Sunday, December 9, 2007

O debate continua, mas convinha avançar na identificação dos problemas

Aqui. Começa a ficar claro para mim que o principal inimigo da esquerda não é tanto o neo-liberalismo como o conservadorismo continental que estrutura a economia política de um país como a França (onde boa parte da crítica por cá se inspira), mas também a de países como a Alemanha ou a Itália, e com réplicas parciais nos países mediterrâneos, sendo Portugal um exemplo inequívoco. Por alguma razão é que foi nos três grandes países do Continente que emergiu na década de 90 o 'movimento anti-globalização', e não nos países onde vigora o modelo social-democrata, os nórdicos, que, se num primeiro momento (fim dos anos 80/início dos 90) sofreram um forte embate, recuperaram e aprender as jogar as regras da economia internacional. Por lá, ninguém perdeu muito tempo com o papão da globalização; nos 3 grandes países continentais, faz-se da globalização um monstro, mas o problema é na realidade outro: os desiquilíbrios financeiros existentes assentam em desequilíbrios sociais e laborais fortemente estruturados pelo Estado (e pelos sindicatos), com arranjos institucionais que têm uma face nada progressista na forma como protegem uns e exclui outros. Enquanto não se perceber isto, muito do discurso à esquerda contra o neo-liberalismo (e contra a globalização, em parte) vai continuar, quando os problemas têm a sua origem naquilo nas perversões estruturadas pelo Estado social e pelo mercado laboral. E enquanto não se perceber isto, as críticas vão continuar a falhar o alvo e as prioridades estratégicas vão continuar a ser erradas. Atenção: isto não é um problema de ideologia. É, sobretudo, um problema de análise empírica, de identificação do epicentro do problema. A especulação meta-política e sobre-ideológica aqui só atrapalha; precisamos das ciências sociais para identificarmos o epicentro do problema e as suas ramificações.

Por outras palavras, e de forma mais codificada e redutora, o meu diagnóstico da situação é este: problema maior do que a esquerda que procura reformar a social-democracia ter naturalizado Freedman, Hayek e co., é o problema de uma parte da (velha?) esquerda ter (sem perceber, parece-me) naturalizado Bismarck. Enquanto não exorcizar completamente este espírito, vai continuar a ver alguns fantasmas.

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