Antes de ir ao post sobre o papel da educação numa estratégia de esquerda social-democrata num mundo globalizado, faço um parênteses sobre a questão do abandono escolar, que era afinal de contas o tema do meu artigo no dossiê do "Le Monde Diplomatique" do mês de Junho. Uma das razões pelas quais o abandono escolar me parece ser negligenciado não se deve apenas ao middle class bias que apontei no artigo. No caso de muitos, desconfio que vá mesmo mais fundo: é que convém não esquecer - e a boa memória é importante em política - que, por alturas dos anos 70 (ou seja, há não muito tempo), o abandono escolar era elogiado, mesmo que implicitamente, à esquerda. Abandonar a escola era, afinal de contas, resistir à "educação burguesa", era renunciar à "competição individual", era recusar a "institucionalização na ordem capitalista"; os lads filhos da working class, ao deixarem a escola, ofereciam à esquerda uma espécie de potencial vanguarda revolucionária, retomando a luta que os seus pais haviam renunciado.
A desgraça, claro, é que os lads não só não constituíram força revolucionária nenhuma contra nada (tirando, claro, as mais mediáticas formas de mobilização social destes indivíduos nos anos 80: o hooliganismo nos estádios e nas ruas das cidades inglesas), como foram os que mais fragilizados estavam perante o choque Thatcheriano do início dos anos 80. Sem qualificações e não sindicalizados, foram carne para canhão para as estratégias de desregulação do mercado laboral britânico e para os cortes nas transferências sociais. Pergunto se, entre os que incentivavam o abandono escolar dos would-be revolutionaries, alguém fez um sério mea culpa.
Não me espantaria nada que hoje ainda existisse por aí um resquício deste pensamento. É que se a escola é "capitalista", então é porque não vale muito a pena continuar nela. Daí a encolhermos os ombros perante o fenómeno do abandono escolar, vai um passo. Como diz uma canção popular inglesa: «The music has gone but the melody lingers on».
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30 comments:
A educação é sem dúvida um tema extremamente importante e que deverá ser pensada. Muito bem pensada.
A atitude portuguesa até ao momento não tem facilitado nada a resolução deste problema. A estratégia, depois de muitos anos tem sido o combate pelos números, isto é, tentou-se camuflar a realidade com medidas que retocassem a aparência dos números.
O abandono escolar é uma dura realidade, mas também é a degradação do ensino publico. Além de todos os erros não corrigidos, implementou-se uma estratégia de facilitismo até ao nono ano (é quase impossível chumbar no sistema actual uma criança até ao nono ano) e esqueceu-se a valorização da componente pedagógica.
A profissão de docente deixou de ser uma vocação para ser um mal menor.
(continuo amanhã)
Não tivesse sido o tal "facilitismo", o abandono seria ainda maior, e este é um "trade-off" complicado, naturalmente. O problema é pensar que a facilitação da reprovação vai aumentar a qualidade das aprendizagens. Isto está completamente por provar, redundando apenas numa concepção punitiva da relação pedagógica, que "facilita", de forma um pouco perversa, o trabalho dos professores, legitimando o abandono precoce e fatalista dos alunos mais fracos. A única certeza era que aumentava os alunos a serem empurrados para fora da escola - piorando o nosso já gravíssimo problema.
Existem vários países no Norte da Europa onde não há praticamente reprovações nem exames até ao fim da escolaridade obrigatória, e onde os alunos revelam aprendizagens de qualidade muito superior à nossa.
Mas do teu comentário, não percebo como é que o "não aprender" poderá melhorar o conhecimento de uma pessoa.
Além disso o contrário do "Facilitismo de passar" não é o "Facilitismo em reprovar" que durante o meu percurso escolar apenas assisti nas faculdades.
Aliás não é ao acaso que apareceu o meu post sobre os professores titulares. Para mim está tudo relacionado, e as consequências do caminho agora trilhado não levam a nada de positivo em concreto.
Além de que a comparação com o Norte da Europa não pode, ela própria, ser feita com facilitismo. São duas realidade sociais diferentes e que devem ser comparadas com muito cuidado. Nós não temos o mesmo perfil que os povos do norte da Europa pelo que nem todas as soluções que existem nesses países irão ter sucesso na nossa sociedade.
