As tendências são conhecidas mas não fica mal relembrá-las de forma mais ou menos incessante, agora que estamos em ano de eleições. Há menos de um mês, o Congressional Budget Office actualizou os dados relativo aos rendimentos familiares dos norte-americanos.
O primeiro quadro mostra a diferença existente na distribuição de rendimentos entre 1979 e 2005, e o segundo o que se passou entre o fim do primeiro mandato de G.W.Bush e o início do segundo (2003-2005). Os quadros foram retirados desta nota de Jared Bernstein, do Economic Policy Institute, que afirma que o aumento «was greater from 2003 to 2005 than over any other two-year period covered by the CBO data». Ou seja, o processo de aumento das desigualdades está longe de estar em desaceleração (depois de Clinton o ter conseguido estagnar): muito pelo contrário.
Não há argumento relativo à especialização tecnológica ou ao aumento do retorno da educação -que terão sem dúvida existido - que explique a totalidade desta evolução (estes são as justificações tradicionalmente invocadas). Foram as regras do capitalismo norte-americano que mudaram, e quem as mudou fê-lo deliberadamente para produzir uma redistribuição dos mais pobres e das classes médias para os mais ricos, que aproveitaram para ficar ainda mais ricos, e com isso viciar ainda mais as regras do jogo, isto é, as regras que decidem quem está em melhor posição para ganhar a corrida nos mais diferentes mercados. Mas é muito difícil aceitar esta ideia - que os mercados são arenas, ou seja, instituições com regras próprias e que podem ser viciados na sua construção, seja pelos actores privados em competição (as mais das vezes desigual), seja pela sua influência sobre organismos públicos que os devem definir e regular - quando se pensa a sociedade em termos estritamente individualistas, comportamentalistas e/ou moralistas. Quando um mercado está viciado para garantir que ganhem sempre os mesmos indivíduos e empresas, o seu funcionamento corrói a democracia e a política, e contribui para a reprodução de uma oligarquia. É absolutamente necessário que os mercados, essenciais numa sociedade livre, funcionem de uma forma democrática, isto é: que os seus vencedores não estejam definidos à partida; que os perdedores tenham sempre novas oportunidades ao longo da vida; e que aos que são sistematicamente perdedores sejam facultadas as condições que garantam a sua dignidade de seres humanos, primeiro, e cidadãos de uma mesma comunidade política, depois.
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