Tenho continuado a seguir este blogue, mas mais "calado".
Também tenho seguido estas discussões, e só tenho pena de não ter tempo para participar mais activamente, porque me parecem interessantes.
É bom quando este tipo de debates não descamba no insulto barato, como infelizmente é tão frequente na blogosfera.
De qualquer forma, aproveito a deixa para te colocar uma questão: tu pareces defender a política económica deste governo, mas o que pensas sobre a performance do governo em geral? O que pensas sobre a OTA? O que pensas sobre a concentração dos serviços de informação? E sobre os recentes escândalos dos processos disciplinares?
Não faço estas perguntas com intenção de criticar. Na verdade, em relação a muitas delas eu próprio não saberia responder - tenho mais dúvidas que certezas - mas gostaria de ver debatidas neste espaço, caso sintas que não saiem muito do âmbito deste blogue e tenhas paciência para isso.
Na verdade lamento que em geral o debate sobre estes assuntos seja pobre, muito dividido entre aqueles que criticam por criticar e os que defendem por defender (ou pelo seu silêncio). Por isso, cá fica a sugestão :)
"Na verdade, em relação a muitas delas eu próprio não saberia responder - tenho mais dúvidas que certezas - mas gostaria de ver debatidas neste espaço, caso sintas que não saiem muito do âmbito deste blogue e tenhas paciência para isso."
Esta é a questão-chave. Não menciono muitas coisas porque simplesmente não tenho conhecimento aprofundado e não me apetece fazer comentários generalistas, e em muitas delas tenho, como tu, até mais dúvidas que certezas. Por exemplo a OTA ou a questão dos serviços de informação: para ter alguma ideia mais fundamentada, tinha pelo menos que ler os dossiers, os relatórios, etc. Ora, isso sai bastante da minha área e, para além do mais, se há recurso que eu não tenho agora em excesso é tempo. E de qualquer forma, eu não gosto muito de contribuir para esse desporto nacional que dá pelo nome do "achismo". Percebo que muitos caiam na tentação - e isto nem chega a ser uma crítica -, mas eu prefiro evitá-lo. Gosto por isso de ficar pelos assuntos que conheço melhor - ou pelo menos minimamente - e, sobre estes, o que posso dizer é que, tendo muitas vezes informação "suplementar", o que noto é que a forma como é trata na imprensa cria visões muito parciais ou distorcidas. Atenção: nem é a questão de ser 'contra' ou a 'favor' do Governo; é a questão de as rotinas profissionais e organizacionais do jornalismo - a que podemos adicionar a qualidade e experiência dos jornalistas, que varia muitíssimo - levarem a que as notícias que saem cá para fora darem por vezes uma imagem bastante distorcida ou incompleta dos assuntos em causa. É por isso que os comentários feitos na blogosfera - e noutros sítios - quase exclusivamente a partir das notícias da imprensa, sem qualquer outra fonte, se prestam por vezes, (sobretudo quando já existe má fé por parte do comentador) ao disparate. Na área da educação, que conheço melhor, isso é "pão nosso de cada dia".
Se saimos da medidas sectoriais e entramos na estratégia económica global do Governo, sim, lês bem, estou basicamente de acordo. Não acho aliás que, neste momento, haja uma "estratégia alternativa" - à esquerda, claro, porque há sempre a hipótese da ruptura neo-liberal que nem hoje o PSD seria capaz de levar a cabo (talvez no futuro isso faça parte do seu programa, mas ainda falta um bocado para semelhante transformação ideológica). Mas podemos discutir a questão da estratégia económica mais longamente. Longamente e sobretudo pacificamente, que é, dizes bem, algo muito difícil sem que se caia no insulto fácil.
Quanto à performance do Governo. Não sei o que tens em mente nesta questão, que me parece suficientemente vasta. Acho de, qualquer forma, difícil generalizar, e é provável que haja sectores/ministérios a portar-se melhor do que outros; aqui depende muito a dificuldade maior ou menor dos dossiers em causa, e em particular a vontade negocial dos parceiros sociais envolvidos na concertação. Ao mesmo tempo, a imagem da tal performance é muitíssimo mediada pela imprensa, e a forma como muitas vezes os grupos sociais têm uma proximidade forte com os jornalistas condiciona bastante o que sai cá para fora. E o inverso também acontece: em vez de escreverem notícias, muitas vezes os jornalistas limitam-se a copiar os comunicados ministeriais. Quem controla melhor a informação acaba por conseguir marcar a agenda.
'You know, there’s this great story, of Olaf Palme going to see Ronald Reagan in America, and Olaf Palme was the great Swedish social democratic Prime Minister, leading the campaigns against poverty and inequality, and he went to see Ronald Reagan in the White House. Before he saw Ronald Reagan, Reagan turned to his advisors, and he said, ‘Isn’t this man a Communist?’ And Ronald Reagan’s advisors said, 'No, Mr President, he’s an Anti-Communist'. And Ronald Reagan said, 'I don’t care what kind of Communist he is'.But Ronald Reagan asked Olaf Palme, ‘What do you really believe? Do you believe in abolishing the rich?’ And he said, ‘No, I believe in abolishing the poor.’Gordon Brown
"What thoughtful rich people call the problem of poverty, thoughtful poor people call with equal justice a problem of riches".