Na minha opinião a chave do sucesso de uma melhoria vai sempre passar pelo "factor humano" da equação (desculpa mas não resisti à provocação): os professores. Eles são parte do problema e parte da solução.
A realidade lectiva mudou muito nos últimos anos, e levará cerca de 10 anos para realmente se efectuar uma mudança que venha efectuar uma melhoria no nosso ensino.
Sou contra esta mudança (criação de professores titulares da forma que está a ser feita) por vários motivos. Mas um problema é o facto de não atacar o primeiro grande problema do ensino: a avaliação do trabalho dos professores, que é talvez o primeiro trabalho que deveria ser feito antes de qualquer outro. Essa avaliação deverá ser feita tendo em conta a parte pedagógica (e não a componente de gestão) dos professores.
Uma segunda mudança é a componente de gestão das escolas e a mudança do paradigma de contratação.
O director deve ser um gestor (professor) e ser avaliado por esta componente. Também devia deixar de ser um cargo politico como é actualmente e deveria ser contratado e não votado como o é actualmente (esta mudança levaria muitos anos eu sei, mas deveria ocorrer).
Finalmente (embora não a ultima) deveria existir uma forte componente de responsabilização dos professores pelos resultados da sua profissão. Isto só acontece dando todos os instrumentos ao professor para desempenhar correctamente a sua profissão. Uma mudança significativa passa por dar gabinetes a cada professor (pode ser em open space como nas empresas) e passando esta profissão a ter um horário de trabalho como qualquer outra.
O que existe agora é uma pequena anarquia. Os professores que são bons profissionais vêm se sem condições para trabalhar. Acabam por ocupar mais horas do que seria exigível normalmente. Trabalham em casa isolados. Enquanto maus profissionais dão simplesmente aulas de uma forma automática e não se preocupam mais. Como não existe um follow up hierárquico o primeiro não vê o seu trabalho reconhecido e o segundo não vê o seu trabalho criticado.
Não posso deixar de dizer que a reforma actual foi decidida com alguma leviandade. Talvez com excessivo optimismo e com um ímpeto cego de reformar. Falhou na gestão das expectativas e tornou muito difícil o sucesso da intenção desta reforma.
Eu não defendi o "não aprender". O que defendo é a melhoria das práticas de ensino e aprendizagem sem escancarar a porta da escola a quem reprovar, que é o que acontece. Isso exige reduzir os facilitismos - os de "aprender" e os de "passar" - e obrigar a melhorar a qualidade das práticas pedagógicas.
Se dei o exemplo dos países nórdicos foi para mostrar que os exames não são panaceia para nada. A carreira docente, a qualidade dos intrumentos pedagógicos, a formação dos professores, etc. são bem diferentes da nossa para melhor, e as medidas em curso procuram concretizar essa aproximação.
Já discutimos a questão do professor titular noutro contexto. Mas está enganado quando diz que não vai "atacar o primeiro grande problema do ensino: a avaliação do trabalho dos professores" nem mudar a componente "de gestão das escolas e a mudança do paradigma de contratação." nem altarar a componente da "responsabilização dos professores pelos resultados da sua profissão." Tudo isto faz parte das mudanças em vigor, todas elas vão nessa direcção. Folgo em saber que concorda com elas (tirando um ou outro pormenor, em particular a contratação do professor-gestor da escola).
Por isso estranho que afirme que a reforma actual carece de "leviandade", "excessivo optimismo", "ímpeto cego de reformar". Num sector tão difícil de fazer reformas estruturantes - e não mais uma enésima mudança de pormenor -, parece-me que as pessoas subestimam realmente a dificuldade envolvida em processos de mudança como estes, e críticas dessas parecem-me desnessariamente fáceis. Quanto às expectativas, não é infelizmente possível agradar a todos. Se fosse esse o objectivo, nunca se mudava nada. Por exemplo, eu nem discordo totalmente da proposta que faz relativa ao "open space", como nas empresas, embora me pareça de difícil concretização; independentemente disso, desafio-o a propor isso no espaço público e vai ver ao que acontece à reacção dos professores e não só (já que fala de gestão de expectativas) :).
Antes demais peço desculpa se dei a entender que defende o "não aprender". Acredito que não é o caso.
Mas falando desta mudança e enquadrando no que disse.
