”É a economia, estúpido!” - básico, opaco e populista, claro, mas o suficiente para ressoar com as inquietações do americano médio (mais preocupado com a perda do poder de compra do que com a queda do Muro de Berlim e com a invasão do Koweit por Saddam Hussein e a consequente vitoriosa intervenção americana no Médio Oriente, eventos que faziam de Bush I um herói no mundo ocidental).
Desvalorizar a importância da retórica do Obama significa desvalorizar o facto de que uma campanha presidencial num país com o sistema eleitoral e com a cultura política dos EUA dificilmente podem ser ganhas com apelos ao self-interest – económico ou outro - de um grupo mais ou menos amplo de indivíduos (se fosse assim tão simples, é improvável que a working e a middle-class tivessem permitido aos Republicanos revolucionar a economia americana como o fizeram no último quarto de século).
O desafio com que se defrontam os Democratas não é a escolha entre a suposta “experiência” de Clinton e a “mudança” supostamente simbolizada por Obama; está entre a acomodação a uma situação insustentável a médio prazo do ponto de vista do financiamento das políticas sociais do Estado norte-americano e a coragem necessária para dizer que os super-ricos vão ter pagar o regresso da prosperidade partilhada. Mas esta não é só uma questão de coragem, como os mais zangados comentadores do lado Democrata – como Paul Krugman - parecem acreditar: é também uma questão de capacidade de mobilização da opinião pública e de criação de consensos amplos, trans-ideológicos e para além das coligações tradicionais, em torno de objectivos comuns. No fim da corrida das primárias Democratas vamos ver quem carrega este fardo.
Friday, February 8, 2008
The Raveonettes
No dia 20, no Santiago Alquimista, tocam os norte-americanos "The Raveonettes", numa mistura de costa Oeste (California) e Este (Nova Iorque), que acabam de editar o seu novo álbum. Para quem gosta de The Jesus and Mary Chain, Sonic Youth, The Smiths ou The Velvet Underground, não deve falhar.
Para saber mais, podem ir aqui e aqui.
Para saber mais, podem ir aqui e aqui.
O que realmente interessa e perigoso paradoxo no campo Democrata
O que interessa mesmo é a comparação entre isto e isto. É verdade que ainda é muito cedo para este tipo de sondagens, e falta muito caminho para percorrer até Novembro, mas as diferenças - relativas, e, no limite, não incontornáveis quando chegar o momento de desenhar e implementar os pacotes legislativos - entre Obama e Clinton é menos importante do que a sua electability na eleição contra o candidato Republicano. Agora que McCain parece afimar-se inequivocamente como o candidato do GOP, a questão é se Clinton consegue, no momento da verdade, garantir mais votos para além das bases do partido, que tanto a têm ajudado a vencer os estados-chave nesta corrida inicial. É sabido que Mccain tem capacidade de atrair o eleitorado moderado e independente. Se o partido Republicano conseguir garantir que os mais conservadores e religiosos - os que entretanto têm votado Romney e Huckabee - acabem por apoiar McCain, então parece-me que Clinton fica numa posição difícil, porque McCain tenderá a ser mais popular entre os que nao votam naqueles que votam no Partido Democrata por convicção.
Convém não esquecer que as eleições não se ganham pregando para os convertidos; que Clinton garanta os "seus" votos não é mais-valia nenhuma. Aliás, se Clinton for a candidata Democrata, parece claro que mais facilmente o eleitorado conservador se unirá em torno de McCain - mesmo que dele desconfie e discorde numa série de posições que fazem dele um 'quase-liberal' ao lado de Romney ou Huckabee - numa frente anti-Clinton. Uma candudatura Clinton, neste sentido, podia ser a melhor notícia para McCain (que, para mais, passaria a campanha a acusá-la de vira-casacas no que toca à sua posição perante a guerra do Iraque).
Por outras palavras, as fragilidades de Obama junto do eleitorado democrata tradicional podem ser as suas forças num duelo que se decidirá ao centro, entre moderados e independentes, e entre swing voters e swing states. Os considerados swing states são um pouco menos de 20 (ver figura 1 - agradeço à Mariana ter-ma passado), e é aqui que as baterias das campanhas vão naturalmente concentrar-se. Sim, Clinton ganhou em Nova Iorque e California na passada terça-feira - mas estes são estados tradicionalmente democratas. Obama, como candidato forte que também seria, teria toda a hipótese de os ganhar contra um candidato republicano. O que interessa saber é que como seria a sua performance em estados como o Missouri, onde Obama também venceu Clinton.
Quantos são os swing voters? Depende de como os definirmos. Mas se os virmos da forma mais simples - e a partir do trabalho de William Mayer, a que já fiz referência aqui - como votantes que podem acabar por votar num qualquer partido, cuja decisão só se define bastante próximo do acto de voto e que acham que nenhum candidato é visivelmente superior ao outro, podendo inclinar-se primeiro para um e acabar por votar no outro, então vale a pena olhar para os quadros seguintes. A operacionalização é feita através de uma pergunta - amostras são representativas a nível nacional: estes valores são a média de todas as eleições entre 1972 e 2004) - onde se pede aos votantes para, numa escala de -100 a 100 se identificarem com o candidato Democrata ou Republicano, e depois comparar com o seu voto final: vemos que no intervalo [-15;15] se situam 22,5% dos votantes. O último quadro, ainda retirado do livro do mesmo autor,
calcula a percentagem de swing voters - os tais que estão entre o intervalo definido acima - nas eleições, agora apresentadas uma a uma. Foram apenas 13% em 2004, mas o número baixa
sempre que um presidente segue para reeleição, como aconteceu em 1984 em relação a 1980 (segundo vs. primeiro mandato de Reagan), em 1996 em relação a 1992 (segundo vs. primeiro mandato de Clinton), e em 2004 em relação a 2000 (segundo vs. primeiro mandato de G.W.Bush). Por isso, é previsível que voltam a subir de novo para cima dos 20%: 1 em cada 5 votantes, talvez mesmo 4. São estes os votantes que realmente contam em Novembro.
