E eis que pelo correio nos chega um daqueles (pequenos) livros que valem dezenas de outros. Escrito sobre a sociedade francesa, Le Capitalisme d'Héritiers tem inúmeras reflexões que se aplicariam também à portuguesa e ao seu capitalismo, às suas relações laborais, ao seu sindicalismo e patronato, e aos bloqueios aos processos de modernização e inovação. A introdução deste pequeno livro está disponível aqui, no sítio da République des Idées, claro, a cuja excelente colecção o livro pertence. A obra do economista Thomas Philippon é uma resposta directa a um, senão o grande tema e slogan de Sarkozy na campanha das eleições presidenciais francesas de Maio: "a crise do valor trabalho". Philippon mostra que Ségolène estava globalmente correcta na análise do problema - mas também por aqui se vê como a candidata socialista não soube defender as suas ideias de forma verdadeiramente eficaz, coerente e poderosa.
Nos próximos dias talvez ande aqui um pouco à volta das reflexões de Philippon. De qualquer forma, com mais este livro, a République des Idées mostra de onde virá a verdadeira oposição intelectual a Sarkozy nos próximos anos. Oposição séria, realista, não-sectária, capaz de apoiar um projecto de esquerda de governo, que faça realmente a diferença em França. E para fazer a diferença é preciso ganhar eleições - e para ganhar eleições é preciso saber auscultar de forma muito competente o que se passa na sociedade. Se a esquerda francesa tem acumulado derrotas atrás de derrotas é porque não percebeu que muitas coisas mudaram no último quarto de século e não soube redefinir objectivos.
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