"críticas dessas parecem-me desnessariamente fáceis"
Infelizmente não o são. Acredito que mudanças estruturais são necessariamente muito dificeis e portanto morosas.
O primeiro erro foi este processo não estar a ser construído sobre terreno solido. Existiu algum "acordo de regime" sobre esta mudança? Isto é, existe alguma garantia que esta mudança, que levará mais do que os cinco anos de governo (que agora restam apenas 2 e meio, salvo erro) tem continuidade após as próximas eleições? Se a resposta for não então mais uma vez corre-se o risco (elevado) de ser "mais uma enésima mudança de pormenor".
Outro erro estratégico da Ministra (ou dos conselheiros da mesma) foi a forma de actuação da mesma nos últimos anos. Quando se quer implementar uma mudança como esta tem de reunir à volta dela os principais actores dessa mudança: os professores. Ora a mensagem transmitida neste período foi a de uma constante hostilização dos mesmos, o que minou desde o inicio este processo. Essa estratégia teve como objectivo conquistar a opinião publica para ganhar força para implementar a mudança, mas "esqueceram-se" que no fim são os professores e não a "opinião publica" que irão promover ou não essa mudança.
Por ultimo a escolha do primeiro passo: os professores-titulares. O primeiro passo de uma reforma tem de ser o mais perfeito possível (sem falhas) e deve dar a indicação do rumo que se vai seguir.
A escolha desta medida não transmitiu ao professores que a prioridade do governo está nos professores gestores e, pior do que isso, criou o precedente de "mudar as regras de jogo" a meio do "campeonato". Este ultimo facto transmite a ideia de que a valorização de uma carreira depende da vontade do politico e não da do próprio professor.
Darei um exemplo para ilustrar o que quero dizer:
Imagine que o seu patrão contrata consigo a atribuição de um prémio de desempenho. Utiliza o critério A para atribuição do prémio. Decorre o ano quase todo, você actuou de forma a receber o o prémio mas no ultimo mês o seu patrão vem ter consigo e diz-lhe que afinal já não é o critério A mas o B que vai ser utilizado e por isso não recebe esse prémio.
Foi isto que aconteceu.
Ou seja o primeiro passo foi em falso e consequência disso é que poderá comprometer todo o restante.
Sei que este primeiro passo tem o objectivo de chamar para o lado da "barricada" da Ministra os dirigente sindicais e os presidentes de conselho das escolas (assim como as suas estruturas directivas) de forma a agilizar a reforma. Esta classificação de professores titulares tornou isso demasiado óbvio. Esse é um erro estratégico brutal, pois esse erro irá custar ao governo o sucesso desta reforma.
Quanto aos adjectivos que utilizei, fi-lo por ainda acreditar que intenção do governo é honesta e não eleitoralista. As criticas não são de quem não quer que a mudança ocorra, pelo contrário é de que deseja profundamente que a educação seja mudada para melhor.
Quanto ao seu desafio infelizmente não tive tempo, por razões pessoais, de ir ao debate. Mas é só ter oportunidade (se me quiser criar alguma agradecia) que não existe problema nenhum em aceitar esse desafio.
As mudanças são estruturais e duvido que haja irresponsabilidade da parte de um futuro governo de outro partido em voltar atrás. Isso sim, seria eleitoralismo. Acusar as mudanças verificadas de eleitoralistas é esquecer que os professores são um eleitorado tradicionalmente próximo do Partido Socialista, e nada menos que perto de 1/5 da função pública. O mais fácil e mais popular seria deixar tudo como está.
Não percebi o exemplo que utilizou.
Quanto ao resto, já discutimos noutro contexto. Não há processos de mudança "sem falhas" e com o apoio de todos os intervenientes. Isso não pertence ao mundo da política real, quotidiana. Os processos de mudança e inovação organizacional são controversos, em particular quando os actores alvo da mudança estão (legitimamente) organizados em sindicatos. Por alguma razão nunca ninguém tinha mexido a sério neste estatuto há mais de uma década. As mudanças não precisam de ser perfeitas - nenhuma é - para melhorar uma situação que se revelava a vários níveis insustentável. Teoricamente, podia ter sido melhor, muito provavelmente. Mas foi feita a mudança possível. E o seu impacto não se vai nem se pode medir a curto prazo.