A prática do Hillary Clinton-hating é lamentável, de facto. Mas é razoavelmente inútil moralizar aqui - a não ser talvez no interior do campo Democrata. A verdade é que o partido pode estar perante o paradoxo de ter Clinton como a melhor candidata para consumo interno - a mais fiel ao eleitorado das bases, ao discurso do Partido e talvez até a certas propostas de policy - e Obama como o melhor candidato para consumo externo - capaz de chamar gente nova para o partido, e que talvez nunca ou dificilmente votaria em Clinton. Talvez não seja impossível chegar a um acordo para os dois juntarem-se num ticket poderoso, mas eu tenho sérias dúvidas da viabilidade desta solução entre os candidatos; por exemplo, quem seria o candidato a presidente e quem se contentaria com o lugar de vice? De qualquer forma, era bom que isto se decidisse depressa, e não é apenas para bem dos nervos de Paul Krugman e de outros (onde me incluo), mas para a própria dignidade da candidatura e, já agora, do nível de civilidade da campanha daqui para a frente. Howard Dean já avisou:
«The narrow margin in delegates, and the growing likelihood that it will remain close, prompted concern on Wednesday from the chairman of the Democratic Party, Howard Dean, who said Tuesday night that Mr. Obama and Mrs. Clinton should avoid taking the nominating fight all the way to the party convention in August. “I think we will have a nominee sometime in the middle of March or April,” Mr. Dean said Wednesday on the NY1 cable news channel, “but if we don’t, then we’re going to have to get the candidates together and make some kind of an arrangement. Because I don’t think we can afford to have a brokered convention; that would not be good news for either party.”»
Amanhã há mais. Entretanto, para quem é insuspeito de simpatia pela política-espectáculo, isto é magistral.
Convém não esquecer que as eleições não se ganham pregando para os convertidos; que Clinton garanta os "seus" votos não é mais-valia nenhuma. Aliás, se Clinton for a candidata Democrata, parece claro que mais facilmente o eleitorado conservador se unirá em torno de McCain - mesmo que dele desconfie e discorde numa série de posições que fazem dele um 'quase-liberal' ao lado de Romney ou Huckabee - numa frente anti-Clinton. Uma candudatura Clinton, neste sentido, podia ser a melhor notícia para McCain (que, para mais, passaria a campanha a acusá-la de vira-casacas no que toca à sua posição perante a guerra do Iraque).
Por outras palavras, as fragilidades de Obama junto do eleitorado democrata tradicional podem ser as suas forças num duelo que se decidirá ao centro, entre moderados e independentes, e entre swing voters e swing states. Os considerados swing states são um pouco menos de 20 (ver figura 1 - agradeço à Mariana ter-ma passado), e é aqui que as baterias das campanhas vão naturalmente concentrar-se. Sim, Clinton ganhou em Nova Iorque e California na passada terça-feira - mas estes são estados tradicionalmente democratas. Obama, como candidato forte que também seria, teria toda a hipótese de os ganhar contra um candidato republicano. O que interessa saber é que como seria a sua performance em estados como o Missouri, onde Obama também venceu Clinton.
Quantos são os swing voters? Depende de como os definirmos. Mas se os virmos da forma mais simples - e a partir do trabalho de William Mayer, a que já fiz referência aqui - como votantes que podem acabar por votar num qualquer partido, cuja decisão só se define bastante próximo do acto de voto e que acham que nenhum candidato é visivelmente superior ao outro, podendo inclinar-se primeiro para um e acabar por votar no outro, então vale a pena olhar para os quadros seguintes. A operacionalização é feita através de uma pergunta - amostras são representativas a nível nacional: estes valores são a média de todas as eleições entre 1972 e 2004) - onde se pede aos votantes para, numa escala de -100 a 100 se identificarem com o candidato Democrata ou Republicano, e depois comparar com o seu voto final: vemos que no intervalo [-15;15] se situam 22,5% dos votantes. O último quadro, ainda retirado do livro do mesmo autor,
calcula a percentagem de swing voters - os tais que estão entre o intervalo definido acima - nas eleições, agora apresentadas uma a uma. Foram apenas 13% em 2004, mas o número baixa
sempre que um presidente segue para reeleição, como aconteceu em 1984 em relação a 1980 (segundo vs. primeiro mandato de Reagan), em 1996 em relação a 1992 (segundo vs. primeiro mandato de Clinton), e em 2004 em relação a 2000 (segundo vs. primeiro mandato de G.W.Bush). Por isso, é previsível que voltam a subir de novo para cima dos 20%: 1 em cada 5 votantes, talvez mesmo 4. São estes os votantes que realmente contam em Novembro.
A prática do Hillary Clinton-hating é lamentável, de facto. Mas é razoavelmente inútil moralizar aqui - a não ser talvez no interior do campo Democrata. A verdade é que o partido pode estar perante o paradoxo de ter Clinton como a melhor candidata para consumo interno - a mais fiel ao eleitorado das bases, ao discurso do Partido e talvez até a certas propostas de policy - e Obama como o melhor candidato para consumo externo - capaz de chamar gente nova para o partido, e que talvez nunca ou dificilmente votaria em Clinton. Talvez não seja impossível chegar a um acordo para os dois juntarem-se num ticket poderoso, mas eu tenho sérias dúvidas da viabilidade desta solução entre os candidatos; por exemplo, quem seria o candidato a presidente e quem se contentaria com o lugar de vice? De qualquer forma, era bom que isto se decidisse depressa, e não é apenas para bem dos nervos de Paul Krugman e de outros (onde me incluo), mas para a própria dignidade da candidatura e, já agora, do nível de civilidade da campanha daqui para a frente. Howard Dean já avisou:
«The narrow margin in delegates, and the growing likelihood that it will remain close, prompted concern on Wednesday from the chairman of the Democratic Party, Howard Dean, who said Tuesday night that Mr. Obama and Mrs. Clinton should avoid taking the nominating fight all the way to the party convention in August. “I think we will have a nominee sometime in the middle of March or April,” Mr. Dean said Wednesday on the NY1 cable news channel, “but if we don’t, then we’re going to have to get the candidates together and make some kind of an arrangement. Because I don’t think we can afford to have a brokered convention; that would not be good news for either party.”»
Amanhã há mais. Entretanto, para quem é insuspeito de simpatia pela política-espectáculo, isto é magistral.
Monday, February 4, 2008
Enquanto Chavez faz o papel de 'bonzinho' aos olhos da comunidade internacional...
...contribuindo para a libertação de prisioneiros das colombianas FARC, convém antes de mais não esquecer isto.
Sunday, February 3, 2008
Disseram "Nanny State"?
Agora os Conservadores britânicos têm planos para colocar uma enfermeira/o em casa de cada família com um recém-nascido - a defesa literal do "Nanny State", o mesmo que tantos ataques tem recebido da direita anglo-saxónica no último terço de século.
A política social dos tories vira à esquerda - nesta área do child care, mais do que o New Labour de Brown.
A política social dos tories vira à esquerda - nesta área do child care, mais do que o New Labour de Brown.
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Saturday, February 2, 2008
Friday, February 1, 2008
Bye bye Obama
Em jeito de complemento do P.S. do post anterior, esta imagem retirada do blog de Paul Krugman.
