Monday, July 16, 2007

Michael Moore e a CNN

O João Caetano chamou-me a atenção - e bem - por e-mail para o "debate" em curso entre a CNN e o Michael Moore no seguimento da reportagem e da entrevista a que aludi aqui. A CNN corrige algumas estatísticas usadas por Moore, e ainda bem.
Simplesmente, a questão central do debate não é essa. A dimensão e o significado político - e se quiserem, ideológico e moral - da discussão não se resolve com hiper-preciosismos estatísticos. Este só é necessário quando as disputas são too close to call. Mas, no caso em questão, saber se os EUA estão uns lugares acima ou abaixo nas tabelas internacionais ou se, em comparação com os outros países, gasta, per capita, umas centenas de dólares a mais ou menos em saúde não é de todo o que está em causa. O excesso de zelo estatístico não resolve o problema gravíssimo de um sistema que, como já havia escrito aqui, é incapaz de proteger uma parte muito significativa da população (46,6 milhões segundo dados de 2005, ou seja, 16% da população - sem dúvida aquela que mais precisaria de cuidados de saúde), já para não falar da cobertura incipiente de muitos. Para além dos 46 milhões acima referidos, estima-se que 37 milhões estão sem seguro largos durante períodos de tempo (dado que os seguros estão tipicamente attached aos empregos, quando se perde o emprego perde-se também o seguro de saúde), já para não falar daqueles que estão underinsured, uma vez que seguro de que dispõem é altamente limitado nos serviços e medicamentos que cobre.
Podíamos estar a discutir se são, de facto, 37 milhões ou 36 milhões, ou se o número mais correcto é 16% ou 15% ou se....O problema está lá e, sobretudo, está a agudizar-se. A CNN pode ter pontual razão estatística; Moore (de quem não sou grande fã) tem razão política - e, se quiserem, moral.

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