"Teoricamente, podia ter sido melhor..."
Desculpe lhe corrigir mas na pratica podia ser melhor e
"foi feita [uma] mudança possível".
Em jeito de comentário final, será que num futuro próximo também fará "um sério mea culpa"?
Estamos a comparar coisas completamente diferentes: um, um discurso ideológico-milenarista de tons irresponsáveis; o outro, um arriscado processo de mudança institucional, desenhado em negociação com parceiros sociais, e executado por representantes legitimados politicamente, e a quem será pedida da responsabilidade política pela sua acção ou inacção.
Comparemos portanto o que é comparável.
Logicamente, a responsabilidade política não está em causa. Mas só quem não arrisca, quem não muda, quem não intervém, quem não inova - e neste caso o poder político tem legitimadade para intervir - é que não comete erros.
O que considera "um arriscado processo de mudança institucional, desenhado em negociação com parceiros sociais, e executado por representantes legitimados politicamente, e a quem será pedida da responsabilidade política pela sua acção ou inacção" Não passa de um discurso inocente sobre o que está a acontecer.
Vejo os seus ultimos posts sobre a educação, vejo o preambulo da lei que já discutimos, ouço o primeiro-ministro e a ministra da educação e depois olho para o que está a ser feito em concreto (a lei, pois o resto são um conjunto de intenções) e não correspondem à mensagem. É a mesma demagogia, só que profissionalizada, e por isso mais perigosa.
Quanto a um seu comentário anteriormente sobre a questão do eleitorado (1/5 da função publica) é tentar tapar o Sol com a peneira. Este governo capitalizou ao máximo o sentimento da necessidade de reforma que existe na opinião publica. Aproveitou esse sentimento para hostilizar as diversas classes profissionais, aumentando a sua posição negocial e para fazer passar as suas leis sem grandes danos para a sua imagem.
"Mas só quem não arrisca, quem não muda, quem não intervém, quem não inova - e neste caso o poder político tem legitimadade para intervir - é que não comete erros."
Vejo aqui a futura desculpabilização sobre o que correr mal. Não é suficiente, pelo menos para mim.
Desculpe a minha posição, mas estou cansado de um país que vive para as aparências, para os números. O facilitismo de passar foi perfeito para "fingir" que a educação estava melhor, e esta lei também é optima para "fingir"que se tem uma educação melhor.
No final nada vai mudar, talvez a "cor do baton" nada mais.
E esta análise é identica em todas as reformas promovidas pelo governo. Tive muitas esperanças (ou não fosse sportinguista :-)) mas pela discussão que estamos a ter, e pelo que tenho assistido nos ultimos tempos, estão reduzidas a 1% (o que já é muito optimista).
Sei que poderá responder que isto não é a politica real ou que revelo ignorância relativo a uma negociação. Quanto ao primeiro pode ser verdade (nunca tive um cargo politico, e se a sua descrição do que é a politica "real" está correcta já não ambiciono ter) a segunda não o é. Já tive experiência de várias negociações e numa delas mais difícil do que a que o governo teve (embora com números incomparavelmente inferiores o tema era mais difícil), para poder afirmar o que afirmei sobre esta temática.
Estava ao alcance de qualquer dos intervenientes fazer melhor.
Assim não vale muito a pena: é sempre "demagogia" - mas agora "profissionalizada" -, o discurso é sempre "inocente", são sempre os "números" que interessam, a análise é sempre "desculpabilização", e os esforços são sempre a "fingir", dado que a lei não corresponde a "mensagem" (!?)...Como se a reforma fosse assim, uma coisa inventada arbitrariamente, do nada...Enfim, não vejo a pena porque estou aqui a tentar argumentar.
Com tanto cinismo da parte do leitor, é praticamente impossível discutir política.
«nunca tive um cargo politico, e se a sua descrição do que é a politica "real" está correcta já não ambiciono ter».