Os Republicanos terão no futuro, se Clinton for a candidata Democrata, oportunidade para agradecer intensamente a mensagem do marketing político da campanha de Obama.
The Edwards effect
Pelo incontornável Paul Krugman.
P.S. - Uma das questões onde Clinton e Obama divergem é nos planos para a reforma da saúde. Dada a importância, mais do que simbólica, verdadeiramente crucial para a vida de dezenas de milhões de americanos, desta questão; e dada a incapacidade de Obama perceber ou valorizar as vantagens de um sistema universal e obrigatório, este é provavelmente o ponto que realmente separa os candidatos. E não é possível apoiar um candidato que não defende um sistema de saúde universal e obrigatório - por muitas dificuldades de implementação que o sistema proposta por Hillary Clinton venha a encontrar.
P.S. - Uma das questões onde Clinton e Obama divergem é nos planos para a reforma da saúde. Dada a importância, mais do que simbólica, verdadeiramente crucial para a vida de dezenas de milhões de americanos, desta questão; e dada a incapacidade de Obama perceber ou valorizar as vantagens de um sistema universal e obrigatório, este é provavelmente o ponto que realmente separa os candidatos. E não é possível apoiar um candidato que não defende um sistema de saúde universal e obrigatório - por muitas dificuldades de implementação que o sistema proposta por Hillary Clinton venha a encontrar.
O outro défice
Quem assiste agora em directo ao debate entre Obama e Clinton na CNN não pode deixar de confirmar algo que me insatisfaz desde o início desta campanha: a falta de imaginação e linguagem moral dos candidatos democratas; e sem Edwards na corrida, o problema é ainda mais agudo. Não há uma única referência a "igualdade", "liberdade", "justiça", "solidariedade", ou qualquer outro valor moral-político fundacional. Menções vagas a "obrigação moral" ou ao "sonho americano" is as far as it goes, a par de muitos exemplos concretos das dificuldades quotidianas que muitos indivíduos e famílias americanas enfrentam. Mas estes exemplos, apesar de reais e vívidos, não são nunca enquadrados por uma arco doutrinário que possa colocar carne moral e filosófica no esqueleto constituído pela soma dos casos reais sistematicamente descritos pelos candidatos.
Não faltará reflexão moral, filosófica, doutrinária ao partido Democrata? (É por isso que a retórica quasi-religiosa - poderosa, mas perigosamente oca - de Obama tem a centralidade e o impacto que tem).
Não faltará reflexão moral, filosófica, doutrinária ao partido Democrata? (É por isso que a retórica quasi-religiosa - poderosa, mas perigosamente oca - de Obama tem a centralidade e o impacto que tem).
Wednesday, January 30, 2008
A despedida anunciada II
John Edwards acabou de apresentar a sua desistência à corrida para a nomeação Democrata, com o cenário semi-destruído de Nova Orleães como pano de fundo. Foi um discurso notável, cheio de alusões à responsabilidade colectiva por garantir a realidade de uma vida decente a cada americano.
Oxalá os outros candidatos saibam falar para os que, e em nome dos quais Edwards falava - aqueles que, sem casa ou seguro de saúde, lhe pediram, em pessoa, para que ele não se esquecesse deles.
Sem Obama e Clinton na mesma corrida, Edwards teria tido outras hipóteses.
Update: o texto completo do discurso de hoje de Edwards está disponível aqui.
A diferença entre capitalismo empresarial e capitalismo gestionário
«35 per cent of US and 20 per cent of British entrepreneurs are dyslexic. Only 1 per cent of corporate managers in the US have dyslexia.»
in Prospect, January 2008, p.7
in Prospect, January 2008, p.7
Thursday, January 24, 2008
Mais impressões
A corrida democrata aqueceu nos últimos pelos piores motivos: ataques pessoais e "lavagem de roupa suja" pessoal e institucional. John Kerry já compara a campanha dos Clinton contra Obama à infâme propaganda lançada pelos Republicanos na eleição de 2004 que colocava em causa os seus desempenhos militares. Aqui, na táctica do golpe baixo, Hillary parece ter a lição melhor estudada que Obama.
Mas não é só aqui. No debate de segunda-feira ficaram visíveis alguma diferenças entre os candidatos que podem determinar o evoluir da campanha e a adesão dos eleitores: não é só o facto de Hilary falar mais rápido e de forma assertiva, transpirando confiança, enquanto Obama gagueja sistematicamente (mesmo que isso o torne mais 'humano'); e não é só o facto de Obama ter percebido que o discurso da "mudança" e "unir" os amernicanos não escapa à lei dos rendimentos decrescentes; é, parece-me, o discurso de Obama ser órfao de referências doutrinais mais claras - que não de contornos quasi-religiosos - e de uma história de exemplos de política (no sentido da policy) que tenham funcionado no passado para ajudar os americanos a sair da crise. Assim, se Hilary Clinton não estivesse na corrida, Obama podia reivindicar de forma mais clara o legado de Bill Clinton. Para quem se recorda, não só Clinton venceu as presidenciais de 1992 surfando precisamente na onda do discurso da "mudança", como concorreu com uma plataforma de política económica que retirou os EUA de uma situação complicada (daí o sucesso do "é a economia, estúpido!") e relançou o crescimento, estimulando a maior vaga de criação de emprego de sempre que os EUA viverma em tão curto espaço de tempo. Quem lê as propostas de policy de Obama no seu livro vê que ele não procura reiventar a roda: a receita é basicamente a mesma Clintonomics mais o choque energético, aliás comum a todos os candidatos.
Ora, não só Obama não pode reivindicar a mesma capacidade de instituir a mudança - e carisma, uma das armas de Bill, não lhe parece faltar - como não pode elogiar a política económica dos nineties, pela simples razão que Hillary é quem, mesmo infra-discursivamente e sem nunca o tornar explícito, transporta essa mensagem. Bill não está na campanha apenas por causa dos seus dotes de orador e entertainer de multidões: ele representa a prosperidade da década passada que só o rebentamento da bolha da new economy abalroou.
Com isto, Obama vê-se na "obrigação" de acabar por tecer vagos - mas politicamente infâmes, digo eu - elogios a Ronald Reagan, porque na história recente não há ninguém, para além de Clinton, em quem um candidato democrata se possa inspirar - e porque, claro, está à caça desse recurso tão importante que se chama swing voter (ler um capítulo do livro aqui).
Dito isto, a verdade é que está tudo em aberto, até porque dificilmente Obama perderá na Carolina do Sul neste sábado - e margem maior ou menor da sua vitória pode ser mais importante que o primeiro lugar em si.
