Friday, May 18, 2007

Analisar os números do desemprego numa perspectiva comparada, se faz favor

Os números do desemprego vindos hoje a público reforçam ainda mais a importância e urgência da minha mensagem da posta anterior. Estamos perante uma situação em que a retoma no crescimento não se traduz numa retoma no emprego. Em contexto de aperto orçamental, não há grande margem de manobra para políticas de fundo. Mas mais importantes que as políticas no momento dado, são as instituições que as suportam. Convém não esquecer que a explosão do desemprego desde 2001 em Portugal não faz mais do que alinhar, ou melhor, aproximar Portugal com os números do desemprego dos países mediterrânicos, em particular Espanha, Itália e Grécia, e, claro, alguns países continentais. Ou seja, Portugal estava "mal habituado" a ter taxas de desemprego próximas do nível dos páises nórdicos, com uma diferença: o equilíbrio destes assenta em instituições e níveis de qualificações e salariais muito diferentes dos nossos. O que acontece é que simplesmente o nosso low skill equilibrium deixou de sustentar o crescimento e o baixo desemprego que tivemos, grosso modo, durante o mandato de António Guterres. Esse modelo de crescimento estava, numa Europa em alargamento e num mundo em globalização, obviamente, condenado a morrer. Não era sustentável, porque os eslovacos, checos e companhia são bem mais qualificados e cobram bem menos que os nossos trabalhadores - para não falar em deslocalizações para fora da Europa. Portanto, se olharmos para o panorama geral numa perspectiva comparada, eu pergunto como é que não atingimos estes números de desemprego mais cedo, e até onde eles podem subir - porque podem subir mais, como subiram na Espanha dos anos 80 e 90 até ultrapassar os 20%, sem nunca voltar a baixar dos 10%. Até há uns anos atrás, Portugal tinha sido uma excepção, mas uma excepção pelos motivos errados - por podermos fazer de segundo-mundo interno à UE. Agora os países de Leste substituíram-nos nesse papel. A herança comunista deixou-lhes forças de trabalho altamente qualificadas e desigualdades baixas. A nossa herança salazarista deixou-nos uma força de trabalho com baixas qualificações e uma sociedade altamente desigual: coisa que 30 anos de democracia não conseguiram alterar de forma profunda.

Os próximos anos não vão ser fáceis e, se não estou enganado, as dinâmicas macroeconómicas vão pressionar uma mudança interna no PSD em direcção a um programa neo-liberal. Nas próximas eleições, vão-nos prometer querer transformar Portugal na "Irlanda do Mediterrâneo" ou coisa do género. Não acho que, eleitoralmente, tenham muita sorte. Mas a questão, para o país, não é essa. É o que o PS pode e deve fazer enquanto estiver no poder - independentemente do que o PSD defender.

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