Claro que não quer ter, e o problema reside precisamente AQUI. Não quer ter nem quer fazer o esforço de pensar como é que a política funciona. É que, afinal de contas, se a política é tão "porca", mais vale ficar de fora a passar lições de moral e a chamar os outros de "demagogos" e tudo o mais. É bem mais fácil do que se colocar na posição de quem está no lugar da negociação e da decisão, como se a política não fosse um misto de principíos, sim, e de estratégia, também. A primeira sem a segunda é idealismo estratosférico, e a segunda sem a primeira é oportunismo rasteiro. As duas juntas dão "política inteligente e eficaz", na medida do possível e dos constrangimentos, que são muitos. Mas suponho que as pessoas prefiram ver os políticos como um bando de oportunistas demagogos e incompetentes. (a essas, garanto-lhe, eu prefiro deixá-las a falar sozinhos.)
Acho que não entendeu o que quis dizer, mas voltarei amanhã (hoje já não tenho tempo) para explicar/debater melhor.
Só uma nota: Não o quis ofender!
Stran
Não são as supostas "ofensas" que estão em causa: que me incomoda mesmo é o discurso cheio dos lugares comuns de sempre (a suposta "campanha" contra os professores (provas?), a dita política das "aparências" (como se muda a "substância"?), a desculpabilização pelo que vai correr mal (como se houvesse mudanças políticas estruturantes que sejam 100% seguras, etc., etc.)), a desconfiança cínica do costume, a ausência de percepção sobre as regras e constrangimentos do jogo político e que as medidas têm trade-offs e double-binds a que ninguém pode fugir (a não ser quem não tem responsabilidades políticas, claro), e a demagogia - essa sim - de achar que se pode criticar (por vezes legitimamente, sem dúvida) o poder político por não saber "gerir as expectativas" e causar descontentamento e, AO MESMO TEMPO, fazer ou defender propostas ainda mais radicais e que não seriam aceites por ninguém, como se não estivéssemos perante duas coisas incompatíveis!!
Esta atitude só serve a crítica moralista fácil.
Onde é que estava a ser cínico? Onde é que pode enquadrar os meus comentários nesse contexto? E porque é que passou rapidamente para o insulto (chamar-me de cínico é sem dúvida um insulto para mim)?
Posto isto quero esclarecer a minha posição.
Quando comentei pela primeira vez, fi-lo de forma a criar um debate sobre um tema que considero bastante importante e para tentar entender mais um pouco da sua posição (que é oposta da minha). Tentar entender como é que é possível se defender uma posição que vai, no meu entender contra o que defendo para este campo.
Tentei fazer da forma mais pragmática possível, apontando o que considero erros de forma a criar uma base de discussão. Como resposta apenas recebo um "pelo menos estão a mudar" como contraposição.
No ultimo post que escrevi talvez fui um pouco emotivo, talvez pela desilusão da resposta. Mas não fui cínico nem sequer quis ofender, no entanto os seus comentários em nada vieram clarificar os pontos que tinha levantado.
Posto isto gostava de comentar os seus três últimos comentários:
Comentário 1:
Existe mais alguma lei publicada no sentido desta reforma? Se existe peço o favor de me mencionar que vou ler para poder dar a minha posição. A única que tomei conhecimento foi esta e por tanto é sobre essa que decorre a minha análise.
E é fundamentada no que está escrito, nessa lei. Li o preâmbulo (não sei se o fez) e li todos os artigos.
Daí a minha afirmação que o que está a ser dito (pelos políticos responsáveis e no preâmbulo) não corresponde ao que o vem determinado nos artigos. Não é cinismo nem demagogia, é baseado no mais concreto de uma politica - a lei.
Não digo que os esforços são sempre a "fingir", nem acredito que "a reforma fosse assim, uma coisa inventada arbitrariamente, do nada..."
Comentário 2
Primeiro, não considero os políticos um bando de "oportunistas demagogos e incompetentes", nem que a politica é uma actividade "porca". Aliás a nossa discussão só acontece por valorizar tanto essa actividade.
No entanto, a minha realidade não me permite exercer politica partidária, lamento que me exclua por esse motivo de ter uma opinião válida sobre assuntos políticos. A única alternativa que me restou, para poder exercer um pouco de "actividade politica" foi emitir opiniões e tentar promover debates. Isso é o que faço no meu meio social e o que faço pelo mundo dos blogs.
Quanto à sua visão do mundo politico, pode não acreditar, mas concordo plenamente com a sua análise. Aliás, pelo o debate que já tivemos e por este pensei que se enquadrava mais no caso de "oportunismo rasteiro" (não é para ofender, mas pareceu-me que dava um peso exagerado à estratégia) e julgo que me enquadrou no campo de "idealismo estratosférico".