É importante ter em consideração que a batalha democrata não acaba com uma suposta vitória em Novembro. Há eleições para o Congresso agora em 2008 e depois em 2010 (agradeço ao João por me ter esclarecido esta questão das datas das eleições). É extremamente importante para o partido Democrata ganhar de novo a Câmara dos Representantes como o fez em 2006. Foi isto que Clinton não conseguiu - e o facto de ter perdido o Congresso em 1994 moldou não apenas o seu discurso como também as suas políticas: sem a pressão de um Congresso nas mãos dos Republicanos, é bem possível que famoso "end of welfare as we know it" que serviu de inspiração política à welfare reform de 1996 não tivesse acontecido, e a dimensão mais punitiva do workfare na versão americana tivesse ficado na gaveta.
É por isso que é extremamente importate para os Democratas eleger alguém que tenha capital político suficiente não apenas para ganhar em Novembro, mas para inspirar o país e mantê-lo unido à la longue. Hillary Clinton pode garantir as bases democratas o suficiente para beneficiar de um eventual (e legítimo!) descontentamento do eleitorado com uma administração Republicana - mas McCain, no caso de ser o candidato Republicano, promete ser um osso duro de roer. Mas mesmo que Hilary ganhe as presidenciais, a questão é: concederá o eleitorado americano mais poder, na prática, a uma administração Clinton, renovando a sua vantagem no Congresso? Ou os anti-corpos que gerou (ela e Bill, claro) ao longo dos anos em inúmeros sectores da sociedade americana falariam mais alto? Esta questão é tão fulcral como difícil de responder agora. Mas uma potencial penetração de Barack Obama nos swing voters desiludidos com a administração Bush pode ser não apenas decisiva para Novembro próximo; ela pode ser central também para obter o apoio que permita manter o país unido por trás de uma administração Democrata. Isto é importante porque, sem amplos consensos institucionais, é muito difícil fazer mudanças políticas nos EUA. Mas este é um tema para outro post, que trabalhe a questão da fragmentação de poder no sistema político americano.
A ideia crucial é simples, porém: para mudar a América, os Democratas precisam de ganhar em 2008 e em 2010, e para isso precisam de ter uma plataforma filosófica ou axiológica - para além da política enquanto policy- que reúna consenso. Claramente, é neste tipo de plataforma que Obama aposta. E aposto que quando ele reza não gagueja.
P.S. - Claro, não falei de Edwards, que para muitos - acho que me incluo no lote - ganhou o debate de segunda-feira. O seu problema é ter dois candidatos muito fortes na corrida. Deixou, parece-me, de falar sistematicamente de corporate greed e passou, no seu Estado, ao ponto forte do seu discurso: the war on poverty.
Ou melhor, pensado bem, o problema não é apenas aquele que referi duas linhas acima. O seu grande problema é que está, simplesmente, do lado errado do Atlântico.
Mas não é só aqui. No debate de segunda-feira ficaram visíveis alguma diferenças entre os candidatos que podem determinar o evoluir da campanha e a adesão dos eleitores: não é só o facto de Hilary falar mais rápido e de forma assertiva, transpirando confiança, enquanto Obama gagueja sistematicamente (mesmo que isso o torne mais 'humano'); e não é só o facto de Obama ter percebido que o discurso da "mudança" e "unir" os amernicanos não escapa à lei dos rendimentos decrescentes; é, parece-me, o discurso de Obama ser órfao de referências doutrinais mais claras - que não de contornos quasi-religiosos - e de uma história de exemplos de política (no sentido da policy) que tenham funcionado no passado para ajudar os americanos a sair da crise. Assim, se Hilary Clinton não estivesse na corrida, Obama podia reivindicar de forma mais clara o legado de Bill Clinton. Para quem se recorda, não só Clinton venceu as presidenciais de 1992 surfando precisamente na onda do discurso da "mudança", como concorreu com uma plataforma de política económica que retirou os EUA de uma situação complicada (daí o sucesso do "é a economia, estúpido!") e relançou o crescimento, estimulando a maior vaga de criação de emprego de sempre que os EUA viverma em tão curto espaço de tempo. Quem lê as propostas de policy de Obama no seu livro vê que ele não procura reiventar a roda: a receita é basicamente a mesma Clintonomics mais o choque energético, aliás comum a todos os candidatos.
Ora, não só Obama não pode reivindicar a mesma capacidade de instituir a mudança - e carisma, uma das armas de Bill, não lhe parece faltar - como não pode elogiar a política económica dos nineties, pela simples razão que Hillary é quem, mesmo infra-discursivamente e sem nunca o tornar explícito, transporta essa mensagem. Bill não está na campanha apenas por causa dos seus dotes de orador e entertainer de multidões: ele representa a prosperidade da década passada que só o rebentamento da bolha da new economy abalroou.
Com isto, Obama vê-se na "obrigação" de acabar por tecer vagos - mas politicamente infâmes, digo eu - elogios a Ronald Reagan, porque na história recente não há ninguém, para além de Clinton, em quem um candidato democrata se possa inspirar - e porque, claro, está à caça desse recurso tão importante que se chama swing voter (ler um capítulo do livro aqui).
Dito isto, a verdade é que está tudo em aberto, até porque dificilmente Obama perderá na Carolina do Sul neste sábado - e margem maior ou menor da sua vitória pode ser mais importante que o primeiro lugar em si.
É importante ter em consideração que a batalha democrata não acaba com uma suposta vitória em Novembro. Há eleições para o Congresso agora em 2008 e depois em 2010 (agradeço ao João por me ter esclarecido esta questão das datas das eleições). É extremamente importante para o partido Democrata ganhar de novo a Câmara dos Representantes como o fez em 2006. Foi isto que Clinton não conseguiu - e o facto de ter perdido o Congresso em 1994 moldou não apenas o seu discurso como também as suas políticas: sem a pressão de um Congresso nas mãos dos Republicanos, é bem possível que famoso "end of welfare as we know it" que serviu de inspiração política à welfare reform de 1996 não tivesse acontecido, e a dimensão mais punitiva do workfare na versão americana tivesse ficado na gaveta.