Richard H. Tawney
«Governments, the economy, schools, everything in society, are not for the benefit of the privileged minorities. We can look after ourselves. It is for the benefit of the ordinary run of people, who are not particularly clever or interesting (unless, of course, we fall in love with one of them), not highly educated, not successful or destined for sucess, in fact, nothing very special. It is for the people who, throughout history, have entered history outside their neighbourhoods as individuals only in the records of their births, marriages and deaths. Any society worth living in is one designed for them, not for the rich, the clever, the exceptional, although any society worth living in must provide for our personal benefit. A world that claims that this is its purpose is not a good world, and ought not to be a lasting one».Eric Hobsbawn
«One task of politics is surely to shape social conditions and institutions so that people behave honestly, because they believe that the basic structure of their society is just»Jon Elster
4 comments:
Debate interessante.
Olá João, long time no see :)
Tenho continuado a seguir este blogue, mas mais "calado".
Também tenho seguido estas discussões, e só tenho pena de não ter tempo para participar mais activamente, porque me parecem interessantes.
É bom quando este tipo de debates não descamba no insulto barato, como infelizmente é tão frequente na blogosfera.
De qualquer forma, aproveito a deixa para te colocar uma questão: tu pareces defender a política económica deste governo, mas o que pensas sobre a performance do governo em geral? O que pensas sobre a OTA? O que pensas sobre a concentração dos serviços de informação? E sobre os recentes escândalos dos processos disciplinares?
Não faço estas perguntas com intenção de criticar. Na verdade, em relação a muitas delas eu próprio não saberia responder - tenho mais dúvidas que certezas - mas gostaria de ver debatidas neste espaço, caso sintas que não saiem muito do âmbito deste blogue e tenhas paciência para isso.
Na verdade lamento que em geral o debate sobre estes assuntos seja pobre, muito dividido entre aqueles que criticam por criticar e os que defendem por defender (ou pelo seu silêncio). Por isso, cá fica a sugestão :)
Olá João,
"Na verdade, em relação a muitas delas eu próprio não saberia responder - tenho mais dúvidas que certezas - mas gostaria de ver debatidas neste espaço, caso sintas que não saiem muito do âmbito deste blogue e tenhas paciência para isso."
Esta é a questão-chave. Não menciono muitas coisas porque simplesmente não tenho conhecimento aprofundado e não me apetece fazer comentários generalistas, e em muitas delas tenho, como tu, até mais dúvidas que certezas. Por exemplo a OTA ou a questão dos serviços de informação: para ter alguma ideia mais fundamentada, tinha pelo menos que ler os dossiers, os relatórios, etc. Ora, isso sai bastante da minha área e, para além do mais, se há recurso que eu não tenho agora em excesso é tempo. E de qualquer forma, eu não gosto muito de contribuir para esse desporto nacional que dá pelo nome do "achismo". Percebo que muitos caiam na tentação - e isto nem chega a ser uma crítica -, mas eu prefiro evitá-lo.
Gosto por isso de ficar pelos assuntos que conheço melhor - ou pelo menos minimamente - e, sobre estes, o que posso dizer é que, tendo muitas vezes informação "suplementar", o que noto é que a forma como é trata na imprensa cria visões muito parciais ou distorcidas. Atenção: nem é a questão de ser 'contra' ou a 'favor' do Governo; é a questão de as rotinas profissionais e organizacionais do jornalismo - a que podemos adicionar a qualidade e experiência dos jornalistas, que varia muitíssimo - levarem a que as notícias que saem cá para fora darem por vezes uma imagem bastante distorcida ou incompleta dos assuntos em causa. É por isso que os comentários feitos na blogosfera - e noutros sítios - quase exclusivamente a partir das notícias da imprensa, sem qualquer outra fonte, se prestam por vezes, (sobretudo quando já existe má fé por parte do comentador) ao disparate. Na área da educação, que conheço melhor, isso é "pão nosso de cada dia".
Se saimos da medidas sectoriais e entramos na estratégia económica global do Governo, sim, lês bem, estou basicamente de acordo. Não acho aliás que, neste momento, haja uma "estratégia alternativa" - à esquerda, claro, porque há sempre a hipótese da ruptura neo-liberal que nem hoje o PSD seria capaz de levar a cabo (talvez no futuro isso faça parte do seu programa, mas ainda falta um bocado para semelhante transformação ideológica). Mas podemos discutir a questão da estratégia económica mais longamente. Longamente e sobretudo pacificamente, que é, dizes bem, algo muito difícil sem que se caia no insulto fácil.
Quanto à performance do Governo. Não sei o que tens em mente nesta questão, que me parece suficientemente vasta. Acho de, qualquer forma, difícil generalizar, e é provável que haja sectores/ministérios a portar-se melhor do que outros; aqui depende muito a dificuldade maior ou menor dos dossiers em causa, e em particular a vontade negocial dos parceiros sociais envolvidos na concertação. Ao mesmo tempo, a imagem da tal performance é muitíssimo mediada pela imprensa, e a forma como muitas vezes os grupos sociais têm uma proximidade forte com os jornalistas condiciona bastante o que sai cá para fora. E o inverso também acontece: em vez de escreverem notícias, muitas vezes os jornalistas limitam-se a copiar os comunicados ministeriais. Quem controla melhor a informação acaba por conseguir marcar a agenda.
Post a Comment