Comentário 3
Apontou-me lugares comuns no meu discurso, gostava de lhe esclarecer o seguinte:
- Não disse que existia ""campanha" contra os professores (provas?)", o que afirmei foi que o discurso seguido pela ministra foi no sentido de hostilizar os mesmo. Durante estes dois anos, foram várias as intervenções da Ministra nesse sentido (posso tentar encontrar na net frases para suportar esta minha ultima afirmação, o que levará o seu tempo, caso queira);
- a dita política das "aparências" passa pelo que me foi possível analisar, a lei e o discurso (em que o melhor exemplo é o preâmbulo da lei) se quiser posso-lhe demonstrar como esta lei não irá mudar, pelo menos para já nada do que é pretendido na reforma;
- "a desculpabilização pelo que vai correr mal", isto foi derivado da sua justificação;
- Quanto demagogia gostava de saber quais medidas radicais eu defendi e em que medida são incompatíveis.
Para tomar conhecimento do que está ser feito, pode (e deve, se quiser, legitimamente e com conhecimento de causa, criticar) passar algum tempo tempo em:
http://www.min-edu.pt/
Desculpe lá este primeiro (pequeno) àparte, mas falou que muito do que disse era pura demagogia mas o que é que acha da seguinte frase:
"Este concurso permitirá dotar as escolas, a partir do início do próximo ano lectivo, de um corpo de docentes com mais experiência, mais formação e mais autoridade que assegurarão em permanência as funções de enquadramento, coordenação e supervisão."
É o objectivo da lei. O que está errado aí?
Como é que este concurso vai dotar as escolas já a partir de Setembro de um corpo de docente com mais experiência e mais formação?
[relativo ao que tinha conhecimento mais profundo - o concurso de professores titulares, já dei a minha opinião, quanto ao trabalho deste ministério - outra legislação - como deve perceber vou demorar mais tempo a criticar]
Porque em Setembro, em função dos resultados do primeiro concurso para professor-titular que se realizou no mês passado, já estarão atribuídas as primeiras vagas da nova categoria...
Então explica-me como é que a passagem de professor para professor-titular dá a essa pessoa mais formação e mais experiência?
É que de hoje até Setembro não vai acontecer nenhuma acção de formação especifica para professores-titulares (pelo menos que eu tenha conhecimento). A única mudança que irá ocorrer de hoje até Setembro é o acrescentar de uma palavra numa categoria. Ou vai existir alguma coisa nestes próximos dois meses que irá dar mais experiência e formação a estes professores em especifico?
Já agora, qual foi a lei que mudou o estatuto de carreira de professor?
Stran, desculpe, mas acho que está a fazer alguma confusão. Ninguém vai ser "formado". As pessoas que passarem à categoria de professor-titular já têm essa experiência; o concurso serve para certificá-la e atribuir-lhes, em conformidade, maiores responsabilidades.
A lei que mudou o estatuto da carreira docente pode ser encontrado aqui:
http://www.min-edu.pt/np3content/?newsId=391&fileName=decretolei_15_2007.pdf
Pelas ideias tão fortes e pelos julgamentos tão sumários que fez (não apenas do DL que afinal não conhece, mas de toda a actuação de um Ministério!), pensei que o conhecesse.
O Dec-Lei que conheço e no qual comentei foi o do concurso, conheço também o anterior (não tão profundamente como o DL que analisei) e também o conceito de professor titular.
As minhas ideias são fortes, os julgamentos não são sumários. E o meu julgamento foi de todo um ministério relativo a um DL, pois julgo que o bom e o mau trabalho é de um todo e que é representado em ultima instância na Ministra.
Para mim isto é uma incoerência:
"Ninguém vai ser "formado". As pessoas que passarem à categoria de professor-titular já têm essa experiência;"
"Este concurso permitirá dotar as escolas, a partir do início do próximo ano lectivo, de um corpo de docentes com mais experiência, mais formação e mais autoridade..."
[quero também agradecer a informação disponibilizada, irei ler com atenção]
"Incoerência" porquê? O objectivo da lei é de estruturar a carreira em duas categorias. Aceitando isto, é preciso saber como se faz, e como se faz rápido. Dado que não há tempo para "formar dirigentes", a decisão natural é seleccionar as pessoas a partir da experiência recente no desempenho de cargos de gestão e coordenação dentro da escola, e que por isso são tidas como capazes de (continuar a) exercer este tipo de cargos.