É por isso que é extremamente importate para os Democratas eleger alguém que tenha capital político suficiente não apenas para ganhar em Novembro, mas para inspirar o país e mantê-lo unido à la longue. Hillary Clinton pode garantir as bases democratas o suficiente para beneficiar de um eventual (e legítimo!) descontentamento do eleitorado com uma administração Republicana - mas McCain, no caso de ser o candidato Republicano, promete ser um osso duro de roer. Mas mesmo que Hilary ganhe as presidenciais, a questão é: concederá o eleitorado americano mais poder, na prática, a uma administração Clinton, renovando a sua vantagem no Congresso? Ou os anti-corpos que gerou (ela e Bill, claro) ao longo dos anos em inúmeros sectores da sociedade americana falariam mais alto? Esta questão é tão fulcral como difícil de responder agora. Mas uma potencial penetração de Barack Obama nos swing voters desiludidos com a administração Bush pode ser não apenas decisiva para Novembro próximo; ela pode ser central também para obter o apoio que permita manter o país unido por trás de uma administração Democrata. Isto é importante porque, sem amplos consensos institucionais, é muito difícil fazer mudanças políticas nos EUA. Mas este é um tema para outro post, que trabalhe a questão da fragmentação de poder no sistema político americano.
A ideia crucial é simples, porém: para mudar a América, os Democratas precisam de ganhar em 2008 e em 2010, e para isso precisam de ter uma plataforma filosófica ou axiológica - para além da política enquanto policy- que reúna consenso. Claramente, é neste tipo de plataforma que Obama aposta. E aposto que quando ele reza não gagueja.
P.S. - Claro, não falei de Edwards, que para muitos - acho que me incluo no lote - ganhou o debate de segunda-feira. O seu problema é ter dois candidatos muito fortes na corrida. Deixou, parece-me, de falar sistematicamente de corporate greed e passou, no seu Estado, ao ponto forte do seu discurso: the war on poverty.
Ou melhor, pensado bem, o problema não é apenas aquele que referi duas linhas acima. O seu grande problema é que está, simplesmente, do lado errado do Atlântico.
Oh, chamem a ASAE
High Mercury Levels Are Found in Tuna Sushi.
P.S. - Por falar em ASAE, a comparação que José Manuel Fernandes faz no seu editorial do 'Público' desta quarta-feira entre o «inefável presidente da ASAE» e Torquemada, «o primeiro grande inquisidor de Espanha, o carrasco dos judeus em nome da pureza da moral e dos costumes», é das mais despropositadas que li nos últimos tempos - e garanto-vos que li muitas. Qualquer dia, claro, ainda o acusam de anti-semitismo. E com isto já dei uma dica à Esther Mucznik, dado que este é um dos seus hobbies preferidos.
P.S. - Por falar em ASAE, a comparação que José Manuel Fernandes faz no seu editorial do 'Público' desta quarta-feira entre o «inefável presidente da ASAE» e Torquemada, «o primeiro grande inquisidor de Espanha, o carrasco dos judeus em nome da pureza da moral e dos costumes», é das mais despropositadas que li nos últimos tempos - e garanto-vos que li muitas. Qualquer dia, claro, ainda o acusam de anti-semitismo. E com isto já dei uma dica à Esther Mucznik, dado que este é um dos seus hobbies preferidos.
O futuro?
EUA
Alunos pagos a 8 dólares à hora para frequentarem aulas de apoio
2008-01-24, 00h37
Washington, 24 Jan (Lusa) - Duas escolas norte-americanas da Geórgia (sul), insatisfeitas com os resultados escolares medíocres dos seus educandos, decidiram pagar aos maus alunos oito dólares à hora para frequentarem aulas de apoio.
"Começámos terça-feira. Os alunos estão entusiasmados. Estavam todos presentes", congratulou-se o reitor do liceu Creekside Hide, de Fairburn, perto de Atlanta.
Vinte alunos deste liceu e outros tantos do colégio vizinho Bear Creek foram seleccionados pelos maus resultados e convidados a frequentar as aulas de apoio de Matemática e de Ciências recebendo em troca uma retribuição monetária.
Duas vezes por semana, podem seguir as aulas de apoio que têm a duração de duas horas. A oito dólares à hora, podem ganhar até 32 dólares por semana, se forem assíduos.
"Na nossa comunidade é mesmo preciso ser-se criativo para interessar alguns alunos. Penso que este convite tem pernas para andar", sublinhou o reitor do liceu, com uma população escolar de 2.500 alunos.
A iniciativa, lançada a título experimental durante 15 semanas, é financiada por uma fundação privada.
No final da experiência, se os alunos conseguirem obter um "Bom" ou mais nos seus deveres de Ciências e de Matemática, poderão mesmo meter ao bolso um bónus de 125 dólares, indicou o reitor.
"Oferecemos outros programas de apoio, mas geralmente são os alunos que não têm necessidade que vêm, e aqueles que precisam é muito difícil interessá-los", concluiu.
Alunos pagos a 8 dólares à hora para frequentarem aulas de apoio
2008-01-24, 00h37
Washington, 24 Jan (Lusa) - Duas escolas norte-americanas da Geórgia (sul), insatisfeitas com os resultados escolares medíocres dos seus educandos, decidiram pagar aos maus alunos oito dólares à hora para frequentarem aulas de apoio.
"Começámos terça-feira. Os alunos estão entusiasmados. Estavam todos presentes", congratulou-se o reitor do liceu Creekside Hide, de Fairburn, perto de Atlanta.
Vinte alunos deste liceu e outros tantos do colégio vizinho Bear Creek foram seleccionados pelos maus resultados e convidados a frequentar as aulas de apoio de Matemática e de Ciências recebendo em troca uma retribuição monetária.
Duas vezes por semana, podem seguir as aulas de apoio que têm a duração de duas horas. A oito dólares à hora, podem ganhar até 32 dólares por semana, se forem assíduos.
"Na nossa comunidade é mesmo preciso ser-se criativo para interessar alguns alunos. Penso que este convite tem pernas para andar", sublinhou o reitor do liceu, com uma população escolar de 2.500 alunos.
A iniciativa, lançada a título experimental durante 15 semanas, é financiada por uma fundação privada.
No final da experiência, se os alunos conseguirem obter um "Bom" ou mais nos seus deveres de Ciências e de Matemática, poderão mesmo meter ao bolso um bónus de 125 dólares, indicou o reitor.
"Oferecemos outros programas de apoio, mas geralmente são os alunos que não têm necessidade que vêm, e aqueles que precisam é muito difícil interessá-los", concluiu.
«Is it wicked not to care?»...
...perguntam os Belle and Sebastian. A resposta é, obviamente, só uma: yes, it is.
Wednesday, January 23, 2008
Invisíveis
Quando os candidatos do Partido Democrata se referem aos problemas económicos do país, parece que as desigualdades que merecem real atenção se resumem ao gap crescente entre a middle class e os hiper-ricos - os tais que têm comprado os taxs cuts com que a Administração Bush os tem confortado ao longo deste anos. A classe média está falling behind, dizem-nos; a mobilidade ascendente, esse mito tão americano, está bloqueada. Isto é verdade.
