Saturday, November 17, 2007

A improbabilidade da comunicação

"Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no facto de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente?"
Michel Foucault

A resposta é óbvia: a comunicação gera entropia. Quanto mais "comunicamos", maior a probabilidade de não nos entendermos, de sermos mal intepretados, de entrarmos no infinito círculo "não era bem isso que eu queria dizer".

Mas é esse o prazer da comunicação: jogar no espaço cinzento da indefinição ontológica do sentido, não apenas para o receptor, mas, e quiçá principalmente - algo tantas vezes esquecido ou subvalorizado -, para o emissor. «Às vezes compreendemos algo / entre a sombra e a sombra», escreve António Ramos Rosa. E muitas vezes a sombra é tanta que não compreendemos coisa nenhuma.

Os prazeres, claro, comportam riscos. Para quem escreve e para quem lê. Mas esse double bind faz parte das regras do jogo. Ou antes: é esse double bind que faz o jogo.

Por isso é que a blogosfera não devia ser tanto visto como um espaço de "comunicação" ou de "expressão". If anything, é um fantástico dispositivo de produção de entropia, uma máquina de fabricação de mal-entendidos. Mas só é enganado quem se deixa sê-lo.

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