Só um aparte: julgar um Ministério a partir de um DL, ignorando - por conveniência ou esquecimento - tudo o resto que está a ser feito (e não são poucas as áreas de intervenção) não me parece nada justo, mas é seguramente o mais fácil para reforçar as pré-noções. Os seus julgamentos não são "sumários"? Quem o leu, aqui e no outro lado, sobre o que o DL do concurso era ou representava, não diria o mesmo...
"julgar um Ministério a partir de um DL" e sobre um DL (é preciso reforçar esta parte). Que foi o que fiz no outro caso. É uma critica especifica num momento especifico, é preciso ter essa noção. Não avaliei os dois anos de mandato por um infeliz DL.
E não ignorei - por conveniência ou esquecimento - o que de resto se tem feito. Se estou a analisar um DL, estou a analisar também, como deve compreender o trabalho de um Ministério nesse ponto, no DL (como não tenho nomes especifico e como julgo ser injusto culpar simplesmente a ministra neste caso concreto, aliás que seria mais apanágio de uma "crítica moralista fácil", julguei a entididade que o preparou)
Sobre as questões colaterais a essa analise apenas critiquei aquilo que me foi visível, tanto que não me viu criticar o DL da mudança do ECD, pois não o faria sem ler antes.
Lamento que tenha em tão má conta pois a ideia é ser diferente do criticar por criticar. Prefiro criticar o que realmente considero mau, e até este DL (bem talvez um pouco antes) defendi o bom trabalho deste governo. No entanto o DL e a atitude reflectida neste processo fez me mudar de opinião.
Daí se calhar dar tanta relevância a esta tema, pois em vez de generalizar quis ser muito especifico na critica (sei que num dos meus comentários, o mais infeliz de todos, não o fiz).
Espero que não me leve a mal a pergunta que vou fazer a seguir:
Quer mesmo debater sobre a educação e sobre as suas componentes (DL, medidas, politicas, etc...) ou quer apenas demonstrar que tudo o que digo é demagogia, que estou simplesmente a fazer "crítica moralista fácil"?
Eu estou aqui para debater. A escolha é sua se quer escolher o caminho da demagogia ou se quer discutir sem seguir a via da denúncia fácil.
Mais do que uma vez reconheci que há posições de partida que sustentam visões divergentes e críticas totalmente legítimas, e não tenho problema em voltar a fazê-lo. As coisas só ficam mais difíceis quando os ataques não têm sustentação empírica ou política, ou quando parecem ter um objectivo meramente desqualificador, quase sempre sem qualquer justificação.
Não meu caro amigo-opositor, a escolha é nossa, minha e sua.
"As coisas só ficam mais difíceis quando os ataques não têm sustentação empírica ou política"
A maioria dos meus "ataques" são sustentadas, embora tenhamos visões diferentes.
Agora relativo ao DL do ECD, como deve compreender ainda não tive tempo de o ler profundamente (mais de 40 paginas e pouco tempo disponível para ler), pelo que a minha análise não poderá ser profunda (como foi feita para o DL do concurso).
Da minha leitura superficial, parce-me bastante interessante, embora um pouco maçudo (mas esse é o estilo português). No entanto gostava de lhe questionar o seguinte. Dado a leitura deste DL do ECD, fico sem entender a necessidade de urgência de um concurso de professor-titular, pelo menos nos moldes que este foi feito, poderia-me esclarecer? (só lhe peço um favor)
Esqueça a parte de (só peço um favor) que foi engano
Está explicado/justificado no prêambulo.
Desculpe só agora responder mas não me foi possível responder antes.
Já li o preambulo e reforçou a minha duvida, pois o que pareceu ser uma análise correcta, depois acabou por não se concretizar.
Entretanto abri no meu blogue um periodo em que vou escrever sobre a Educação tenho feito o convite aberto às pessoas para participar e deixo aqui também para si (embora não partilhemos opiniões sobre este assunto acredito que é de um discussão plural que efectivamente se pode chegar a um melhor entendimento do assunto em discussão).
Os meus melhores cumprimentos,
Stran
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