Mas, com a excepção de algumas referências de John Edwards ao problema da pobreza persistente, os candidatos falam muito pouco daquela que Gunnar Myrdal em 1963, no seu clássico Challenge to Affluence - que pintava o futuro da economia americana em tons escuros, antecipando a sua incapacidade para lidar com a futura (hoje actualíssima) vaga de desindustrialização que iria abanar o aparelho produtivo nas décadas seguintes - descreveu como aquela «unprivileged class of unemployed, unemployables and underemployed who more and more hopelessly set apart from the nation at large and do not share in its life, its ambitions and its achievements».
Em campanha eleitorial, porém, nada disto é de estranhar. Os mais pobres praticamente não votam; nem fazem donativos para campanhas. No dia em que o fizerem, como diz o outro, é porque provavelmente deixaram de ser pobres.
Mas, com a excepção de algumas referências de John Edwards ao problema da pobreza persistente, os candidatos falam muito pouco daquela que Gunnar Myrdal em 1963, no seu clássico Challenge to Affluence - que pintava o futuro da economia americana em tons escuros, antecipando a sua incapacidade para lidar com a futura (hoje actualíssima) vaga de desindustrialização que iria abanar o aparelho produtivo nas décadas seguintes - descreveu como aquela «unprivileged class of unemployed, unemployables and underemployed who more and more hopelessly set apart from the nation at large and do not share in its life, its ambitions and its achievements».
Em campanha eleitorial, porém, nada disto é de estranhar. Os mais pobres praticamente não votam; nem fazem donativos para campanhas. No dia em que o fizerem, como diz o outro, é porque provavelmente deixaram de ser pobres.
Monday, January 21, 2008
Transparência?
A CNN explica bem o que se passou (ou passa) com os delegados democratas nas primárias do Nevada: já há local delegates (que Clinton venceu, correspondendo aos 51% que obteve), mas ainda não há national delegates, cuja estimativa dá vantagem a Obama sobre Clinton (13-12). Mas este número só ficará definido em Abril, durante a convenção estadual do Partido Democrata.
Como se percebe, isto é tudo menos simples. Gostava de saber a percentagem, daqueles que votam, que realmente percebem como isto funciona.
Numa escala internacional de transparência do sistema eleitoral, os EUA teriam que ficar muito mal classificados.
Como se percebe, isto é tudo menos simples. Gostava de saber a percentagem, daqueles que votam, que realmente percebem como isto funciona.
Numa escala internacional de transparência do sistema eleitoral, os EUA teriam que ficar muito mal classificados.
Sunday, January 20, 2008
Onde é que nós já vimos isto - há umas décadas, noutro continente, mas sob a mesma bandeira ideológica?
Venezuela
Leite, farinha, arroz, frango e outros produtos "desapareceram" dos supermercados
2008-01-20, 21h38
Caracas, 20 Jan (Lusa) - Os problemas de abastecimento alimentar intensificaram-se nas últimas semanas, com o desaparecimento das prateleiras dos supermercados de produtos como o leite, queijos, ovos, açúcar, farinha de trigo, frango e ovos, entre outros.
A agravar a situação, quando alguns destes produtos reaparecem momentaneamente, os preços de venda são superiores aos fixados pelo Governo, nalguns casos são 40 por cento mais altos que em Dezembro de 2007, altura em que a inflação acumulada, segundo o Banco Central da Venezuela, atingiu os 22,5 por cento.
(...)
Leite, farinha, arroz, frango e outros produtos "desapareceram" dos supermercados
2008-01-20, 21h38
Caracas, 20 Jan (Lusa) - Os problemas de abastecimento alimentar intensificaram-se nas últimas semanas, com o desaparecimento das prateleiras dos supermercados de produtos como o leite, queijos, ovos, açúcar, farinha de trigo, frango e ovos, entre outros.
A agravar a situação, quando alguns destes produtos reaparecem momentaneamente, os preços de venda são superiores aos fixados pelo Governo, nalguns casos são 40 por cento mais altos que em Dezembro de 2007, altura em que a inflação acumulada, segundo o Banco Central da Venezuela, atingiu os 22,5 por cento.
(...)
Claro...
...que há uma boa explicação para o facto que apontei no post anterior: todos estão distraídos. A começar pela própria CNN, cujo grande destaque do seu site é, no momento em que escrevo, nem mais nem menos que o último elemento da telenovela gerada em torno do desaparecimento de Madeleine McCann.
Isto sim, interessa ao mundo.
Isto sim, interessa ao mundo.
Wait a second....
Hillary Clinton teve mais votos do que Barak Obama em Nevada: 51% contra 45%. Certo. Mas Obama teve mais delegados: dos 25 em disputa, Obama ficou com 13 e Clinton com 12 (o que aliás permite ao senador de Illinois aumentar a sua vantagem de 1 para 2 no total de delegados atribuídos até agora - por muito pouco que isto conte nesta altura do campeonato, como é natural).
Estranha-me que ninguém - pelo menos a imprensa, dado que parece normal que Obama não queira entrar fazer muito barulho por causa disto - pareça valorizar isto: o que conta são os delegados, não o popular vote.
Estranha-me que ninguém - pelo menos a imprensa, dado que parece normal que Obama não queira entrar fazer muito barulho por causa disto - pareça valorizar isto: o que conta são os delegados, não o popular vote.
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Friday, January 18, 2008
Thursday, January 17, 2008
Wednesday, January 16, 2008
Por falar em socializar o risco....
Reino Unido
Gordon Brown admite nacionalizar o banco Northern Rock
2008-01-16, 00h49
Londres, 16 Jan (Lusa) - O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, declarou terça-feira que o seu governo coloca seriamente a possibilidade de nacionalizar Northern Rock, o banco britânico atingido pela crise mundial do crédito, se não se resolver a sua crise financeira.
Numa entrevista concedida à cadeia ITV, Brown indicou que, embora "várias" empresas privadas tenham manifestado interesse no banco, a nacionalização poderá ser necessária para preservar a estabilidade da economia britânica.
"Dado que a estabilidade é um assunto chave, consideraremos todas as opções, e isso inclui fazer com que a empresa passe a ser propriedade pública para depois transferi-la de novo para o sector privado", declarou.
"Sim, a nacionalização é uma das opções a ter em conta", reforçou.
Gordon Brown admite nacionalizar o banco Northern Rock
2008-01-16, 00h49
Londres, 16 Jan (Lusa) - O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, declarou terça-feira que o seu governo coloca seriamente a possibilidade de nacionalizar Northern Rock, o banco britânico atingido pela crise mundial do crédito, se não se resolver a sua crise financeira.
