Porque o governo de François Fillon vai ocupar todo o espaço político eleitoralmente relevante, dado que se prepara para tomar uma série de medidas bastante ao centro, tocando mesmo o centro-esquerda (ver excerto da notícia do "Público on-line"). E vai deixar o Partido Socialista Francês sem espaço para respirar, vendo o centro-direita tomar medidas que devia ser ele a adoptar, se estivesse no poder. Pela enésima vez desde 1958.
No mesmo espírito de reforma, Fillon anunciou um aumento das dotações para as universidades – que classificou como a sua "prioridade absoluta" –, elevando para cinco mil milhões de euros o investimento no ensino superior até 2012. "Queremos reformar a universidade francesa e fazer das nossas escolas pólos de excelência, dispondo de real autonomia, financeiramente responsáveis e pedagogicamente melhoradas", afirmou, dizendo esperar que nos próximos anos seja possível que 50 por cento dos jovens franceses obtenham um diploma do superior. O Governo pretende também aumentar o investimento na investigação para três por cento do PIB – nível considerado desejável pela UE. "Não serei dos que sacrificam a investigação essencial sob pretexto de que ela é improdutiva a curto prazo", justificou, lembrando que França tem vindo a perder terreno nesta área para outros países europeus. A construção de 120 mil habitações sociais por ano, a aposta na formação profissional e um plano para os bairros considerados difíceis foram outras das promessas feitas pelo novo primeiro-ministro na intervenção no Parlamento, durante o qual confirmou que o Governo irá aplicar o princípio da admissão de um único funcionário por cada dois que se reformem.
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4 comments:
Bom, esse primeiro discurso do primeiro-ministro ao parlamento é um ritual onde muito se promete o que nem sempre é feito. Seria interessante - mas é capaz alguem ter feito esse exercicio - reler os discursos dos antigos primeiros-ministros e ver o que os governos fizeram.
Mas se é verdade que o governo faz aquilo que diz, vai ser dificil a esquerda voltar ao governo mesmo se acredito que os eleitores não votam segundo as reformas da universidade ou acções do género. O que me parece mais perigoso para o PSF é que o sistema que o Sarkozy constroi é em parte feito para não cair no autismo no qual acabam muitos governos (de direita ou de esquerda), autismos muitas vezes sinonimos de rotundas derrotas electorais. Os ministros de esquerda, a comissão das finanças da assembleia ao PSF, a demissão de Juppé à primeira derrota eleitoral e outros factores são sinais desse medo de isolar-se no que antigamente se chamava o "Chateau" e que agora é chamado o "immeuble".
Olá Victor, tens razão, discursos são discursos, vamos ver qual a sua tradução em medidas. De qualquer forma, eles anunciam um objectivo de intervir em terrenos que seriam prioritária e privilegiadamente de (centro-)esquerda. E no resto também tens razão, a estratégia global por parte de Sakkozy é de "recupérer" uma série de elementos/questões/instituições que se poderiam virar contra ele mais cedo ou mais tarde. Se ele conseguir este pleno "trans-ideológico", não estou a ver como o PSF se safa. Mas pode ter um lado bom: obrigar o PSF a mudar, um bocado à força, e repensar seriamente que estratégia seguir no futuro, como em Inglaterra o Labour foi obrigado depois de Thatcher - não que o PSF tenha necessariamente para copiar a Terceira Via, mas parece-me imperioso ganhar uma visão mais realista da actualidade das instituições, do eleitorado e dos desafios futuros da França.
Isso é optimismo. O PSF não mudou depois de 2002. Por certo, pensaram que não podiam perder em 2007, depois de 5 anos de Chirac. Mas a inércia parece uma coisa muito dificil de ultrapassar nesse partido. E isso parece-me ser a questão central para a esquerda (de governo) em França.
Talvez seja optimismo. É pelo menos a constatação de que o partido se encontra numa encruzilhada, e que precisa de encontrar uma solução sustentável, sob pena de passar por uma enorme travessia do deserto e ver a sua sobrevivência, enquanto 'natural' partido-candidato-a-Governo, em perigo. Espero que as elites socialistas se apercebam do que está em jogo e procedam às rupturas necessárias. Mas concordo contigo, nada garante que isto suceda, pelo menos a curto prazo.
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