Numa entrevista concedida à cadeia ITV, Brown indicou que, embora "várias" empresas privadas tenham manifestado interesse no banco, a nacionalização poderá ser necessária para preservar a estabilidade da economia britânica.
"Dado que a estabilidade é um assunto chave, consideraremos todas as opções, e isso inclui fazer com que a empresa passe a ser propriedade pública para depois transferi-la de novo para o sector privado", declarou.
"Sim, a nacionalização é uma das opções a ter em conta", reforçou.
Isto até seria cómico....
...se não fosse antes de tudo trágico: Bush a pedir a líderes e a empresários sauditas que se lembrem que o preço do petróleo “[has] affected our families”; “Paying more for gasoline hurts some of the American families.”
Ainda me lembro de Rupert Murdoch sonhar em voz alta com o barril de petróleo a 20 euros nas vésperas da invasão do Iraque em 2003: «greatest thing to come out of this [war]».
Ainda me lembro de Rupert Murdoch sonhar em voz alta com o barril de petróleo a 20 euros nas vésperas da invasão do Iraque em 2003: «greatest thing to come out of this [war]».
Tuesday, January 15, 2008
Os lucros são privados; e os riscos, públicos?
Queda de gigante do Citigroup
Maior banco dos EUA apresenta prejuízos mais altos de sempre
Foi um dia negro para todas as bolsas. Os mercados estão a ser pressionados por uma má notícia: o Citigroup, o maior banco norte-americano, anunciou prejuízos superiores a seis mil e seiscentos milhões de euros, no quarto trimestre.
São os piores resultados de sempre em quase 200 anos de história do Citigroup. Este resultado reflecte o impacto da crise no crédito hipotecário nos Estados Unidos, em especial no crédito de alto risco. O banco pretende agora reduzir quatro mil e 200 postos de trabalho. Ou seja, cerca de seis por cento do número total de colaboradores. Irá ainda haver uma redução de 41 por cento nos dividendos.
Vamos ver o que faz Bush.
Maior banco dos EUA apresenta prejuízos mais altos de sempre
Foi um dia negro para todas as bolsas. Os mercados estão a ser pressionados por uma má notícia: o Citigroup, o maior banco norte-americano, anunciou prejuízos superiores a seis mil e seiscentos milhões de euros, no quarto trimestre.
São os piores resultados de sempre em quase 200 anos de história do Citigroup. Este resultado reflecte o impacto da crise no crédito hipotecário nos Estados Unidos, em especial no crédito de alto risco. O banco pretende agora reduzir quatro mil e 200 postos de trabalho. Ou seja, cerca de seis por cento do número total de colaboradores. Irá ainda haver uma redução de 41 por cento nos dividendos.
Vamos ver o que faz Bush.
Se fosse um país muçulmano...
...já o mundo livre estava em ebulição - e bem - contra a restrição da liberdade de expressão. Como é a 'capitalista' China...
[obrigado, Susana, pela foto]
China
Citroên pede desculpa pelo anúncio com retrato distorcido de Mao Zedong
2008-01-15, 12h45
Pequim, Jan 15 (Lusa) - A empresa automóvel francesa Citroën pediu desculpas à China pelo anúncio publicitário em que utilizou uma imagem distorcida do famoso retrato de Mao Zedong, anunciou hoje a imprensa estatal chinesa.
O anúncio apareceu, entre outras publicações espanholas, no jornal diário El Pais e mostrava o famoso retrato do líder revolucionário chinês com um rosto irónico, de boca cerrada, sobrolho franzido e olhos vesgos.
Os criativos da Citroën modificaram o retrato de Mao Zedong que está colocado diante da Praça de Tiananmen, centro político histórico de Pequim.
"Somos líderes, mas na Citroën, a revolução nunca termina", dizia o slogan do anúncio em referência ao volume de vendas que a empresa considera um sucesso e pretende repetir em 2008.
"A imagem foi distorcida (...) e a imagem de Mao está muito estranha", referiu o jornal estatal chinês Global Times, acrescentando que o anúncio causou protestos e incómodo entre os chineses que vivem em Espanha.
Também surgiram críticas online ao anúncio. "Enquanto chinês sinto-me bastante insultado quando vi o anúncio", escreveu um internauta no portal Tianya (www.tianya.com). "Não só é um insulto ao presidente Mao, mas a toda a nação chinesa", conclui.
Muitos chineses admiram Mao, que consideram ser responsável pela união do país depois da guerra civil de 1945-1949.
De acordo com a mesma fonte, a Citroën já emitiu um pedido de desculpas e comprometeu-se a não voltar a utilizar a publicidade.
"A Citroën pede profundas desculpas por qualquer desagrado causado pelo anúncio espanhol da Citroën e pede desculpas a todos os que possam ter sido ofendidos por ele", lê-se num comunicado da empresa, citado pela imprensa chinesa.
"A Citroën reitera a sua amizade pelo povo chinês e respeita grandemente as figuras e símbolos chineses", afirmou à imprensa, um porta-voz da empresa na China.
[obrigado, Susana, pela foto]
China
Citroên pede desculpa pelo anúncio com retrato distorcido de Mao Zedong
2008-01-15, 12h45
Pequim, Jan 15 (Lusa) - A empresa automóvel francesa Citroën pediu desculpas à China pelo anúncio publicitário em que utilizou uma imagem distorcida do famoso retrato de Mao Zedong, anunciou hoje a imprensa estatal chinesa.
O anúncio apareceu, entre outras publicações espanholas, no jornal diário El Pais e mostrava o famoso retrato do líder revolucionário chinês com um rosto irónico, de boca cerrada, sobrolho franzido e olhos vesgos.
Os criativos da Citroën modificaram o retrato de Mao Zedong que está colocado diante da Praça de Tiananmen, centro político histórico de Pequim.
"Somos líderes, mas na Citroën, a revolução nunca termina", dizia o slogan do anúncio em referência ao volume de vendas que a empresa considera um sucesso e pretende repetir em 2008.
"A imagem foi distorcida (...) e a imagem de Mao está muito estranha", referiu o jornal estatal chinês Global Times, acrescentando que o anúncio causou protestos e incómodo entre os chineses que vivem em Espanha.
Também surgiram críticas online ao anúncio. "Enquanto chinês sinto-me bastante insultado quando vi o anúncio", escreveu um internauta no portal Tianya (www.tianya.com). "Não só é um insulto ao presidente Mao, mas a toda a nação chinesa", conclui.
Muitos chineses admiram Mao, que consideram ser responsável pela união do país depois da guerra civil de 1945-1949.
De acordo com a mesma fonte, a Citroën já emitiu um pedido de desculpas e comprometeu-se a não voltar a utilizar a publicidade.
"A Citroën pede profundas desculpas por qualquer desagrado causado pelo anúncio espanhol da Citroën e pede desculpas a todos os que possam ter sido ofendidos por ele", lê-se num comunicado da empresa, citado pela imprensa chinesa.
"A Citroën reitera a sua amizade pelo povo chinês e respeita grandemente as figuras e símbolos chineses", afirmou à imprensa, um porta-voz da empresa na China.
Monday, January 14, 2008
Irrational exuberance
Boa parte da prosperidade dos últimos anos das famílias americanas assentou na valorização da propriedade imobiliária. A irrational exuberance dos bancos - que passaram a emprestar dinheiro de forma cada vez menos criteriosa - alimenta a dos consumidores - que exploraram a subida do valor da propriedade e a criativa engenharia financeira permitida pelas entidades credoras para se endividarem ainda mais -, levando, quase inevitavelmente, à criação de uma bolha. Isto é o que acontece quando a bolha rebenta.
Entretanto, em Espanha...
...Há eleições legislativas no início de Março. Uma sondagem recente atribui uma vantagem de 3% ao PSOE, ainda que o PP tenha recuperado 2,5% em relação ao mês de Dezembro.
Sunday, January 13, 2008
O Partido Conservador Português
A atitude do PCP em relação ao programa Novas Oportunidades tem sido verdadeiramente extraordinária. Ninguém fica espantado quando as críticas do “facilitismo por defeito” têm origem nos partidos da direita, mas quando o cepticismo e a má fé em doses industriais é oriunda do PCP, não deixa de ser elucidativo.
As mesmas operárias e operários fabris e empregadas e empregados de serviços que o PCP vê como “explorados” no lugar de trabalho e obviamente merecedores de um imediato aumento de salários e de outros benefícios laborais e sociais, quando abandonam o lugar de trabalho e entram no Centro Novas Oportunidades em que estão inscritos, deixam o seu estatuto de oprimidos e passam a ser alvos de um programa “facilitista” e da propaganda governamental. O PCP passa então a raciocinar exactamente da mesma forma que o desumano e egoísta patrão que está militantemente contra todo o tipo de “facilitismos” que enviem “sinais errados” aos trabalhadores, e que acha logicamente que qualquer aumento de salários deve ser “merecido”. O PCP está a favor da redistribuição salarial sem olhar a consequências, mas contra a redistribuição de diplomas e o reconhecimento das competências profissionais dos cidadãos/trabalhadores. O PCP, através da sua linha avançada conhecida por FENPROF, acha um “ataque” inconcebível que alguém possa sequer questionar a qualidade e fiabilidade do trabalho dos professores do ensino básico e secundário, mas não tem problemas em desprezar a seriedade do trabalho dos que levam a cabo os processos de reconhecimento, validação e certificação de competências dos cidadãos/trabalhadores. Os primeiros são intocáveis; os segundos são, provavelmente, uns aldrabões.
O PCP é, obviamente, o Partido Conservador Português.
As mesmas operárias e operários fabris e empregadas e empregados de serviços que o PCP vê como “explorados” no lugar de trabalho e obviamente merecedores de um imediato aumento de salários e de outros benefícios laborais e sociais, quando abandonam o lugar de trabalho e entram no Centro Novas Oportunidades em que estão inscritos, deixam o seu estatuto de oprimidos e passam a ser alvos de um programa “facilitista” e da propaganda governamental. O PCP passa então a raciocinar exactamente da mesma forma que o desumano e egoísta patrão que está militantemente contra todo o tipo de “facilitismos” que enviem “sinais errados” aos trabalhadores, e que acha logicamente que qualquer aumento de salários deve ser “merecido”. O PCP está a favor da redistribuição salarial sem olhar a consequências, mas contra a redistribuição de diplomas e o reconhecimento das competências profissionais dos cidadãos/trabalhadores. O PCP, através da sua linha avançada conhecida por FENPROF, acha um “ataque” inconcebível que alguém possa sequer questionar a qualidade e fiabilidade do trabalho dos professores do ensino básico e secundário, mas não tem problemas em desprezar a seriedade do trabalho dos que levam a cabo os processos de reconhecimento, validação e certificação de competências dos cidadãos/trabalhadores. Os primeiros são intocáveis; os segundos são, provavelmente, uns aldrabões.
O PCP é, obviamente, o Partido Conservador Português.
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Thursday, January 10, 2008
Electoral Compass USA
Deu Edwards.
Agora completo:
Your position in comparison with the candidates.You have responded to 36 propositions. Based on the responses you provided, you are the closest toJohn Edwards and you are the furthest away from Fred Thompson
John Edwards
You are 3% economic left
You are equally social-liberal as social-conservative
You have a substantive agreement of 71%
Hillary Clinton
You are 2% economic right
You are 5% more progressive
You have a substantive agreement of 76%
Bill Richardson
You are 2% economic left
You are 5% more progressive
You have a substantive agreement of 71%
Barack Obama
You are 8% economic left
You are 11% more traditional
You have a substantive agreement of 76%
Ron Paul
You are 52% economic left
You are 21% more progressive
You have a substantive agreement of 49%
Rudy Giuliani
You are 56% economic left
You are 40% more progressive
You have a substantive agreement of 44%
John McCain
You are 48% economic left
You are 54% more progressive
You have a substantive agreement of 44%
Mitt Romney
You are 58% economic left
You are 54% more progressive
You have a substantive agreement of 42%
Mike Huckabee
You are 53% economic left
You are 60% more progressive
You have a substantive agreement of 39%
Fred Thompson
You are 56% economic left
You are 69% more progressive
You have a substantive agreement of 35%
Agora completo:
Your position in comparison with the candidates.You have responded to 36 propositions. Based on the responses you provided, you are the closest toJohn Edwards and you are the furthest away from Fred Thompson
John Edwards
You are 3% economic left
You are equally social-liberal as social-conservative
You have a substantive agreement of 71%
Hillary Clinton
You are 2% economic right
You are 5% more progressive
You have a substantive agreement of 76%
Bill Richardson
You are 2% economic left
You are 5% more progressive
You have a substantive agreement of 71%
Barack Obama
You are 8% economic left
You are 11% more traditional
You have a substantive agreement of 76%
Ron Paul
You are 52% economic left
You are 21% more progressive
You have a substantive agreement of 49%
Rudy Giuliani
You are 56% economic left
You are 40% more progressive
You have a substantive agreement of 44%
John McCain
You are 48% economic left
You are 54% more progressive
You have a substantive agreement of 44%
Mitt Romney
You are 58% economic left
You are 54% more progressive
You have a substantive agreement of 42%
Mike Huckabee
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